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quinta-feira, 25 abril, 2024

A desordem da espiral inflacionária

Em nível acima do planejado, a inflação desorganiza a vida econômica e social de um país

Por Claudeci Pereira Neto

Uma realidade que tem preocupado especialistas e a população em geral é o aumento dos preços dos produtos e serviços. O aumento persistente no nível geral de preços, mais comumente denominado de inflação, é um fenômeno comum na economia, quando conformado dentro de certos patamares. Em nível acima do planejado e desejável, desorganiza a vida econômica e social de um país.

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A inflação oficial acumulada em 12 meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deverá chegar a 12% com o fechamento da apuração do mês de abril. De fato, esse cenário não é encontrado somente no Brasil. Os EUA, por exemplo, estão com enfrentando a maior inflação das últimas décadas.

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No Boletim Focus de 29/04, o Banco Central do Brasil (BC) relata que a expectativa de inflação futura para o país cresce há 16 semanas. Isso indica uma persistência do aumento geral dos preços e uma inefetividade dos instrumentos para combatê-la. O BC já sinalizou que não conseguirá controlar a inflação dentro da meta estabelecida para 2022 e já pensa em mecanismos para contê-la em 2023. A crise sanitária e hídrica e os condicionantes internacionais têm parcela de responsabilidade no desarranjo inflacionário. Na pandemia, a oferta de bens e serviços em alguns setores econômicos se desorganizou, gerando uma pressão de demanda. No atual momento, nota-se que a inflação de custos tem sobressaído, em razão do aumento expressivo de importantes insumos, a exemplo dos derivados de petróleo e da energia elétrica, essenciais para empresas famílias.

Esses itens impactam os custos das empresas, da cadeia logística, dos trabalhadores autônomos, que tendem a repassar para o preço dos produtos e serviços ofertados.
Por outro lado, afetam o orçamento familiar, ao deslocar mais recursos para cobrir as despesas com transporte, conta de energia, além dos aumentos nos itens de consumo, como alimentos e medicamentos.

O cenário de inflação conjugado com outros indicadores da economia faz com que as expectativas sejam de dificuldades para o restante de 2022. Podemos citar o baixo crescimento econômico, a taxa de desemprego de 11,1%, a queda na renda média de 8,7% em 12 meses. Soma-se a isso a taxa de informalidade, em 40,1% da população ocupada, ou seja, 38,2 milhões de trabalhadores não possuem carteira de trabalho assinada e convivem com a insegurança e variação da sua renda mensal. Esse cenário explica boa parte da inadimplência: em abril, 28,6% das famílias não conseguiram honrar suas dívidas – o maior nível desde janeiro de 2010.

Portanto, a inflação desorganiza, além dos preços finais dos produtos, o planejamento das empresas, os estoques de matérias-primas, insumos e produtos e o orçamento familiar. Ademais, num processo persistente de inflação em níveis elevados, há uma corrida dos agentes econômicos (empresas, autônomos, rentistas e famílias) para recompor o poder de compra de seus ganhos, rendimentos e salários. Ao chegar nesse estágio, e se nada for feito de concreto para romper a espiral inflacionária, podemos ainda ter por algum tempo uma inflação acima da desejada.

Claudeci Pereira Neto é presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES). 

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