Então, que tal mudarmos a conversa? Menos planejamento, mais fazejamento. Menos PowerPoint, mais entrega
Por André Gomyde
De tempos em tempos, o Brasil redescobre o planejamento. De repente, todo mundo quer discutir orçamento, metas, estratégias e impactos. Reúnem-se técnicos, especialistas, gestores, consultores e até aquela tia do cafezinho, que escuta tudo e já sabe como vai acabar: em mais uma pilha de documentos que não sairão do papel.
A cena se repete. Planos são elaborados, discutidos, revisados, apresentados em PowerPoint com gráficos coloridos e palavras como “eficiência”, “transparência” e “governança”. Mas a execução? Ah, essa fica para depois. O problema do Brasil não é a falta de planejamento. É a falta de fazejamento.
O fazejamento, para quem ainda não foi apresentado ao termo, é aquele fenômeno raro em que algo realmente acontece. Passa da ideia para a prática, do orçamento para a obra, do discurso para a ação. E isso, convenhamos, anda em falta por aqui.
Outro dia, escrevi sobre o SBM (Sovaco Business Model), uma sátira ao jeito brasileiro de fazer as coisas acontecerem. Funciona assim: se você tem um projeto e quer que ele saia do papel, precisa colocá-lo debaixo do braço e carregá-lo para onde for. Tem que insistir, lembrar, cobrar, insistir de novo. Porque, se largar um minuto, ele desaparece no limbo das boas intenções.
No Brasil, sem SBM, nada acontece. O projeto pode ser brilhante, pode ter verba aprovada, pode até ter um comitê de acompanhamento. Mas, se ninguém carregar o bicho debaixo do braço, fazendo acontecer, ele morre. E morre sem alarde, porque ninguém se lembra de que ele existiu.


Isso explica por que, mesmo com todas as novas discussões sobre orçamento e planejamento, seguimos sem resolver os problemas que realmente importam. Falta fazejamento. Falta SBM. Falta alguém que pegue a ideia e diga: “Deixa comigo, isso aqui vai sair”.
Enquanto o Brasil for o país das reuniões e não das resoluções, o planejamento continuará sendo um ciclo vicioso. Discutimos, revisamos, ajustamos – e não entregamos. E o cidadão, que não quer saber de planilhas e relatórios, continua esperando o básico: saúde, educação, infraestrutura, segurança.
Então, que tal mudarmos a conversa? Menos planejamento, mais fazejamento. Menos PowerPoint, mais entrega. E, se for o caso, um pouco mais de SBM – porque, no fim das contas, no Brasil, quem não carrega o projeto no sovaco nunca vê o bicho acontecer.
André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em Administração pela FCU, nos Estados Unidos. Instagram: @andre.gomyde