Lula errou ao locupletar-se com a plutocracia. Também errou ao sucumbir à corrupção. Subjugou os princípios democráticos ao ceder à ideia autoritária de querer o poder pelo poder
Engana-se quem considera que o legado de Lula é a corrupção. Seu real legado foi ter propiciado condições para o retorno do conservadorismo elitista e antidemocrático ao núcleo do poder político do País. Fato que estamos na iminência de vivenciar.
A República Brasileira atravessou o século XX entre golpes de Estado, civil e militar. Sob a alegação da defesa da estabilidade institucional, impuseram ao País quase 80 anos de atrofias política e econômica.
A primeira, com os regimes autocráticos, vitimou as instituições democráticas. A segunda, com o enigmático Capitalismo Monopolista de Estado, as econômicas.
As decisões de política econômica não se guiavam pelo critério da equidade. Assim, o acesso aos benefícios advindos dos avanços econômicos ficavam restritos à elite do poder político e à plutocracia. Aos donos do poder.
Além disso, formou uma estrutura produtiva deficiente e de baixo nível tecnológico. E uma estrutura social com renda concentrada e nível educacional insuficiente.
Um anacronismo, se comparado às tendências mundiais, inclusive em países emergentes.
Anacronismo resultado dos erros das escolhas públicas, feitas sob o viés autocrático e elitista de ocasião.
A Constituição de 1988 trouxe os ganhos sociais para a agenda da economia. Em meados dos anos 1990, o Plano Real deu o primeiro passo nessa direção . O fim da inflação crônica, que empobrecia as pessoas e concentrava renda.
Concomitantemente, as privatizações reduziram os custos do Estado. E a responsabilidade fiscal passou a gerar poupança pública.
Esse redirecionamento de políticas de Estado institucionalizou a estabilidade e a eficiência alocativa como meios para alcançar um projeto de crescimento que traga também justiça social.
Legado de Lula
Foi nesta pista que o Sr. Lula (e o PT) aterrizou em 2003 como Presidente da República.
Encontrou estabilidade macroeconômica doméstica e ambiente externo favorável (boom dos preços das commodities).
Bastava-lhe manter o curso, pois as condições para uma trajetória de crescimento estavam instaladas. Inclusive para as políticas sociais, corretas e necessárias, que eram sua agenda de governo.
Foi ela que o elegeu porque os eleitores viram nele o líder capaz de fazê-lo. Realmente, naquele momento, Lula era o único com liderança para conduzir as reformas. Pelo seu histórico, e pelo que se via no comportamentos e históricos dos demais políticos, único para se chegar a um País socialmente justo e economicamente próspero.
Mas, faltou-lhe sabedoria para manter-se moralmente íntegro como cabe a um líder.
A integridade moral seria o escudo para conduzir as reformas estruturais. Reformas que obstaculizavam (e ainda obstaculizam) a justiça social e a eficiência econômica no Brasil.
Lula errou ao locupletar-se com a plutocracia. Também errou ao sucumbir à corrupção.
Subjugou os princípios democráticos ao ceder à ideia autoritária de querer o poder pelo poder.
Isso o fez perder a legitimidade para ser um Estadista. Travou os avanços sociais que implementara, e estagnou a estrutura econômica. E o efeito dessa sucessão de erros é a volta da direita para o poder. O real legado de Lula.
Arilda Teixeira é Economista e professora da Fucape
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