A reunião do BRICS em Joanesburgo, na África do Sul, talvez seja o principal encontro do bloco desde sua criação. Os motivos para tal avaliação são analisados abaixo
Por André Pereira César
Em primeiro lugar, está em discussão a ampliação do grupo, com o ingresso de diversos países – Argélia, Argentina, Arábia Saudita, Bangladesh, Bahrein, Belarus, Bolívia, Cuba, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Honduras, Indonésia, Irã, Cazaquistão, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Palestina, Senegal, Tailândia, Venezuela e Vietnã. A princípio, a proposta era defendida apenas pela China, pois esta reforçaria sua posição de potência em contraponto aos Estados Unidos. O Brasil, por sua vez, via o movimento com cautela, mas aos poucos começa a aceitar a ideia – talvez em troca do apoio chinês a um assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU. De todo modo, caso a proposta seja aprovada, aos novos membros serão demandadas contrapartidas. A conferir.
Além disso, a ausência de Vladimir Putin (ele participa virtualmente), em função da guerra da Ucrânia, representa um elemento importante. Na verdade, caso pisasse o solo sul-africano, ele correria grande risco de ser preso – a África do Sul é signatária do Tratado de Haia e, por isso, seria obrigada a tomar tal medida. De todo modo, o líder russo é representado pelo ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, igualmente linha dura.
Outro tema importante na agenda é a criação de uma moeda comum para transações econômicas entre os países. A proposta não significa a abolição das moedas locais, e sim uma unidade de referência própria, na qual os membros possam realizar trocas comerciais sem depender do dólar. A redução da dependência em relação à moeda norte-americana é uma pauta defendida pela China, com apoio de Lula, especialmente neste terceiro mandato. Também a Rússia, que sofre severas sanções do Ocidente decorrentes da guerra em curso, seria beneficiada.
Por fim, a chamada “nova governança mundial”, princípio basilar do grupo e pilar da política externa do presidente Lula, representa a busca por uma nova ordem mundial multipolar, mais equitativa. Ou seja, um contraponto ao contexto global marcado pela hegemonia dos Estados Unidos e de países europeus ocidentais. Uma nova ordem mundial sendo arquitetada.
Lembremos que, desde o início do século XXI, a agenda global mudou radicalmente. Entraram em cena temas que estavam fora do radar no começo dos anos 2000, como crise humanitária dos refugiados, tecnologia e Inteligência Artificial e, claro, meio ambiente. Todo um novo mundo aberto a debates e novos posicionamentos das nações.
Para concluir, a reunião do BRICS é mais um palco para o presidente Lula reforçar o (recuperado) protagonismo do Brasil na cena mundial. Com a ausência presencial de Putin, o brasileiro tem mais espaço para brilhar no evento, o que não é necessariamente ruim para o país.
André Pereira César é Bacharel em Sociologia e Ciências Políticas pela Unicamp, com especialização em controle orçamentário pela Escola de Administração Fazendária do Ministério da Fazenda (DF). Integrou a Escola de Governo de São Paulo e foi sócio na CAC Consultoria Política e consultor pelo Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP).