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sábado, 27 abril, 2024

Relaxe e descanse: excesso de trabalho pode matar

Ansiedade, mau humor, aumento do risco de engordar e aceleração do envelhecimento engrossam a lista de complicações dos workaholics, portanto relaxe

Letícia Vieira

“Eu acordava às 7h, arrumava-me, tomava café e já saía para trabalhar. Muitas vezes ficava direto sem almoçar, até as 19h. Depois, ia para casa ajudar no dever escolar das crianças, aprontar o jantar, cuidar das tarefas domésticas, das meninas, e colocá-las na cama. Até que um dia…”

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“Então, eu tive um ataque de frescura?” Foi essa a pergunta feita pela pedagoga paulista Renata Rolim Prudente Ferreira, 40 anos, ao médico que a atendeu no hospital depois de ser levada às pressas pelo marido, queixando-se de dor no peito e muita falta de ar. Após o episódio, uma crise de pânico no trabalho, diversos exames, passagem por psicóloga e psiquiatra e o diagnóstico: depressão e distúrbio de ansiedade.

“Eu não posso estar doente!”, afirmava Renata a si mesma e aos outros, em um processo de negação ao problema, já que sua rotina diária incluía de 10 a 14 horas de trabalho, cuidados com as duas filhas, de 5 e 7 anos, e uma noite de sono de apenas quatro ou cinco horas. “Ainda acordava na madrugada para ir até quarto das meninas saber se estava tudo bem. Meu sono é muito leve”, acrescentou.

Esse relato é apenas um entre tantos ouvidos hoje em dia. Dedicar-se de modo excessivo à profissão se tornou hábito muito comum no século 21, mas não é exclusividade dessa geração. Há tempos convivemos e aplicamos em nossas vidas a ideia de que “o trabalho enobrece o homem”.

Descansar é preciso

A clássica frase do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) foi adaptada pelo pensador Nelson Barh, que concorda com a máxima, mas defende ser o descanso ainda mais enobrecedor.

Os avanços tecnológicos e a constante necessidade de inovações criam pressões sobre o trabalhador, que precisa entregar resultados e se adequar a mudanças com muita rapidez. Uma realidade que exige força física e mental, tanto como nas demais atividades semanais. E é justamente esse cenário que tem gerado situações estressantes, causadoras de exaustão física e emocional.

O fato é que, mesmo em dias de folga, quando realmente deveria haver descanso, dificilmente somos capazes de nos desligar. São convites irresistíveis e compromissos “inadiáveis”, tarefas em casa há muito tempo adiadas e que, exatamente naquela oportunidade de ócio, decidimos que devem ser realizadas com urgência. Isso sem falar daquela pendência no trabalho que pode ser resolvida.

O descanso adequado é extremamente importante para a saúde e o bem-estar, tanto quanto a alimentação saudável e a prática frequente de atividades físicas, garantem os especialistas.

Relaxe!

O sono é essencial para manter a mente equilibrada e o corpo saudável. Dá ao organismo a possibilidade de se regenerar e ajuda a curá-lo. O repouso fortalece o sistema imunológico e pode acrescentar anos de vida.

Relaxe e descanse: excesso de trabalho pode matar
“Esta síndrome (burnout) vem sendo estudada desde a década de 1970,
e a tendência é que a cada dia mais trabalhadores sofram com a doença” Magda de Oliveira Costa, psicóloga e analista de RH

Se for insuficiente, a energia para o dia a dia será tirada das reservas. E quando isso acontece habitualmente, é de se esperar resistência mínima às doenças ou mesmo o aparecimento de outras novas. Ansiedade, mau humor, aumento do risco de engordar e aceleração do envelhecimento engrossam a lista de complicações para quem dorme pouco ou os workaholics.

Vale lembrar que, além de toda essa lista, as poucas horas de sono aliadas a longas jornadas de trabalho podem resultar no Burnout. A síndrome tem como principal característica o estado de tensão emocional e estresse crônico provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.

 

“A síndrome vem sendo estudada desde a década de 1970, e a tendência é que um número maior de trabalhadores sofram com ela, pois o mundo corporativo cobra cada vez mais resultados, e a pressão só tende a aumentar”, avalia a psicóloga e analista de RH Magda de Oliveira Costa.

Quando falamos que o excesso de trabalho pode matar, não estamos brincando. O burnout pode desencadear uma série de problemas físicos graves, como o acidente vascular cerebral (AVC) e o infarto do miocárdio.

Na área psicológica, vale ficar atento a sentimentos de irritabilidade, ansiedade, depressão, frustração e respostas rígidas e inflexíveis. “Na conduta aparecem expressões de hostilidade, incapacidade para se concentrar no trabalho, aumento de conflitos interpessoais, ausência ao local de serviço, fazendo longas pausas de descanso, aumento do absenteísmo, apatia frente à empresa, baixa qualidade do trabalho, com maior probabilidade de cometer erros”, conclui Magda.

Alertas do corpo

Sintomas que antecedem quadros mais graves como ansiedade, desânimo, irritabilidade, baixa autoestima, dificuldade de dormir, palpitação e fadiga, entre outros, devem ser observados. É necessário ficar de olho nos sinais manifestados pelo corpo, complementa o especialista.

No entanto, mesmo com a elevação no número de relatos, minimizar as primeiras ocorrências, ou não lhes dar a devida atenção, é mais comum do que se imagina. O psiquiatra e professor universitário Rodrigo Eustáquio Teles Vieira enfatiza que ainda hoje as doenças relacionadas à saúde mental são estigmatizadas pela população. Mesmo com tantos avanços nos estudos dos casos, o desconhecimento da população ainda se mantém forte.

E a pedagoga Renata passou por isso. Encarou os sintomas físicos com tanto preconceito a ponto de ouvir de mais de um médico que seu caso era mais sério do que imaginava. Um ataque de frescura foi a primeira coisa que ela conseguiu pensar, em maio de 2018, quando surgiram os primeiros indícios. O problema evoluiu, gerou uma crise de pânico fora de casa, e Renata passou meses afastada da função de coordenadora pedagógica em uma escola, sem nem mesmo conseguir sair de casa sozinha.

O tratamento envolveu medicamentos, tomados até hoje, aumento da qualidade e tempo de sono e atenção aos momentos de descanso voltados para o próprio bem-estar. Hoje não sente vergonha nem dos sintomas nem de compartilhar sua história. Renata conta que dividir tudo o que passou é uma forma de ajudar quem está passando pela mesma situação. “Minha história pode servir de alerta e ajudar. E isso é muito importante”, afirma.

FORA DO TRABALHO

Motivos que fazem profissionais pedirem afastamento no Brasil 

MotivoAfastamentos por ano
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (exemplo: lesão por esforço repetitivo)721.167
Lesões (exemplo: acidente de automóvel)480.354
Transtornos mentais (exemplo: depressão)214.397
ENTRE OS TRANSTORNOS MENTAIS
1 - De humor, como depressão
2 - Neurótico, como síndrome do pânico
3 - Devido ao uso de substâncias psicoativas, como cocaína

* A matéria foi publicada originalmente na Revista ESBrasil 161, em janeiro/2019, e atualizada em 2021. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi originalmente escrita.

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