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quinta-feira, 24 DE abril DE 2025

Investimentos em infraestrutura projetam melhorias logísticas no ES

Intervenções na infraestrutura rodoferroviária prometem melhorar o escoamento de cargas no estado, mas desafios ainda persistem

Por Ludmila Azevedo

O Brasil é um país de dimensões continentais, característica que faz com que as operações de importação, exportação e distribuição de produtos sejam desafiadoras no nosso território. Apesar de termos uma grande estrutura portuária reconhecida em todo o mundo, o transporte de cargas pode ser lento e custoso por causa da baixa participação das ferrovias nesse processo.

Segundo informações apuradas pelo Conselho Temático de Infraestrutura e Energia da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Coinfra/Findes), apenas 10% das cargas gerais, como contêineres e granel líquido, são transportados por ferrovias, e a tendência é de queda. O setor é dominado pelo transporte de minério de ferro e soja, enquanto as cargas gerais são escoadas, majoritariamente, pelas rodovias.

Para mudar essa situação, o Ministério de Transportes anunciou investimento em novos projetos, estabelecendo uma meta de aumentar o transporte de carga pelo modal ferroviário de 17,69% para 34,62% até 2035.

“Para dobrar o número de trilhos até 2035, o Brasil tem investido em projetos ferroviários, que reduzem os custos logísticos e, ainda por cima, colaboram com a descarbonização. Ou seja, esse é um transporte mais sustentável, que reduz as emissões de gases nocivos para a atmosfera”, afirmou o secretário nacional de Transportes Ferroviários, Leonardo Ribeiro.

Alguns desses novos investimentos prometem transformar a logística capixaba, beneficiando o desenvolvimento econômico do estado e aumentando o volume transportado em todo o país. Hoje, o Espírito Santo está conectado à malha ferroviária apenas pela Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) e um trecho da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), cuja competitividade é menor do que as rotas ferroviárias que levam a Santos (SP). Isso significa que o Espírito Santo perde oportunidades de movimentação de carga porque os custos de transporte pelo porto de Santos são mais baratos, justamente pelo maior desenvolvimento da malha ferroviária da região.

O secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, estima que Brasil vai dobrar quantidade de trilhos existentes até 2035 - Foto: Divulgação/VLI
O secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, estima que Brasil vai dobrar quantidade de trilhos existentes até 2035 – Foto: Divulgação/VLI

O secretário nacional de Transporte Ferroviário esteve em Vitória em março, durante o Seminário Infraestrutura e Logística, onde informou que há interesse da MRS Logística em investir na construção da Ferrovia EF-118, que ligará o Espírito Santo ao Rio de Janeiro.

“A ferrovia, que aguarda aval do Tribunal de Contas da União (TCU), será implementada pelo modelo ‘greenfield’, ou seja, construído do zero, sem infraestrutura pré-existente.

Caso aprovado, o leilão deve ocorrer no primeiro trimestre de 2026. O projeto faz parte de um anel ferroviário do Sudeste, conectando Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, a Presidente Kennedy e Anchieta, no Espírito Santo, onde também haverá um novo ramal ferroviário construído pela Vale. Serão 500 km de ferrovia, impulsionando o desenvolvimento do país de maneira sustentável”, afirmou Leonardo Ribeiro.

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A repactuação das concessões ferroviárias da Vale foi firmada com o Ministério dos Transportes e a ANTT em dezembro de 2024. O acordo prevê um pagamento inicial de R$ 4 bilhões à União e investimentos de até R$ 11 bilhões, garantindo R$ 6 bilhões para a construção do ramal Anchieta.

“A EF-118, principalmente na integração com o ramal Anchieta-Presidente Kennedy, e a renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), são extremamente importantes para a infraestrutura do estado. Esperamos que os prazos para a continuidade dos projetos sejam cumpridos com rapidez, assim como a revisão do modelo de concessão para essas ferrovias”, acrescentou o vice-governador do Espírito Santo, Ricardo Ferraço.

O fundador e membro do conselho do Porto Central, Fabrício Cardoso, reiterou a relevância da EF-118 e falou sobre o projeto da empresa, que visa à construção da ferrovia ES-352.

