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sexta-feira, 3 maio, 2024

Aço brasileiro e o canto da sereia!

Aço brasileiro e o canto da sereia!
A Usiminas teve um lucro líquido de R$ 2,1 bilhões com a produção de aço em 2022. Foto: Divulgação

Por José Ernesto Conti

Tivemos no início desta semana o Congresso AÇOBRASIL 2023 e a tônica do congresso foi o volume de aço importado durante 2023 que já bateu a casa dos 3,2 milhões. A choradeira das siderúrgicas nacionais foi absurda, passando desde ameaças de demissões em massa, aumento em 25% da alíquota de importação (que hoje está na faixa de 10%) até o fechamento de plantas, foram ouvidas no Congresso AÇOBRASIL.

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Sabemos que o aço é uma das comodities bases de qualquer mercado. Qualquer aumento nesse item, influencia a grande cadeia produtiva, produzindo aumentos em cascata, influenciando, assim como os combustíveis, variações significativas na inflação futura.
A capacidade das usinas siderúrgicas brasileiras está em torno de 34 milhões de toneladas/ano produzindo uma receita de R$ 209 bilhões e uma arrecadação de R$ 35 bilhões em impostos.

As maiores siderúrgicas brasileiras tiveram durante o ano de 2022, lucros razoáveis, por exemplo, a GERDAU teve um lucro (EBITDA) de R$ 21,5 bilhões. Já a Arcelor Mittal Brasil teve um lucro de 9,1 bilhões, porém temos que levar em conta que a AMB fez grandes investimentos no Brasil em 2022. Já a Usiminas teve um lucro líquido de R$ 2,1 bilhões, lembrando que em 2021 o lucro (EBITDA) da Usiminas foi de R$ 12,8 bilhões. O que podemos perceber que as usinas siderúrgicas brasileiras estão trabalhando em níveis confortáveis de lucratividade, o que não é ruim para o mercado nem para os acionistas.

Ao que nos parece, com as principais siderúrgicas brasileiras navegando em “mar de almirante” ou em “céu de brigadeiro”, com seus preços no mercado interno relativamente mais altos que no mercado internacional, qual foi a solução encontrada pelos grandes consumidores de aço? Importar! Apesar dos caros fretes marítimos e do precário sistema portuário brasileiro, o aço produzido na Rússia, Turquia, China, Vietnam, etc., ficaram mais baratos do que comprar no Brasil. E enquanto a lei da oferta e da procura não for revogada por fatores extracampo, os consumidores têm todo o direito de comprar onde os preços são mais baratos. Há um componente muito importante nessa estatística de importação: As próprias siderúrgicas brasileiras são grandes importadoras, ou seja, estão trazendo aço mais barato da Ásia, para após o beneficiamento, exportarem, lógico sem precisar pagar qualquer imposto, já que utilizam do sistema de “draw-back”.

Mas o que as siderúrgicas querem? Querem a mais absurda de todas as soluções: que o governo aumente os impostos de quem importa. Querem um aumento de 150% no imposto de importação (que não afetará quem usa o sistema de “draw-back”). Porém, todos sabemos os resultados desse aumento. Na boca é doce, mas no estômago é amargo. Inicialmente é bom para o governo que aumenta a receita imediata, mas no médio prazo, todo esse aumento é repassado para o mercado, causando mais inflação, e resultando em perda de receita.

Seria o atual governo tão neófito que ouviria o “canto da sereia”, ou seja, a sugestão das siderúrgicas brasileira de aumentar o imposto de importação? Creio que sim. Qualquer “bilhão” a mais em 2024 seria importante para fechar as contas do Haddad, porém, jogaria uma pá de cal, sobre os consumidores que ainda tivessem a coragem de importar aço. O mais importante é saber que, “se” com o aumento do imposto, os consumidores brasileiros manteriam as importações nos níveis atuais (4,5 milhões de toneladas). Se mantiverem (acho muito difícil), a arrecadação do governo aumentaria no máximo em R$ 1,15 bilhões.

Se não mantiverem nesse nível, a arrecadação de impostos seria pífio. Mas, se os consumidores não siderúrgicos, deixarem de importar e adquirir o aço no mercado interno, com as siderúrgicas com os preços mais altos e agora com protegidos com impostos mais altos, elas se sentirão seguras para quem sabe, até aumentar um pouco mais seus preços, logo, a conta, através da inflação, chegará ao governo e o ganho será semelhante à vitória de Pirro. As siderúrgicas e seus acionistas ficarão muito feliz, terão por um bom tempo reserva exclusiva de mercado, sem qualquer concorrência externa e bons lucros, mas o Brasil, vai chorar em 2024, 2025, 2026, … esperamos que a equipe do Haddad faça os cálculos corretamente e não caia, mais uma vez, no canto da sereia.

José Ernesto Conti – Engenheiro Mecânico, sócio da Spinola Ltda., escritor, conferencista e consultor portuário.

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