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domingo, 8 DE dezembro DE 2024

No ar, a Rádio-corredor

No ar, a Rádio-corredor

“Mais importante do que a distribuição da notícia, o diretor é mestre em ouvir”, comenta Michelle Thomé, consultora em comunicação corporativa

“Sabe aquela história de que o diretor está investindo em novos negócios? Que nada! A empresa está falindo e vão nos demitir em seis meses!”. Fofoca, boato, especulação, mexerico. Os nomes são muitos. É a “rádio-corredor”, que está ligada permanentemente dentro das organizações. Só de pensar na circulação desenfreada de boatos diversos pelos corredores da empresa, seja sobre a situação financeira, alguma decisão da diretoria ou meras fofocas pessoais, muitos gestores se arrepiam. E a pergunta que sempre surge é: e agora, como fazer para frear e contornar a tal notícia?

Essa situação é encontrada em toda empresa, grande ou pequena, sem exceção. “Não tem como escapar. É cultural no ambiente corporativo brasileiro a preferência pela informação individual e exclusiva”, afirma Michelle Thomé, consultora em comunicação corporativa. Tudo começa durante a pausa para o cafezinho, na saída do expediente ou durante o trabalho mesmo, quando não há interferência externa, seja pela presença de clientes ou dos chefes. A história é comum, e normal: conversas ao pé do ouvido levam e trazem informações diversas.

Para alguns comunicadores sociais, o fenômeno ocorre quando há falha na comunicação interna da empresa. Outros justificam a situação pela falta de comprometimento do empregado com o trabalho e com a empresa. Para a psicóloga Sharla Bitencourt, uma coisa pode levar à outra. “Pode haver muita desmotivação se não houver uma comunicação interna direta e objetiva com o empregado, para deixá-lo a par das diretrizes e novidades da empresa”, avalia.

Sendo assim, a sugestão é mudar o caráter negativo da “rádio-corredor”, também chamada “rádio-peão”, e usar a ferramenta para um bom propósito. “Muitos acham que isso não tem controle e procuram fórmulas para acabar com a ‘rádio-corredor’. Não há o que fazer para acabar. Há, sim, como administrar”, sugere Michelle Thomé.

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E como fazer isso? O primeiro passo é identificar quem é o “diretor” da “rádio”, quem é a pessoa que dissemina as notícias. “Mais importante do que a distribuição da notícia, o diretor é mestre em ouvir. Normalmente, ele é o funcionário que está sempre disposto a ouvir uma história. Ele colhe informações e decide o que passar adiante, para quem passar e como passar”, explica a consultora em comunicação corporativa.

Nesse caso, o gestor deve encarar a situação com naturalidade, sem postergar ações. E a tarefa pode não ser fácil para quem não está próximo da equipe. “O gestor que faz reuniões periódicas e conhece bem a sua equipe sabe detectar quem são os disseminadores das fofocas”, afirma Sharla. Assim, para os que estão distantes é preciso passar por várias situações, com tempo, para descobrir de onde as informações saem.

Identificado o “diretor” da “rádio”, a hora agora é de fazer com que cheguem aos ouvidos dele informações pertinentes para que sejam divulgadas. “A ideia é abastecê-lo com notícias positivas para usar a ‘rádio-corredor’ com um bom propósito. Para ter certeza de que o disseminador é mesmo o identificado, recomenda-se fazer o monitoramento dessas informações e de como elas chegam aos outros empregados”, explica Michelle Thomé.

A partir daí, a empresa deve investir em uma boa comunicação interna, com ferramentas eficazes para propagar as notícias oficiais, além de aproximar o gestor da equipe. “Ele precisa priorizar reuniões presenciais com seus colaboradores para adiantar assuntos importantes, para que não se transformem em boatos, e fazer da ‘rádio-corredor’ uma ferramenta positiva”, sugere Sharla Bitencourt.

Assim, o sucesso da rádio-peão é direta e inversamente proporcional ao insucesso do processo de comunicação organizacional. Se a empresa tem uma comunicação ágil, transparente e objetiva, a ‘rádio peão’ não funcionará bem e não terá ouvintes interessados.

