Governador entre 1908 e 1912, Jerônimo Monteiro deu início a importantes avanços na história do Espírito Santo, como as obras do Porto de Vitória
Por José Eugênio Vieira
Jerônimo Monteiro já possuía visão de estadista quando assumiu o Governo capixaba, em 1908. Sua sólida formação humanística começou a ser forjada no Colégio do Caraça, “plantado” no alto da Serra do Espinhaço (MG), por onde passaram alguns dos mais eminentes homens públicos do país, como os presidentes Afonso Pena e Arthur Bernardes.
O Espírito Santo necessitava, para vencer o futuro, mais do que sua vitoriosa cultura do café. Jerônimo Monteiro percebeu essa premissa quando determinou a instalação do sistema de energia elétrica em Cachoeiro do Itapemirim e em Vitória, iniciativa que possibilitou a construção do primeiro complexo industrial do Estado, com a produção de cimento, óleo, açúcar no Sul do Estado.

Segundo Maria Stella Novais em seu livro Jeronimo Monteiro – Sua Vida e Suas Obras”, “O porto de Vitoria, tão apreciado pela beleza de sua entrada, quando ainda conservado o verde mágico dos morros que emolduravam a cidade, não tinha atracadouro para navios (…). Fazia-se o desembarque de passageiros em escaleres e lanchas pequenas que atacavam às escadas dos navios. Em dia de preamar, tornava-se mesmo perigoso esse desembarque (…). Pensou-se, primeiro, em situar-se o cais de desembarque no continente [Vila Velha], ideia combatida por outros, que preferiam a ilha [Vitória]. O próprio Dr. Jerônimo partilhava da primeira tese — porque sua visão era de um futuro grandioso para sua terra estremecida! Mas o isolamento da cidade, com a falta de ponte, obrigava os viajantes ao recurso de outro transporte: os escaleres e lanchas, para os que demandavam a Capital, motivo por que se resolveu o atracadouro direto.”
“Aliás, desde o início do seu Governo, pensava o Dr. Jerônimo nesse importante empreendimento. De acordo com a Lei n° 553, de 23 de novembro de 1908, o Governo celebrou, a 16 de janeiro de 1909, o contrato para as respectivas Obras do Porto. (…) A 23 de novembro de 1908, telegrafou ao Dr. Pedro Nolasco, comunicando estar sancionada a Lei que estabelecia a verba para as Obras do Porto. (…) Veremos, adiante, que a 29 de junho de 1910, o Presidente Nilo Peçanha presidiu ao lançamento da pedra fundamental das Obras do Porto.”

Gualberto em sua coluna dominical intitulada “O varguismo capixaba”, afirma também que o ex-interventor do estado Jones dos Santos Neves foi quem concluiu as obras do porto de Vitória e deu início às operações de exportação de minério de ferro […]”.
Paralelamente, nosso personagem realizou provavelmente seu maior passo para que o Espírito Santo ganhasse foro de Estado progressista com o projeto de reforma no setor educacional dos ensinos primário e secundário e a criação da Secretaria da Instrução. A Escola Modelo, então implementada, servia como estágio para alunos da Escola Normal, seguindo normas administrativas e pedagógicas, grande avanço na área para a época.
A trajetória na política, até sua escolha para a presidência do Estado, em 1908, foi marcada por sua instrução acadêmica na Faculdade de Direito de São Paulo, onde se formaria aos 24 anos de idade, também ali assinalada pela convivência com figuras que se projetariam, como ele, na vida pública brasileira. Oriundo de uma oligarquia política com forte presença no Espirito Santo, elegeu-se deputado estadual pelo PRC – Partido Republicano Construtor – em 1895. Foi depois vencedor em pleitos sucessivos para quatro mandatos de deputado federal, a partir de 1897 até 1918 quando, rompido com o PRC, fundou o PL – Partido da Lavoura.
A derrota do seu candidato ao Governo do Estado para Muniz Freire o levou a afastar-se da política, transferindo sua residência para a cidade paulista de Passa Quatro. Proprietário rural, advogado, Jerônimo Monteiro encontrou nos meios de comunicação instrumento para, como jornalista, divulgar suas ideias e ideais. O chamamento da terra natal, no entanto, tornou-se imperioso e assim ocorreu seu retorno ao Espírito Santo.
Já casado com Cecília Bastos, pai de oito filhos, foi alvo de uma trama do destino que colocou-o de novo na linha de frente das disputas locais. O atrito político do então governador estadual, Henrique Coutinho, com o senador Muniz Freire abriu-lhe uma nova frente de possibilidades e ele se lançou postulante à cadeira do Executivo capixaba. Com o apoio do presidente da República, Afonso Pena, tornou-se candidato único. Governou até 1912 quando, encerrado o período de sua administração, candidatou-se e se elegeu deputado estadual e, posteriormente, deputado federal (1915-1918).
Sua presença no Congresso Nacional foi encerrada com suja eleição para senador (1918-1927) quando, como candidato avulso, foi derrotado e deixou a vida pública, mudando-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Faleceu na antiga capital da República, no dia 23 de outubro de 1933, aos 63 anos de idade, quase todos dedicados a tornar o Espírito Santo o grande Estado dos seus sonhos.
Os capixabas, por seus representantes na Câmara Municipal, referendada pelo Poder Executivo da cidade de Vitória, homenagearam a memória do seu grande benfeitor, nascido na Fazenda Monte Líbano, em Cachoeiro do Itapemirim, com seu nome intimamente ligado a decididas iniciativas para o desenvolvimento do Estado.

Jerônimo Monteiro também “virou” cidade. Em 1958, no dia 28 de novembro, a Assembleia Legislativa do Espírito Santo aprovou a Lei Estadual nº. 1.416, transformando em Município o Distrito de Vala do Souza, no sul do estado, que recebeu a denominação de Jerônimo Monteiro, em homenagem ao ilustre ex-governador do Estado.
José Eugênio Vieira é pesquisador, com diversos livros publicados sobre a História do Espírito Santo, e atualmente é diretor de atendimento do Sebrae-ES.