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sexta-feira, 29 março, 2024

Luiz Wagner Chieppe

“Nós temos que trabalhar em busca da multimodalidade, pois esse é o futuro”

Luiz Wagner Chieppe é um executivo incomum. Apesar da agenda lotada, o que não é nada incomum para alguém que exerce tantas funções como ele – é diretor de Relações Corporativas do Grupo Águia Branca, preside pela segunda vez a Federação das Empresas de Transportes do ES (Fetransportes) e exerce a vice-presidência do Movimento Empresarial ES em Ação -, não manifesta nenhum sinal de estresse ou cansaço durante a conversa com os jornalistas da ES Brasil, ocorrida na sede da Federação no início de mais uma noite quente do verão capixaba e após um dia cheio de compromissos, que começa às 5h da manhã, exercitando-se na sua academia preferida.

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O cuidado com a saúde, aliás, é visível na boa aparência e na tranqüilidade que Luiz Wagner demonstra durante toda a entrevista. Responde com segurança às perguntas e deixa transparecer o entusiasmo e a energia de quem faz o que gosta. Enfim, um empreendedor cheio de idéias para desenvolver seu Estado natal e um gestor competente, como comprovam o seu currículo profissional e suas realizações. A seguir, a íntegra dessa conversa.

Qual sua avaliação quanto à situação atual da logística no Espírito Santo? Como o Estado pode manter sua competitividade nessa área?
Hoje nós estamos pagando uma conta no Espírito Santo por causa de dois problemas: primeiro, nada aconteceu nos últimos 15 a 20 anos. A rigor, nós tivemos construção de rodovias aqui na década de 70. De lá para cá, de aeroporto não tivemos nada, de porto também não – nada andou, com exceção do que foi privatizado ou concedido. O ES paga uma conta muito cara, porque toda a sua infraestrutura depende do Governo. Isso, para mim, é um erro institucional: o Estado ficar dependendo de investimento federal. E olha que já foi pior! A situação que temos hoje ainda é para se agradecer, porque temos um Governo que se entende com o Estado, que se entende com os municípios. Quando foi que tivemos isso aqui? Os três entes falando a mesma língua? E você vê que mesmo com tudo conspirando a favor, a coisa não anda.

Mas eu estou otimista em relação a 2010. Eu acho que não só aqui, mas no Brasil todo, obstruções importantes foram desfeitas e uma consciência foi criada na questão da mobilidade, que entrou na agenda nacional. Não é mais discurso; é convicção do que tem que ser feito, nas rodovias, ferrovias, aeroportos. De resto, no ES houve um esforço muito intenso para que pudéssemos criar o ambiente e as condições propícias para este ano, e nesse contexto o que destaco como importante é o Plano Estratégico de Logística, que foi um grande avanço em termos de planejamento e de visão futura, porque define investimentos e joga luz sobre os pontos mais importantes.

Acredita que as próximas eleições podem afetar o desenvolvimento das ações planejadas?
No nosso Estado, mesmo com a questão eleitoral este ano, acredito que os esforços para sobrepujar os problemas da logística terão continuidade, seja quem for o eleito, assim como o planejamento, que já entrou na cultura gerencial. Então, acho que qualquer um que assuma o governo não mais prescindirá disso. E outra coisa importante também: nós temos uma bancada federal pequena, mas à medida que ela vai pegando mais experiência, mais traquejo, sua atuação fica ainda melhor. A bancada tem um peso importante nisso. Nós temos aqui no Espírito Santo um entrosamento muito positivo com esses políticos, que hoje formam uma bancada toda voltada, realmente, para o desenvolvimento local. Nós temos tratado essas questões de infraestrutura em conjunto com a bancada, e esse trabalho que se faz aqui entre os poderes e a classe empresarial, com todos direcionando esforços no mesmo sentido, é uma conquista capixaba, não tem em outros estados, não.

Como analisa o futuro da atividade logística no Estado?
Nós temos que trabalhar em busca da multimodalidade, pois esse é o futuro. Temos que ter todos os modais integrados. Agora, não resta dúvida de que o porto é uma porta de entrada e saída que puxa o resto. Se você amplia a área portuária em Aracruz, você tem que ter a ferrovia atendendo, tem que ter as rodovias, tem que ter infraestrutura. Por isso é que o Peltes é interessante, porque ele tem que apontar as soluções. Na área estadual, o governo está andando bem. Fez o PDR, que é o Plano de Desenvolvimento Rodoviário, que mapeou todas as necessidades, como deverão ser as obras, e produziu um material bem amplo. O Estado está todo planejado nesse ponto e o DER está cuidando disso. Então, na área estadual nós estamos muito bem em termos de estradas, tanto em projetos quanto em execução, já.

Outra questão importante, que é a dragagem do porto, é que a licitação já está saindo e creio que teremos essa obra iniciada já este ano. Agilizar isso é importante, porque assim se otimiza o porto, cuja capacidade instalada pode ser mais explorada, para possibilitar uma travessia de uns cinco a sete anos, até que se tenha a solução definitiva para o porto de águas profundas. No Peltes estão indicados como possibilidades, do sul para o norte, os municípios de Ubu, Praia Mole e Barra do Riacho. São três opções que temos, o que já é um aspecto positivo a ser destacado. Um desses três portos irá acontecer, com toda a certeza.

