22.7 C
Vitória
quarta-feira, 1 maio, 2024

Discriminação racial: por que os avanços da era moderna não são capazes de mitigar esse cenário?

Não à toa o Brasil ocupa o penúltimo lugar no ranking de desigualdade social à frente apenas da Colômbia

Por Cintia Dias

Em 21 de março comemora-se o Dia Internacional contra a Discriminação Racial, instituído em função de um protesto, ocorrido nesta data em 1960, na África do Sul, contra a Lei do Passe, uma obrigatoriedade para a população negra de portar o cartão que demonstrava os locais por onde podiam circular. A manifestação, pacífica, terminou com 69 mortos e 186 feridos, após a polícia do regime de apartheid abrir fogo contra a multidão de 20 mil pessoas desarmadas.

- Continua após a publicidade -

A data, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é não somente um reconhecimento, como também um chamado para a ação, uma vez que o racismo persiste em todas as camadas da sociedade.

Para se ter uma ideia do cenário, uma pesquisa do Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), realizada em 2023, apontou que 81% dos brasileiros percebem o Brasil como um país racista. Este mesmo estudo mostra que, segundo 96% dos entrevistados, as pessoas pretas são as que mais sofrem com o racismo, sendo os marcadores sociais de raça, cor e etnia os principais aspectos que explicam as desigualdades registradas (44%).

Não à toa o Brasil ocupa o penúltimo lugar no ranking de desigualdade social, à frente apenas da Colômbia, uma vez que em nosso país, geralmente leva-se nove gerações para que as pessoas que nascem entre os 10% mais pobres cheguem à renda média da população, enquanto na Dinamarca são duas gerações e, nos Estados Unidos, cinco gerações.

Isso porque, no Brasil, as circunstâncias dos pais desempenham um fator importante na vida da família. O relatório “Um elevador social quebrado? Como promover a mobilidade social” demonstra que o status econômico e social é transmitido fortemente por meio das gerações, sendo que 70% dos mais ricos herdam esta situação dos seus pais. Portanto, países com maior mobilidade tendem a ser aqueles com maior igualdade.

Daniel Yudkin, autor do livro “Sorte ou escolha – o que leva ao sucesso?” diz que ser bem-sucedido tem a ver com situações que não estão no controle das pessoas, como cor da pele, vizinhança onde mora, onde se estuda. Não é coincidência, portanto, que, no Brasil, 67% da população das favelas seja negra, segundo o Instituto Locomotiva.

Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU trabalha a redução das desigualdades (ODS 10). Pretende, até 2030, progressivamente alcançar – e sustentar – o crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional. Isso passa por garantir que gênero, idade, deficiência, religião, origem, raça e etnia não sejam impeditivos para que quaisquer pessoas possam alcançar as posições que desejarem no segmento educacional, no mercado de trabalho nem na sociedade.

É preciso colocar uma lupa sobre essa questão. É necessário entender o motivo pelo qual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os pretos e pardos representem 56% da população brasileira, mas respondam por 71% das pessoas abaixo da linha da pobreza e 73% daquelas em extrema pobreza. Urge enfrentar o problema de frente.

No livro “A jornada da humanidade: As origens da riqueza e da desigualdade”, o autor Oded Galor mostra que todos os aspectos das nações – geográficos, institucionais, culturais, religiosos, econômicos – apontam para que o investimento em capital humano seja a causa da desigualdade.

Sem identificarmos – e sanarmos – os gargalos que impedem que essa população tenha acesso, seja à educação, às oportunidades econômicas e sociais ou quaisquer outras formas de inclusão, estaremos fadados a ver raça e desigualdade andarem de mãos dadas e celebrarmos o dia 21 de março sempre lamentando o cenário atual, sem que avancemos com ações concretas para modificá-lo.

Cintia Dias é mestre em Administração e especialista em comunicação, marketing e sustentabilidade.

Mais Artigos

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Fique por dentro

ECONOMIA

Vida Capixaba