Com mais de 20 cooperativas em atividade noES, o ramo agropecuário registrou movimentação econômica de R$ 4,3 bilhões em 2022, com clara tendência de crescimento
Por Daniel Hirschmann
O cooperativismo agropecuário tem se destacado como um pilar fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Espírito Santo, um estado marcado pela diversidade de culturas e pela riqueza de sua agricultura. As cooperativas agrícolas capixabas não apenas impulsionam a produção e a comercialização de alimentos, mas também promovem práticas sustentáveis e inclusivas, beneficiando pequenos, médios e até mesmo grandes produtores rurais em todo o estado.
O ramo agropecuário inclui cooperativas voltadas à prestação de serviços nas atividades agropecuária, extrativista, agroindustrial, aquícola e pesqueira, e é um dos mais tradicionais do cooperativismo capixaba. Isso tem se verificado ano a ano pela capacidade de inovar e pelos indicadores econômicos e sociais crescentes, contribuindo para o fortalecimento do desenvolvimento no campo e nas cidades.
Segundo o Anuário do Cooperativismo da Organização das Cooperativas Brasileiras no Espírito Santo (OCB-ES), o ramo agropecuário registrou uma movimentação econômica de R$ 4,3 bilhões, em 2022, com um crescimento de 26% em relação ao valor de 2021, que já havia sido 41,7% superior ao contabilizado em 2020.
“Em 2022, o Espírito Santo tinha 115 cooperativas registradas. Dessas, 22 eram cooperativas do agro. De 747 mil cooperados no estado, mais de 38 mil eram do agro. Isso representa mais de 19% do total”, destaca o engenheiro agrônomo e analista de Desenvolvimento Cooperativista da OCB-ES, Vinícius Schiavo.
Esses indicadores demonstram que o agro tem apresentado um crescimento contínuo e sustentável, mantendo posição de destaque no cooperativismo e na economia do Espírito Santo. Considerando os dados de 2022, entre os empregos diretos gerados no cooperativismo, o agro correspondia a 4,7%. Com os empregos indiretos, a estimativa é de que esse percentual seja muito maior.
Já no quesito faturamento, o cooperativismo do ramo agro representa 37% do total movimentado pelo cooperativismo capixaba. “O setor do agro é o que gera maior faturamento para o cooperativismo estadual”, salienta Schiavo.
Em todos os municípios
São números que impactam todo o estado, já que o cooperativismo está presente nos 78 municípios capixabas e, mesmo quando não há uma cooperativa específica do setor agropecuário, pode haver projetos de outras cooperativas que se relacionam com as atividades agropecuárias. Para os produtores rurais, de qualquer forma, essa presença tem um reflexo direto e positivo. “Quando os produtores se unem como cooperados, eles unem esforços e recursos. Eles ficam mais fortes, seja para ter mais eficiência, produtividade, competitividade ou acesso aos mercados”, explica o analista da OCB-ES.
Parte dessa força se deve ao acesso à tecnologia e à inovação viabilizado pelas cooperativas. A OCB-ES, por sua representatividade, recebe visitas de diversas empresas interessadas em apresentar projetos aos cooperados e estuda, com sua equipe técnica, a viabilidade da iniciativa, antes de aproximar os representantes das empresas dos diretores de cooperativas. “Isso dá muito certo. Eles têm esse acesso, acabam estudando o projeto e isso pode acabar virando um projeto em comum para todos os associados da cooperativa”, comenta Schiavo.
A OCB-ES também incentiva o trabalho em conjunto, em um processo de intercooperação. “Às vezes, as cooperativas têm parcerias privadas que poderiam ser feitas com outras cooperativas”, observa o engenheiro agrônomo. Outro importante benefício é a promoção de capacitação e educação, com a oferta de programas para os cooperados se desenvolverem, o que acaba tendo reflexos no agronegócio e na sociedade como um todo.
Formando grandes players
Soma-se a isso a facilitação do acesso aos mercados, na negociação e comercialização, porque os cooperados têm maior poder de negociação e obtêm melhores condições de venda e preços mais justos. Em outras palavras, segundo o presidente da NaterCoop, Denilson Potratz, o cooperativismo une vários pequenos produtores e os transforma em um grande. “Isso é de suma importância, porque um pequeno sozinho não consegue acessar mercados maiores, como os mercados externos. A cooperativa une todos esses pequenos produtores e, unindo essa produção, acaba transformando esses pequenos produtores num grande player, num fornecedor. Isso aí só quem consegue fazer é o sistema cooperativista”, explica.
À frente de uma das maiores cooperativas do estado, eleita pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) como maior empresa no ranking de Agricultura e Pecuária no Espírito Santo em 2023, Potratz entende que o cooperativismo é muito dinâmico, porque presta assistência técnica, trabalha com inovação, procura melhores práticas de produção e aumento de produtividade numa mesma área, obedecendo todas as regras ambientais. “Hoje, o ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança) é uma questão que a gente tem que olhar muito. São temas em que a gente precisa ter foco”, frisa o dirigente. E é fato que o mercado, especialmente o internacional, que absorve boa parte do que o agro capixaba produz, é cada vez mais exigente quanto ao respeito aos princípios ESG aplicados a tudo o que compram e consomem.
Nesse sentido, numa pequena propriedade, com agricultura familiar, principalmente com as que as cooperativas trabalham, Potratz nota que é possível “fazer um trabalho bacana” com o produtor sobre a importância desses três pilares para o desenvolvimento do estado, do país e das famílias, com reflexos na sustentabilidade da propriedade rural. “Isso também acaba tendo um impacto positivo para a própria economia do estado, porque, conscientizando o produtor das boas práticas de produção, com certeza vamos colher muitos bons frutos para as gerações futuras”, garante o presidente da Nater Coop.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 223, de setembro de 2024. Leia a edição completa sobre o Agro Capixaba aqui.