Para a psicóloga, a comunicação e socialização entre os empregados é positiva e nunca deve ser recriminada. Hoje, a maioria das empresas estimula uma maior interação entre os empregados, investindo, por exemplo, em ambientes mais sociais, como as salas de descanso ou recreação. O ambiente, claro, é propício para conversas informais. “Mas quando se tem comunicação transparente e eficaz, as fofocas infundadas não farão parte dessas conversas”, conclui Sharla.

Rádio-corredor hi-tech

Na busca pela comunicação imediata, com o intuito de gerar economia de tempo e também dinheiro, muitas empresas investem na utilização de ferramentas como os programas de conversas instantâneas – MSN e Google Talk, entre outras. Esse recurso está sendo revisto por muitas organizações, que preferem proibir o uso das mesmas no ambiente de trabalho, principalmente por questões de segurança. Outras encaram o problema e já veem nas ferramentas uma versão high tech da “rádio-corredor”.

Para a consultora de comunicação corporativa Michelle Thomé, as ferramentas de comunicação instantânea individual ou social são a extensão virtual das “rádios-corredor”, mais modernas e muito mais perigosas. “Isso porque não estamos mais lidando só com uma conversa ao pé do ouvido. Nas redes sociais, por exemplo, há informações que, uma vez publicadas, se tornam eternizadas. Assim, são potencialmente muito mais perigosas”, avalia.

Mas, no ambiente corporativo, é recomendável tomar decisões de forma sensata. “O uso dessas ferramentas deve ser avaliado pelo gestor, já que os empregados precisam ter maturidade para usá-las. Muitos funcionários conversam sobre assuntos pessoais, com pessoas de fora da empresa, e isso promove desconcentração no trabalho e baixa a produtividade. Assim, só o gestor é capaz de avaliar se é válido ou não”, esclarece a psicóloga Sharla Bitencourt.

Seja qual for a decisão da empresa quanto à forma de minimizar o impacto da “rádio-corredor” no cotidiano da organização, no bom relacionamento interpessoal e na manutenção da produtividade, o importante é não perder de vista que o problema tem raízes culturais e que suas soluções – combate direto ou manipulação – serão tão mais eficazes quanto melhor se enquadrarem no perfil cultural específico da organização. O gestor que dedicar ao assunto um olhar estratégico certamente colherá boa notícias na programação-peão.

Colocando a Rádio-corredor em sintonia

  • As notícias da “rádio-corredor” têm origem em algum fato real, mas crescem e se desenvolvem pela falta de informações oficiais, alimentando-se de especulações e interesses específicos.
  • O gestor da empresa deve estar atento para os empregados que alimentam a “rádio-corredor”. Identificado o “diretor” da “rádio”, é necessário que haja reuniões com a equipe e colocar-se à disposição dos empregados para tirar qualquer tipo de dúvida ou esclarecer informações.
  • Muitas vezes, as informações que circulam na “rádio-corredor” são geradas por funcionários insatisfeitos com a empresa. Nesse caso, gestores e profissionais de RH devem entrar em cena, conjuntamente.
  • Entre os prejuízos que a rádio-corredor pode gerar para a empresa está uma maior atenção à fofoca do que ao trabalho. E a solução para combater a fofoca é ser mais rápido do que ela, com uma comunicação interna eficiente e que promova o foco no trabalho.
  • A comunicação interna da empresa deve ser colocada em prática, com eficiência, seja com divulgação de informações por jornal mural, intranet, boletins informativos ou e-mails. Não se pode deixar os empregados sem notícias da organização, ou deixar que eles saibam dos fatos importantes através da imprensa.
  • Via de regra: quanto mais informação, maior a compreensão do negócio por parte dos colaboradores e, consequentemente, maior o seu comprometimento com a empresa.

Esta matéria foi publicada originalmente em 24 de Maio de 2010 no portal da Revista ESBrasil. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

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