Estudos indicam que se pode, de forma sustentável, atender à crescente demanda por madeiras
Por Luiz Fernando Schettino
É um tempo difícil, pela polarização e ideologização na política, pelo descaso com a vida e com o meio ambiente e pela violência crescente, agravado pela pandemia do coronavírus e pela guerra na Ucrânia, cujos efeitos vêm afetando o desempenho das economias e a qualidade de vida em todo o planeta. Soma-se a tudo isso a crise política e socioeconômica que se instalou no Brasil nos últimos anos, levando parcela considerável da população à pobreza.
Essa combinação explosiva vem reduzindo o poder aquisitivo de grande parte da sociedade, causado por uma inflação de dois dígitos anuais, com preços crescentes e exorbitantes, especialmente de alimentos, energia e combustíveis – itens que, ao terem seus preços inflacionados, impactam fortemente outras cadeias produtivas, com consequente freio nas atividades econômicas e diminuição na qualidade de vida da população, especialmente os mais pobres.
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Diante disso, torna-se imprescindível a tomada de atitudes pelos governantes para contornar essa situação, especialmente quanto ao preço da energia e dos combustíveis, que afetam todas as cadeias econômicas. Por essa razão o país precisa buscar, urgentemente, alternativas viáveis do ponto de vista energético para amainar essa situação, e de forma sustentável. Agindo assim, haverá melhores possibilidades de as atividades econômicas funcionarem bem, de haver geração de empregos e renda e de os ecossistemas se manterem funcionando adequadamente; assegurando então o bem-estar e qualidade de vida da população.
O território brasileiro tem um grande diferencial da maioria dos países do mundo: além de grande potencial hidrelétrico, tem condições de gerar muita energia solar, eólica e de biomassa – especialmente a partir da lenha, para substituir o gás natural e liquefeito de petróleo. Assim, a disparada do preço do gás abre enormes possibilidades, de forma viável, em muitas situações, para substituir o gás por lenha. Um energético que é fácil de produzir, por haver terras disponíveis em todas as regiões do país, clima favorável e tecnologia conhecida, tanto para manejar sustentavelmente florestas naturais, quanto para plantar, conduzir e colher plantios florestais, com espécies de rápido crescimento. O que pode ajudar ainda a proteger solos, recursos hídricos, tirar carbono da atmosfera e gerar empregos e renda distribuídos na maior parte do território nacional, aspectos muito bem-vindos para um modelo sustentável de desenvolvimento.
Estudos indicam que se pode, de forma sustentável, atender à crescente demanda por madeiras, especialmente lenha, dentro da lei, com o uso da melhor tecnologia disponível e com nível de produtividade que garanta o sucesso do negócio florestal e a geração duradoura de empregos, tributos e renda – quesitos necessários neste momento da história, no qual se deve buscar estabelecer um modelo de fato sustentável de desenvolvimento.
Desse modo, a disparada do preço do gás de cozinha pode ser transformada em uma oportunidade para alavancar ainda mais a produção de madeira e lenha, fornecendo um combustível renovável, que torne ainda mais limpa nossa matriz energética; e, com isso, se torne parte importante de um projeto duradouro de desenvolvimento nacional em bases sustentáveis.
Luiz Fernando Schettino é engenheiro florestal, advogado, Mestre e Doutor em Ciência Florestal, ex-secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (SEAMA); e ex-diretor geral da Agência de Serviços Públicos de Energia do Estado do Espírito Santo (ASPE).