“O objetivo é ligar o Porto Central a Minas Gerais e Goiás, com potencial de expansão até Mato Grosso, aumentando o potencial de escoamento de matérias-primas, como grãos e minérios, integrando nosso porto ao interior do país”.

Trecho da BR-101 que abrange Viana, Vila Velha e Guarapari já está duplicado; projeto prevê intervenção em 221,41 km no estado - Foto: Divulgação/Governo Federal
Trecho da BR-101 que abrange Viana, Vila Velha e Guarapari já está duplicado; projeto prevê intervenção em 221,41 km no estado – Foto: Divulgação/Governo Federal

Projeto da Petrocity prevê 2.160 km de trilhos até 2032

Outro projeto grandioso é o da Petrocity Ferrovias (PCF), que obteve a Declaração de Utilidade Pública para a construção das ferrovias EF-030 e EF-355. As estradas de ferro vão ligar o Espírito Santo ao centro-oeste e ao norte do Brasil. O presidente do Grupo Petrocity, José Roberto Barbosa, destacou que o projeto prevê 2.160 km de trilhos até 2032, com 11 portos secos ao longo do traçado.

“É o maior projeto ferroviário que temos hoje no país. A EF-030 será construída entre Barra de São Francisco e Brasília, e EF-355, entre Brasília e Maria Rosa (GO), onde se integrará ao grid ferroviário nacional por meio da Ferrovia Norte-Sul (Itaqui-MA a Santos-SP). Para termos uma ideia da mudança que essa iniciativa vai proporcionar, temos cargas que saem de Teófilo Otoni, em Minas, até Açailândia, no Pará, percorrendo 2 mil km de caminhão.

Com as nossas ferrovias, esse motorista vai percorrer 170 km até Barra de São Francisco, e a carga será escoada por trem”, exemplificou o presidente.

No momento, o projeto está em fase de desapropriação e licenciamento para instalação.

Investimentos em infraestrutura projetam melhorias logísticas no ESAvanços e gargalos na infraestrutura das rodovias

Por enquanto, as rodovias seguem como principal meio de escoamento de cargas no Brasil e no Espírito Santo. A curto prazo, as autoridades reforçam a importância da modernização das rodovias estaduais e das rodovias federais que passam pelo estado.

“É inconcebível o Espírito Santo ter uma BR-262 que não é duplicada. O governo federal ao longo das últimas décadas subestimou a participação do nosso estado para a logística e para o desenvolvimento do Brasil, faltou investimento. A BR-101 só foi sair do papel há pouco tempo, a duplicação demorou muito para começar”, comentou o diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira. “Isso sem falar na BR-259, que conecta a região leste de Minas Gerais ao Espírito Santo, passando por Colatina. Se essa via fosse duplicada, expandiria ainda mais os horizontes das atividades portuárias aqui no estado”.

Atualmente, estão previstos 221,41 km de duplicação da BR-101 no Espírito Santo, com obras iniciadas em 2024. “A solução ora proposta não resolve todas as necessidades de melhoria da BR 101 no estado, mas se apresenta como uma solução possível, que trará ganhos de redução de acidentes, diminuição de tempo de trânsito e, por fim, redução de custos no transporte de passageiros e cargas que cruzam o Espírito Santo de norte a sul”, disseram os especialistas do Coinfra em Informe Estratégico emitido pela Findes no final do ano passado.

O diretor da Imetame, Anderson Carvalho, chamou a atenção para a ES-257, entre Ibiraçu e Aracruz, com duplicação do contorno já licitada pelo governo do estado. “O estado já licitou o contorno sul de Aracruz e já está licitada a duplicação do contorno norte do município. Com as obras, a carga que será movimentada não precisa passar por dentro da cidade, evitando o trânsito congestionado”, apontou.

Os especialistas concordam que os investimentos contínuos em infraestrutura estão se multiplicando e são essenciais para que o Espírito Santo se consolide como um polo logístico estratégico, garantindo maior competitividade e eficiência no transporte de cargas e fortalecendo a economia nacional.

*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 226, especial de Portos, que circula em abril de 2025.

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