Nome da Avenida evoca um capítulo da história da humanidade
Por José Eugênio Vieira
Homenageada pela população de Vitória, com os poderes políticos batizando com seu nome importante via pública da capital, a figura de Américo Buaiz nos leva a refletir sobre a significativa presença de libaneses e seus descendentes na formatação dos negócios que deram perfil à moderna economia do Espírito Santo. Mas antes que ele se integrasse com sua família ao cotidiano da vida capixaba, há uma longa história a ser registrada.
O calendário assinalava o ano de 1880 quando ocorreu a grande imigração de libaneses para o Brasil. Dom Pedro II, o imperador, visitara o país árabe quatro anos antes, numa viagem que iria confirmar o estreitamento das relações entre os dois povos, abrindo as portas aos que buscavam novas frentes para o exercício de sua atividade, principalmente na área de negócios, uma das especialidades dos antigos fenícios.
Centenas de famílias vieram para o Brasil e aqui fincaram raízes, implantaram ideias de comércio, abriram rotas de penetração e desbravaram o sertão como se fossem bandeirantes de novos tempos. Os libaneses que se instalaram no Espírito Santo deram importante contribuição para o desbravamento de territórios e a consequente implantação de polos de desenvolvimento.
Atendo-nos à nossa capital, é justo destacar a presença atuante de Alexandre Buaiz, que chegou ao Brasil em 1908, aos 16 anos de idade, marcado pela fatalidade da morte de seu pai, ainda a bordo, em pleno oceano. Aportando no Rio Grande do Sul, foi acolhido por um dos seus tios. Mas, passado algum tempo, o imponderável destino o trouxe para Vitória, onde seu sobrenome seria sinônimo de empreendedorismo e sucesso.
Aos 20 anos de idade, em 1912, casou-se com Maria Saliba Buaiz, uma libanesa com quem teve seis filhos: José (advogado), Benjamin (médico), Américo (advogado e empresário), Luíz (médico), Lair e Maria de Lourdes (donas de casa). Seguindo o exemplo do pai, Américo e os irmãos começaram a trajetória de vida como simples empreendedores – um deles, Alexandre, como vendedor ambulante.
Em 1927, foi criada a A. Buaiz e Cia, com a participação precoce do filho Américo, então com apenas 15 anos de idade. A empresa passou a representar grandes firmas nacionais, entre elas Ângelo Matarazzo. Nos anos 50, a companhia começou a investir também no segmento da indústria e da construção civil. Mas não parou aí e, com as fábricas de sacos de papel, pregos, grampos para cercas, velas, sabão, sabonete, glicerina, tubos plásticos e refino de açúcar, a criatividade do grupo parecia não ter limites. Veio a seguir o Moinho de Vitória, também conhecido como Moinho Buaiz, inaugurado em 1956 e ainda hoje existente.
Homem de visão, nos anos em que a crise econômica havia se instalado na economia capixaba, principalmente pela erradicação da maioria dos cafezais, Américo Buaiz tomou a iniciativa de fazer agregar às frentes produtivas do Estado uma entidade de empresários para enfrentar e superar os problemas instalados. Partiu dele a iniciativa da fundação, em 1917, da Federação do Comércio do Estado do Espírito Santo (Fecomércio), da qual foi o seu primeiro presidente.
Na outra vertente dos negócios fundou, em 1958, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). E foi escolhido pelos homens da indústria para ser presidente da entidade, cargo ocupado por 10 anos, até 1968.
Sempre olhando para a frente e para o alto, o infatigável Américo Buaiz lançou a ideia da criação de um distrito industrial como forma de favorecer a implantação de indústrias no Estado, o que se materializou com a criação do Civit – Centro Industrial de Vitória.
O seu segundo filho, Américo Filho, cursou Economia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, onde também concluiu MBA em Gerência, além de ter estagiado na Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e na Casa da Moeda.
Quando em 1974 se preparava para iniciar uma pós-graduação no exterior, foi chamado pelo pai para integrar-se às empresas do grupo, tornando-se seu sucessor na direção dos seus múltiplos negócios.
Na área da comunicação, a partir dos anos 80, novos investimentos levaram o grupo à participação societária na Eldorado Publicidade e à aquisição da TV Vitória, ampliada com a compra da Rádio Vitória, de uma rádio FM e da Vitória Vídeo e Áudio e, mais recentemente, da inauguração do jornal on-line Folha Vitória.
Grande passo, superando o conceito de risco da iniciativa, foi a criação e implantação do Shopping Vitória, hoje um dos mais importantes estabelecimentos do gênero no Estado.
Vitória e seus moradores se enlutaram com a morte de Américo Buaiz em São Paulo, aos 76 anos de idade, no dia 14 de dezembro de 1999. Seu corpo foi trasladado para a capital capixaba e sepultado no cemitério de Santo Antônio.
Américo Buaiz teve a mesma envergadura do pai, e a cidade Vitória e seu povo muito devem a ele pelo que hoje podem desfrutar. Imortalizando seu nome, a cidade de Vitória, por sua edilidade, denominou a antiga Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, entre os bairros Praia do Canto e Enseada do Suá, de Avenida Américo Buaiz.
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Quem são as personalidades que deram nome às ruas e às avenidas do Estado? A coluna “O Endereço da História” presta uma homenagem às pessoas que tanto contribuíram para o Espírito Santo. Confira mais aqui.