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quinta-feira, 27 DE março DE 2025

O homem, o spoiler e a máquina

Hoje, é tudo mais eficiente. O spoiler vem automático no feed das redes sociais, sem nem precisar procurar

Por André Gomyde 

Antigamente, spoiler era só quando alguém pegava a última fatia do pudim na geladeira. Ou quando o amigo contava o final do filme sem você pedir. Mas a humanidade sempre teve essa necessidade estranha de saber o que acontece antes da hora.

Nos anos 1970 e 1980, as senhoras bem informadas não precisavam esperar o último capítulo da novela. Bastava abrir a Ilustrada e lá estava, em tom de fofoca, o destino da mocinha e o castigo do vilão. Os jornalistas, generosos, se sacrificavam indo aos Estúdios Globo colher os desfechos das tramas, antes que os autores tivessem tempo de mudar de ideia.

Hoje, é tudo mais eficiente. O spoiler vem automático no feed das redes sociais, sem nem precisar procurar. Saiu um filme novo? Lá está um adolescente no YouTube explicando os “cinco detalhes que você perdeu” e “o final explicado”. O sujeito mal sentou na cadeira do cinema e já sabe quem morre, quem trai e quem é um androide o tempo todo. O prazer da surpresa virou artigo raro.

E não é só no entretenimento. Antes, para saber que uma celebridade ia se separar, era preciso esperar o jornal do dia seguinte ou, no mínimo, o programa da tarde. Agora, um print de WhatsApp e pronto: divórcio coletivo em tempo real. Antigamente, os vizinhos espiavam por cima do muro para saber das brigas conjugais. Hoje, basta uma indireta no Twitter.

Mas será que a tecnologia piorou as pessoas? Ou só revelou o que sempre esteve lá? Talvez o homem sempre tenha sido fofoqueiro, impaciente e um tanto bisbilhoteiro. Só que, na falta de Wi-Fi, essas inclinações ficavam mais discretas.

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O filósofo de boteco diria que a internet deu ao ser humano uma lupa, e ele imediatamente a apontou para o próprio umbigo. O cidadão comum, que antes fazia comentários infelizes apenas na fila da padaria, agora tem um palco mundial. E com grande poder vem… o mesmo comportamento de sempre, só que amplificado.

A humanidade é errática. Sempre foi. Uns querem saber o fim da novela antes da hora, outros querem a fofoca da vizinha, outros só querem descobrir se o colega do escritório realmente viajou ou se só postou foto antiga. A tecnologia não piora ninguém, só nos deixa mais transparentes.

O que falta, e sempre faltou, é amor. Jesus já dizia isso muito antes do primeiro boato ser espalhado via pombo-correio. Se a humanidade trocasse metade dos spoilers por um pouco mais de empatia, talvez as coisas fossem diferentes. Mas, enquanto isso não acontece, melhor evitar o feed antes de ver o filme.

André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em Administração pela FCU, nos Estados Unidos. Instagram: @andre.gomyde

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