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sábado, 27 abril, 2024

Retrospectiva 2022 – Agronegócio: Café e pimenta-do-reino são destaques capixabas

Tempero conquistou Indicação de Procedência. Café venceu premiação nacional, apesar de safras não serem tão boas quanto antes do impacto de chuvas

Guerra na Ucrânia, adversidade climática, questões políticas internas, aumento de juros mundo afora e estresse na geopolítica envolvendo China e Taiwan. Em meio a esse cenário nada favorável, o agronegócio nacional e capixaba precisou “matar um leão por dia” em 2022.

“Vivemos a cada dia um susto novo. E nós, que produzimos, precisamos vender, escoar, alimentar o mundo. Mas, muitas vezes, as soluções dos problemas não estão em nossas mãos. Os preços das commodities agrícolas navegam nesse mar turbulento que impactou tudo e todos”, resume o analista de mercado e diretor da MM Cafés, Marcus Magalhães.

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No caso específico do Espírito Santo, o agro absorve 33% da população economicamente ativa e responde por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. É a principal atividade econômica em 80% dos municípios. Neste ano, destacaram-se três arranjos produtivos: fruticultura, café e pimenta. “Para a pimenta, foi um ano desafiador, em razão dos problemas logísticos, mas que mostrou uma força produtiva local muito grande”, aponta Magalhães.

Pimenta-do-reino

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de pimenta-do-reino, com 15% das vendas, ficando atrás apenas do Vietnã (41,5%). Em 2021, o cultivo e a exportação atingiram, respectivamente, as marcas de 145 mil e de quase 92 mil toneladas em todo o país. O Espírito Santo, maior produtor nacional desde 2018, foi responsável por quase 55% dessas vendas externas.

Em novembro deste ano, foi oficializada a Indicação de Procedência (IP) Espírito Santo para a pimenta-do-reino, com área geográfica abrangendo 29 municípios. Um reconhecimento de qualidade que corrobora a expectativa para 2023 de conquista de novos mercados. Hoje, a pimenta-do-reino capixaba é comercializada em quase 70 países, incluindo o Vietnã, que mesmo sendo o maior produtor mundial busca o condimento brasileiro para reexportação.

Café

O ano começou com preços interessantes para o produtor capixaba, ainda em virtude dos sinistros climáticos em Minas Gerais registrados nos últimos dois anos. Houve altas recordes no preço do conilon e do arábica, e isso se refletiu nos primeiros cinco meses de 2022, destaca Marcus Magalhães, diretor da MM Cafés.

Mas, em seguida, o mercado “deu uma escorregada” em decorrência da entrada mais vigorosa do Vietnã na atividade exportadora de conilon, fato que derrubou a cotação do produto interno. “No caso do arábica, tivemos o ingresso da América Central no mercado, além das altas nas taxas de juros, que deixou os grandes operadores indecisos sobre quais posições estratégicas deveriam ser assumidas”, detalha o analista.

Magalhães acrescenta que, envolto nesse mar de muitas perguntas e de poucas respostas, o mercado desenhou uma curva de baixa no último quadrimestre do ano. “Ao final de novembro e em dezembro, por ter caído demais o custo, todo mundo entrou recomprando, e o preço pior ficou para trás”, explica.

Para 2023, apesar de a possibilidade da safra não ser tão boa quanto se imaginava antes do impacto de chuvas, ventanias e granizo, o diretor acredita que “haverá recuperação de uma parte do terreno perdido nos últimos tempos”.

Em setembro de 2022, o Espírito Santo exportou 203 mil sacas de café. O solúvel superou a marca de 52 mil sacas exportadas, 30% a mais que no mês anterior. Em relação a setembro de 2021, houve um aumento de 103% no volume exportado. A receita obtida, em setembro deste ano, foi superior a US$ 8 milhões, 23% a mais que no mês anterior, quando foram alcançados mais de US$ 6 milhões.

Os produtores brasileiros deverão colher 50,38 milhões de sacas na safra 2022, como aponta o 3º Levantamento do Grão, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume representa uma alta de 5,6% em comparação ao ciclo de 2021.
A produtividade média nacional também deve subir, e é projetada em 27,4 sacas por hectare, 3,7% maior em relação ao ano anterior. No entanto, apesar da recuperação registrada, o avanço é inferior ao esperado para 2022, por ser um ano de bienalidade positiva.