A crise econômico-financeira mundial ainda é um fantasma à espreita. O senhor acredita que os investimentos anunciados serão mantidos?
Não temos projeções de números nem investimentos para este ano, porque essas iniciativas ficam na dependência da esfera federal. Mas os investimentos privados vão sair – Jurong, porto de águas profundas e outros. Isso é certo. Agora, não resta dúvida de que a dependência que nós ainda temos do Governo Federal é um fardo pesado que temos que carregar, por mais que hoje haja diálogo e até entrosamento com as instâncias federais. Por exemplo, nós nunca tivemos um DNIT tão presente, tão entrosado com a sociedade. A Infraero também. A Codesa é outra, que já há algum tempo tem estreitado a proximidade conosco. Antes, eram entes totalmente desconectados daqui. Eles tinham contato com Brasília, e ponto final.

Quanto às rodovias, onde devem se concentrar os investimentos?
Nossos dois grandes gargalos são a BR 101 e a 262. A 262 tem que ser alargada e melhorada, para eliminação de alguns pontos críticos. Isso aí tem um projeto, que está em licitação, mas está um pouco devagar. Quanto à BR 101, é importante dar andamento à questão da concessão para que ela seja duplicada, porque se esperarmos pelo Governo Federal podemos aguardar, quem sabe, mais dez anos, e perderemos importantes investimentos, já que é inviável para o desenvolvimento local que a situação permaneça como está. A questão central é a concessão, até para entrarmos nesse programa que a ANTT está anunciando, de soltar novas licitações em junho. Nós não podemos perder esse bonde porque, uma vez resolvido o problema com o Ministério Público Federal, há vários interessados em investir na duplicação, inclusive grupos estrangeiros.

Por que a concessão da BR 101 é tão importante?
A BR 101 tem importância fundamental para o Estado porque, bem estruturada, ela vai levar o desenvolvimento para o interior e os extremos do Espírito Santo. Linhares, por exemplo, tem potencial para se tornar a Campinas do Espírito Santo. Com a duplicação da BR 101, você viabiliza uma série de investimentos que o sul do Estado também precisa. Enfim, ela possibilita a descentralização do desenvolvimento em torno da Grande Vitória.

E mais: ela é um grande indutor para o turismo rodoviário do Brasil – um dos maiores geradores de emprego. Claro, preservando a questão ambiental. Isso é uma demanda reprimida que nós não conseguimos medir. Nós só podemos medir os carros que estão trafegando, mas não temos como saber quantos estão deixando de fazê-lo pelas péssimas condições rodoviárias.

Fora isso, vai melhorar radicalmente a velocidade econômica necessária. A velocidade que você leva para atravessar o Estado por rodovia impacta fortemente não só nos custos do transporte, mas na emissão de poluentes no ar, pela queima exagerada de combustível. A velocidade média ideal é de 65 a 70km, que hoje nós não alcançamos.

Você não está privilegiando o modal rodoviário?
Não é isso. O Estado precisa de portos, rodovias, ferrovias e aeroporto. Mas não se pode achar que vamos resolver tudo sem mexer com as rodovias. É impossível, porque é este modal que faz a ligação entre todos os outros. Por exemplo, uma alternativa para melhorar essa velocidade média ideal é a navegação de cabotagem (costeira), que desafogaria um pouco a BR. Mas tanto a cabotagem como a ferrovia precisam de uma distância mínima para se tornarem viáveis economicamente, porque o custo de implantação é muito alto. Não se resolve percursos de 200 km com esses modais. Então, o transporte rodoviário tende a diminuir um pouco o seu percentual de participação na matriz geral de transportes, que hoje é em torno de 63%, à medida que os outros avançam, mas não vai diminuir a sua importância, porque ele vai continuar aumentando em volume, em números absolutos, uma vez que é ele que faz toda a capilarização, é ele que complementa os demais, fazendo a interligação pontual, seja para o aéreo, o marítimo ou o trem.

Como analisa a situação do aeroporto?
Quando se olha para a questão aeroportuária, é preciso afastar os entraves urgentemente, e parece que agora as coisas vão começar a andar, pelo menos a ampliação do que já existe – a área de embarque e desembarque, dobrar o estacionamento e aumentar o estacionamento de aeronaves, que não tem. Vitória hoje deixa de receber vôos porque não pode ficar avião aqui à noite, por falta de espaço adequado. Então, isso também está na pauta para ser resolvido nos próximos meses. A informação que eu tenho é que a estação de passageiros está sendo remodelada para já atender a uma outra necessidade, já que no ano passado o aeroporto aqui fechou com um crescimento de quase 20% na movimentação. Quanto à construção da pista e tudo o mais, a questão com o consórcio já destravou e começam agora a surgir soluções, como a participação do Exército nas obras. Claro que temos que exercer uma pressão grande para que se aumente a velocidade disso.

 

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