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sexta-feira, 19 abril, 2024

Psicóloga explica o que são os relacionamentos abusivos

Psicóloga Letícia Rodrigues faz um diagnóstico sobre relacionamentos abusivos: como começam, permanecem e têm um fim.

Por Munik Vieira

Na sociedade, os relacionamentos instáveis se tornaram maioria. “Estamos vivendo em uma época que, além de todo o sofrimento relacionado à pandemia da covid-19, pessoas estão vivendo amores doentes”, destaca a psicóloga Letícia Rodrigues, em entrevista exclusiva à ES Brasil.

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De acordo com o time de especialistas em comportamento da ES Brasil, o número de pessoas que entram em relacionamentos amorosos com traumas e sofrimentos oriundos do passado tem aumentado consideravelmente. No futuro, é possível que esses relacionamentos de “pessoas doentes” se tornem tóxicos e abusivos para o casal. E, em grande parte das situações, com comprovações de dados oficiais, a vítima é a mulher.

Toda relação que apresente um perfil tendencioso a valorizar a vontade apenas de uma das partes é uma relação perigosa e abusadora. O fato é que, nesses casos, a situação não precisa chegar ao feminicídio para chamar a nossa atenção. Ou, ao menos, não deveria. No melhor dos mundos, as pessoas deveriam acordar para esta situação tão presente na nossa sociedade e executar a sororidade, ou seja, olhar mais para o próximo, sem esperar que as tragédias escancarem o que muitos abusadores tentam minimizar.

A pessoa pode estar há anos em um relacionamento tóxico e só se dar conta disso no meio do caminho ou quando acaba. Às vezes, a vítima não percebe que está sendo acuada psicologicamente e, infelizmente, isso pode se desenvolver em um futuro abuso físico.
Para ajudar a identificar os sinais e saber se você vive – ou já viveu – em possíveis relacionamentos abusivos, confira a entrevista na íntegra com a psicóloga clínica e palestrante Letícia Rodrigues.

ES Brasil: Existem pessoas que já entram nos relacionamentos doentes, com traumas de outros relacionamentos. Você acredita que a figura do sofrimento passado pode refletir no atual?

Letícia Rodrigues: Geralmente, vítimas de um relacionamento abusivo já sofreram em relacionamentos anteriores, até mesmo dentro de casa, com os próprios pais. O que vemos hoje é um padrão repetitivo de comportamento. Isso acaba normatizando a relação de desigualdade de poder, onde há o abusador e a vítima. Com isso, a mulher acaba achando que esse comportamento agressivo é normal e que ela merece sofrer com isso.

O que é e o que caracteriza um relacionamento abusivo?

É uma relação de poder desigual, onde existe o opressor e o oprimido. Infelizmente, em muitos casos, esse poder é imposto de forma física, patrimonial e emocional.

Letícia Rodrigues
Letícia Rodrigues, psicóloga clínica, fala sobre relacionamentos abusivos. Foto: Renato Cabrini

Como sair de um relacionamento abusivo antes de adoecer?

A melhor forma de sair de um relacionamento abusivo é entender que está vivendo em um. Muitas vezes a vítima não compreende o relacionamento como um abuso, mas sim como afeto ou cuidado. Então, quanto mais falarmos sobre esses casos, maior a conscientização da sociedade. Como o relacionamento abusivo não é externado apenas de forma física, sendo também pela violência moral e psicológica, essa mulher precisa ser educada e entender que o que vive não é amor e nem cuidado, mas sim um abuso. Ele dá sinais: mentiras, ofensas, reações de ciúme, intimidação, empurrões. O abusador usa palavras que diminua o caráter dessa vítima, a expõe diante das pessoas e família. Impõe situações até mesmo sexuais. Tudo isso configura uma relação abusiva.

Quais problemas ele traz para a vida da vítima?

Os problemas são inúmeros. O fim de todos é o ato do feminicídio, com a morte da vítima. Mas antes disso, surgem problemas como a perda da autoestima e sentimento de culpa por acreditar que é a culpada por viver aquilo. Muitas vezes, a mulher não consegue prosperar financeiramente, pois o abusador controla seu patrimônio ou limita seu crescimento. Os danos são profundos, tanto psicológicos quanto patrimoniais, ou até mesmo a perda da própria vida.

Muitas pessoas acreditam que quem está em um relacionamento, “está porque quer”. Entretanto, muitas vítimas não conseguem sair dessa situação. Por que isso acontece?

É muito leviano falar que uma pessoa está em um relacionamento abusivo por vontade própria. Isso não existe. O que existe é uma invalidação, aprisionamento, sentimento de inadequação por parte da vítima. Muitos são os fatores que fazem com que essa mulher continue em uma relação tóxica. Existe uma idealização do casamento em si, falta de apoio familiar. Existe também a falta de apoio dos governos federal e estadual, pois as políticas públicas são muito falhas.

Como uma pessoa pode perceber que está em um relacionamento abusivo? Como ela pode proceder? Como amigos e familiares podem ajudar essa pessoa?

Quando já não é dona mais das suas próprias vontades, quando não tem autonomia sobre sua vida, seu corpo ou sua renda. A partir do momento em que a vítima observa que isso deixou de existi, ela tende a perceber que vive em uma relação tóxica. A família precisa apoiar e protege-la. Culpá-la não é a melhor estratégia, pois quando a vítima se sente abusada e não encontra apoio, infelizmente, tende a voltar ao agressor.

Qual o papel de um psicólogo na superação?

O psicólogo vai fortalecer a vítima que foi enfraquecida durante o relacionamento abusivo.
É fundamental, pois esse profissional se torna mais uma peça nesta engrenagem de apoio. É preciso trabalhar para fortalecer a individualidade, subjetividade e autoestima da vítima. O psicólogo vai ajudá-la a entender que está vivendo um modelo adoecedor, vai mostrar outras possibilidades de uma vida fora daquela relação, voltar a sonhar, a olhar para frente e criar estratégias de perspectivas de futuro. A vítima precisa entender o valor que possui.

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