Para o café arábica, a Conab espera uma produção de 32,41 milhões de sacas, acréscimo de 3,1% em comparação com a safra anterior. No Espírito Santo, a melhora na produtividade chega a 29,5%, totalizando 27,5 sacas por hectare nos cafezais.

No caso do conilon, a Conab prevê um novo recorde de produção, estimado em um volume próximo a 18 milhões de sacas beneficiadas do produto, o que representa um incremento de 10,3% em relação à safra anterior. Principal produtor de conilon no Brasil, o Espírito Santo tem produção projetada em 12,23 milhões de sacas, adicional de 9% sobre a safra anterior.

Retrospectiva 2022 - Agronegócio: Café e pimenta-do-reino são destaques capixabas
O Espírito Santo é o principal produtor de café conilon do Brasil e prevê produção de 12,23 milhões de sacas na próxima safra – Foto Incaper

Fruticultura

O mamão ainda está entre as sete primeiras frutas da pauta de exportação do Brasil, sendo o Espírito Santo o maior exportador. O município de Linhares é o responsável no país por quase 50% das vendas ao exterior, principalmente para os Estados Unidos e economias da Europa. A média é de 43 mil toneladas de mamão exportadas pelo país, sendo 20 mil toneladas por empresas de Linhares.

“O ano de 2022 foi histórico. Registrou o maior preço médio praticado para o mamão: R$ 3,30/kg para o tipo Havaí e R$ 3,70/kg para o Formosa. Em matéria de processamento de fruta, o setor terá queda de 25% a 27%. Porém, mesmo com essa baixa, o faturamento crescerá em até 35%, comparado com o ano anterior”, aponta o presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), Bruno Pessotti.

“Mas o cenário não é dos melhores. A produção vem caindo de forma significativa nos últimos anos. Para se ter uma ideia, entre 2018 e 2020, havia de 28 mil a 30 mil hectares (ha) plantados no Brasil, sendo 12 mil somente em Linhares. “Hoje, com a pandemia, os altos custos dos adubos e de irrigação e o bom momento do café, comercializado a US$ 140, US$ 150, o mamão deixou de ser uma alternativa viável”, explica Pessotti.

E, pelo fato de o fruto ser plantado sempre em consórcio com outra cultura – 85% das vezes com o café, mas também com o coco e a pimenta-do-reino, além de outros produtos –, há apenas 5 mil ha de mamão no Estado.

Para atender tanto a supermercados quanto aos mercados de exportação, foi necessário comprar muitas frutas do Sul da Bahia e de parte de Minas Gerais. O intenso volume de chuva que atingiu o Espírito Santo pode piorar essa situação.

Assim, em 2023, haverá uma oferta de fruta menor que a demanda, em consequência das questões climáticas, do alto custo de adubo e da irrigação e também da dificuldade de mão de obra. “Sem contar que juros praticados pelos agentes financeiros, antes na casa dos 6%, 7%, agora não são encontrados por menos de 10%, 12%”, finaliza Pessotti.

Por isso, a previsão é que as exportações apresentem retração de 30% a 35% em relação a este ano

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Linhares exporta 20 mil toneladas de mamão para Estados Unidos e Europa – Foto Incaper

Empregabilidade

O agro avançou em número de empregos em 2022, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP e Pnad Contínua (IBGE). A população ocupada (PO) somou 19,07 milhões de pessoas, um aumento de 0,9% contra o ano anterior, e maior número desde 2015.

A participação do agronegócio no mercado de trabalho brasileiro foi de 20,33% de julho a setembro de 2022, um pouco abaixo da observada no terceiro trimestre de 2021, quando esteve em 20,55%.

Enfim, de maneira geral, o agro vai muito bem. Existem desafios em gargalos logísticos e melhor acesso de conhecimento e tecnologia aos produtores menores. O analista de mercado Marcus Magalhães garante: “O mundo não é mais para amadores”. Porém, ele é otimista para o setor e apresenta bons motivos para essa boa expectativa.

“O agro brasileiro e capixaba performará ainda melhor que outras atividades, porque, bem ou mal, o Brasil, que era o país do futuro, no agro já é o país do presente”, finaliza Magalhães.

Ele enfatiza que o Brasil se firma cada vez mais como celeiro alimentar para o mundo, e a diversificação de culturas no Espírito Santo é uma vantagem para o Estado.

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