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sexta-feira, 26 abril, 2024

Sim, temos café forte!

A qualidade dos grãos produzidos no Espírito Santo conquista cada vez mais o mercado mundial e impulsiona as economias local e nacional

Aceita um cafezinho? Carregado de aroma e sabor, esse convite é irrecusável para mais de 199 milhões de brasileiros apreciadores da segunda bebida mais consumida no país. Mas o nobre grão não se resume a doses diárias de infusões, especialmente as matinais. Está em balas, bombons, brigadeiros, pudins, tortas, sorvetes e drinques variados. Segundo a revista Forbes, desde 2014 o Brasil está atrás apenas dos Estados Unidos no consumo do café.

Climas, relevos, altitudes e latitudes distintas, produzem quantidades e tipos diferentes de graõs. Portanto, a diversidade de regiões ocupadas pela cultura do café, possibilita atender às mais variadas demandas de paladar e preços, nesse gigantesco universo de consumidores.

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Presente em 98% dos lares no Brasil, a maravilha supostamente descoberta por Kaldi encontrou solo fértil em terras capixabas. O ES, mundialmente reconhecido pela produção do café conilon, ganhou recentemente também renome em grãos especiais.

“Vemos que a maioria das pessoas prefere um café tradicional, o coado, mas também tem aquelas apreciadoras do gosto mais refinado, que desejam pagar um pouco mais e degustar um café encorpado, com sabor e aroma diferentes, aquele feito com grãos especiais”, afirma o presidente do Sindicato do Comércio de Café em Geral do Estado do Espírito Santo (Sindicafé), Egídio Malanquini.

Presente em território nacional há quase 300 anos, responsável pelo processo de industrialização e modernização do país, o café hoje gera mais de 8 milhões de empregos. E movimenta, como Valor Bruto de Produção, R$ 24,3 bilhões neste ano.

Café forte

O Grupo Tristão, detentor da Realcafé, se mantém forte no mercado há 84 anos. Em todo esse tempo, presenciou crises que o fizeram aprender, fortalecer-se e melhorar. “As perspectivas para este ano são boas, mas sabemos que a economia é cíclica e que sempre temos tempos bons e ruins. Por isso, mesmo em tempos em que a expectativa é boa, devemos estar sempre nos aprimorando e trabalhando duro”, afirma o diretor comercial da marca, Bruno Moreira Giestas.

A empresa atua com quatro operações diferentes. “O café solúvel, tanto para exportação como para o mercado interno, apresenta um crescimento firme desde 2014, que se intensificou nos últimos dois anos”. E a perspectiva é muito boa para os próximos três anos, “vai trazer novos investimentos”, garante Giestas. “O Café Cafuso segue também crescendo, apesar do grande número de torrefações e de grandes players multinacionais nesse mercado”.

Mas o desafio é muito grande quando se fala em café Torrado e Moído Tradicional. Já a linha de Cafés Especiais Realcafé Reserva é a filha mais nova e ainda não completou nem dois anos. “Estamos levando para todo o Brasil os cafés especiais de nossas montanhas. Sempre estimulando os fazendeiros a aprimorarem as técnicas de cultivo e colheita por meio do Prêmio de Qualidade Realcafé”, observa o diretor comercial.

Há mais de 60 anos no mercado e tradicional nas mesas dos capixabas, o Café Praça Oito é um dos que mais se destacam por ser forte e encorpado.

E a expectativa é lançar um produto na família para atender todo tipo de público, destaca o gerente de Marketing e Produto da fabricante, André Gilles. “O mercado de café apresenta baixíssima sazonalidade, pois possui uso cotidiano e rotineiro, mas no último semestre foi notado um crescimento significativo de aproximadamente 16% comparado ao mesmo semestre do ano passado, fortalecendo que um produto com tradição, qualidade e 100% capixaba tem seu lugar”, defende Gilles.

Exportação

O café tradicional sempre foi muito benquisto no exterior. O Brasil exportou 35,2 milhões de sacas de grãos, em 2018, considerando a soma de café verde, solúvel e torrado & moído. Segundo relatório do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o dado representa um aumento de 13,9% em relação a 2017.

“Os volumes exportados em julho mostram que o Brasil mantém um ritmo positivo e trabalha o embarque de cafés sustentáveis com eficiência e qualidade. Um dos destaques foi o incremento nas exportações para os Estados Unidos e Alemanha, atualmente maiores importadores dos grãos brasileiros. A colheita referente a 2019/2020 está praticamente finalizada e tudo indica que manteremos bons resultados até o fechamento do ano. Mais uma vez, os negócios do café brasileiro com o exterior se mostram consolidados, graças à eficiência e forte compromisso com a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva e comercial do Brasil”, declara o presidente do Cecafé, Nelson Carvalhaes.

Ela ressalta que, até o momento, o Brasil exportou 42,1 milhões de sacas de café, dado que sinaliza recorde histórico para o período na comparação com anos anteriores. No entanto, a receita cambial com as exportações no período alcançou US$ 5,1 bilhões, decréscimo de 3% em relação ao ano anterior. Já o preço médio foi de US$ 144,53, queda de 14,9% sobre o valor de 2017.

Sim, temos café forte!
“A maioria das pessoas prefere um café tradicional, o coado, mas também tem aquelas com gosto mais refinado, que desejam pagar um pouco mais e degustar um café encorpado, com sabor e aroma diferentes” – Egídio Malanquini, presidente do Sindicafé

O valor da safra de café neste ano no Espírito Santo será R$ 860 milhões inferior ao obtido em 2018, estima a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

As colheitas do arábica e conilon devem render R$ 3,76 bilhões aos produtores, uma perda de 18,6%. O maior impacto será para quem fornece arábica, com queda de 38%, resultado da combinação de colheita menor e preço baixo.

