Durante pronunciamento de Evo Morales, o vice-presidente Alvaro García Linera também anunciou que deixa seu posto
O presidente da Bolívia, Evo Morales, renunciou ao cargo, em meio à escalada dos protestos que se seguiram à eleição de 20 de outubro no país. O anúncio foi feito por meio da TV na cidade de Cochabamba.
Na oportunidade, o vice-presidente Alvaro García Linera também anunciou que deixa seu posto. O presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, também renunciou ao cargo neste domingo, após ter sua casa atacada.
Professor universitário (Faceli) e advogado, Tiago Cação Vinhas destaca a ascensão e a queda do agora ex-presidente. “Evo Morales tem sua importância histórica na Bolívia por ter sido o primeiro presidente de origem indígena no país. Porém, a sua permanência no poder por mais de uma década acabou amplificando os atritos na sociedade boliviana. Sintoma claro disso foi a rejeição pela população, em 2016, via referendo, da possibilidade de sua reeleição pela quarta vez. A margem foi apertada, de menos de 2%”, relembra o mestre em Direito Comercial pela USP.
Vinhas ressalta a situação econômica do país. “De todo modo, Morales preferiu não ouvir a voz das ruas e conseguiu a autorização para a candidatura a uma nova reeleição pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2017. É interessante notar que, embora seja um país relativamente pobre, a Bolívia se encontrava em uma situação economicamente estável, ou seja, a revolta da população boliviana pode ser debitada muito mais à necessidade de alternância de poder do que por uma pressão por mudança profunda no país.
Comunicando a renúncia
A renúncia de Morales partiu de um comunicado da imprensa boliviana que afirmou que a população realizaria diversos ataques a residências, incluindo casas de familiares de Morales, e a prédios públicos.
“Queremos preservar a vida dos bolivianos. Deixarei o cargo para que não continuem maltratando parentes de líderes sindicais, prejudicando a gente mais humilde. Estou renunciando e lamento muito esse golpe”, disse Morales por meio das mídias sociais.
Ele se sentiu pressionado pelo comandante das Forças Armadas bolivianas, William Kaiman, que sugeriu a “pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem da nossa Bolívia”.
Renuncio para que Mesa y Camacho no sigan persiguiendo, secuestrando y maltratando a mis ministros, dirigentes sindicales y a sus familiares y para que no sigan perjudicando a comerciantes, gremiales, profesionales independientes y transportistas que tienen el derecho a trabajar.
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) November 10, 2019
Além disso, a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou um documento alegando que seria realizada uma auditoria do processo eleitoral, em que o órgão recomenda a realização de um novo pleito.
O ainda presidente publicou no Twitter que “fascistas” tinham incendiado a casa dos governadores de Chuquisaca y Oruro, e também de sua irmã, Esther Morales, em Oruro. Emissoras de rádio e TV estatais, como a Bolívia TV, foram alvo de protestos.
Eleições
As eleições bolivianas ocorreram em 20 de outubro deste ano, quando Morales conquistou 47,07% dos votos, contra Carlos Mesa, que alcançou a 36,51%. Pelas regras parlamentares, o ex-presidente da Bolívia seria eleito por ter conseguido 10% a mais que o seu concorrente principal.
Entretanto, houve acusações dois lados de que a eleição foi fraudulenta. A OEA apontou problemas como a falta de segurança no armazenamento das urnas e a suspensão da apuração, por isso sugeriu auditar as contagens dos votos.
A medida partiu de Evo Morales, que convidou países como Colômbia, Argentina, Brasil e Estados Unidos a participarem do processo. Desde então, os protestos populares se acirraram, com oposicionistas chegando a estabelecer um prazo para que o então presidente deixasse o cargo.
*Da redação, com informações complementares da Agência Brasil.