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domingo, 28 abril, 2024

Lira e Pacheco, sentidos contrários

Por André Pereira César

Os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), vivem momentos distintos. Enquanto o deputado busca mais espaço no governo Lula (PT) e aparece como peça de contenção de crises, o senador mais e mais se afasta do Planalto e ensaia uma rebelião, se alinhando à oposição.

Apenas para relembrar, Pacheco foi importante ator no processo sucessório, sendo inclusive cotado para disputar a presidência da República com o apoio da centro-esquerda. Passadas as eleições, ele perdeu espaço e progressivamente se distanciou de Lula e seus aliados. No sentido contrário, Lira tornou-se importante interlocutor do titular do Planalto e foi fundamental para a aprovação de propostas de grande interesse do governo, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal.

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Hoje, o quadro está bastante claro. Escudado pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), que pretende voltar ao comando da Casa, Pacheco adotou uma agenda que confronta os interesses do governo e também do Judiciário. As sabatinas de três indicados para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) seguem na gaveta e projetos que limitam os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF) avançam na Casa. Mais ainda, há evidente interlocução com a oposição, sobretudo aos grupos mais ligados ao bolsonarismo.

De outro lado, Lira, ex-aliado de Jair Bolsonaro (PL), se aproximou do atual governo e está alinhado à agenda do Planalto, em especial no que diz respeito à economia. O mais recente exemplo deu-se nos últimos dias, quando, do exterior, o presidente da Câmara trabalhou (sem sucesso) para que o plenário da Casa votasse o projeto que trata da taxação de investimentos no exterior – proposta muito cara ao governo.

Arthur Lira, é importante lembrar, é um político pragmático. Levou o Centrão ao governo e cava mais espaço não só na Esplanada, mas também em outros postos estratégicos, como a Caixa Econômica Federal e a Funasa. Há um evidente sentido prático em suas posições e ações.

O cálculo político de Pacheco também tem sua lógica. Ao se distanciar do Planalto, ele ganha autonomia para fazer avançar uma agenda própria que agrada à oposição e os eleitores mais conservadores. Mais ainda, trabalha para que o aliado Alcolumbre retome a cadeira de presidente da Casa em 2025, contrariando os interesses do governo.

Não por acaso, o presidente do Senado tem se reunido com representantes das chamadas bancadas BBB – bala, boi (agronegócio) é Bíblia. Mais explícito, impossível.

O jogo tem suas delicadezas e nuances. Ao Planalto resta o trabalho de mediar os interesses para evitar um conflito direto entre as partes. Lira no governo é fundamental para os interesses de Lula, mas não se pode ter Pacheco abertamente na oposição. O equilíbrio é condição necessária para a governança.

André Pereira César é Bacharel em Sociologia e Ciências Políticas pela Unicamp, com especialização em controle orçamentário pela Escola de Administração Fazendária do Ministério da Fazenda (DF). Integrou a Escola de Governo de São Paulo e foi sócio na CAC Consultoria Política e consultor pelo Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP).

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