Ainda no período safra 2018/2019, destaca-se o melhor desempenho nos embarques de café arábica dos últimos cinco anos. Um alcance de 28,2 milhões de sacas, registrando crescimento de 23,4% em relação à base comparativa anterior.

Já no Espírito Santo, no mês de julho as exportações somaram 701.075 sacas de 60 quilos, incluindo os tipos arábica, conilon e solúvel. A receita cambial verificada no mês foi de US$ 62 milhões. Em se tratando de conilon, principal espécie produzida em terras capixabas, o Estado exportou o maior volume mensal de sua história: 573.717 sacas. O recorde anterior ocorreu há 28 anos, quando foram embarcadas 546.769 sacas.

A ampla oferta global de café derrubou os preços internacionais, explica o presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), Jorge Nicchio. Fato que, somado à qualidade do conilon capixaba e à ausência de oferta de café robusta pelo Vietnã, principal concorrente do Brasil, atraiu os importadores. “Outro motivo foi a crise hídrica verificada no Estado, que acabou por fazer com que nossos produtores otimizassem suas técnicas de irrigação e renovassem os cafezais, o que provavelmente ocorreria só no ano que vem, antecipando os efeitos de uma alta produção em 2019”, afirma Nicchio.

A economista Arilda Teixeira destaca que as estatísticas indicam que a oferta será maior que a demanda. “Isso está acontecendo porque tem um desalinhamento entre a quantidade produzida e a procura pela commodity. A demanda (interna e mundial) está estabilizada e a oferta (produção) continua crescendo. Consequentemente o preço vai cair”, avalia.

Cafés especiais

Preparados de forma diferenciada, criteriosamente selecionados, com nível de acidez quase zero, além ostentar sabor e aroma exclusivos, os cafés especiais vêm conquistando novos admiradores a cada dia. Essas qualidades tornam o produto muito valorizado e, claro, se refletem no preço.

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Black Ivory Coffee (Tailândia) – Grãos cultivados acima de 1.500 metros de altitude. Consumidos por elefantes e expelidos nas fezes. Depois disso são esmagados. O quilo é vendido em torno de US$ 1.200 (cerca de R$ 4.500).

“Enquanto um quilo do café tradicional custa entre R$ 12 e R$ 14 no mercado, o especial pode chegar a R$ 70. Além disso, uma saca comum é vendida a R$ 350; já um microlote, como é chamada a saca do especial, é comercializado entre R$ 2 mil e R$ 2.500. É uma forma de valorizar o trabalho do produtor do Espírito Santo”, sublinha o presidente do Sindicafé.

Mas para quem pretende apostar nesse segmento, o melhor é se apressar, alerta a economista da Fucape Business School Arilda Teixeira. “Os concorrentes estrangeiros do Brasil já estão consolidados no cenário mundial de cafés especiais. Então, é preciso andar rápido para ocupar algum espaço, se é que ele ainda exista, nesse nicho de mercado”, assinala.

Entre aqueles que passaram a investir em um produto de alta qualidade, estão os cultivadores do Caparaó capixaba. “A região é reconhecida geograficamente pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC) como a maior produtora de cafés especiais, resultado do trabalho muito bem desenvolvido pelos agricultores. São reconhecidos pela reputação, pela qualidade e pelas características vinculadas ao local, mostrando que a região se especializou e tem capacidade de oferecer produtos diferenciados e de excelência”, garante Malanquini, do Sindicafé.

Sim, temos café forte!
Kopi Luwak (Bali) – Oriundo das fezes da civeta (mamífero), que, após engoli-lo, libera ácidos e enzimas sobre o fruto antes de expeli-lo. Custa em média US$ 500 (cerca de R$ 1.880)

Exemplo desse sucesso é o Jacu Bird, um dos cafés mais caros e exóticos do mundo, produzido na Fazenda Camocim, em Pedra Azul, Domingos Martins, e valorizado por seu sabor indescritível, resultado do elevado grau de pureza por ser cultivado sem qualquer interferência do homem. O pássaro ingere apenas os grãos maduros, e aqueles não digeridos pelo organismo do jacu são expelidos inteiros, com menos acidez. Esse é um dos motivos para o produto ser tão especial.

A média de preço varia entre R$ 70 – um pacote de 300 gramas – e R$ 700, o de um quilo.

Mais resistente

Em 2016, o Espírito Santo viveu a pior seca registrada nos últimos 40 anos, a ponto de decretar “estado de alerta”. Para auxiliar os produtores capixabas de base familiar, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) desenvolveu uma variedade melhorada de conilon: a “Conquista ES8152”.

Lançada na Fazenda Experimental do Incaper de Bananal do Norte, no distrito de Pacotuba, em Cachoeiro de Itapemirim, a variedade produz, em média, 74 sacas por hectare. “Essa semente agrega produtividade, ampla base genética, se adapta aos ambientes quentes do Estado, podendo suportar as altas temperaturas e a insolação. Além disso, é mais tolerante à seca e apresenta moderada resistência à ferrugem, principal doença do café”, diz o pesquisador do instituto Romário Gava Ferrão.

Viveirista no distrito de Capim Angola, em Rio Novo do Sul, Israel Rodrigues atua na área de produção há 16 anos e ressalta a importância da nova semente. “Na nossa região, que sofre com o clima quente, essa variedade é fundamental para nos dar condições de produzir cafés com qualidade ao longo do ano”, avalia.

Novos hábitos

Os apreciadores da bebida, principalmente na faixa etária de 35 a 50 anos, desenvolveram o costume de ir às cafeterias e bistrôs para conhecer diferentes tipos de grãos e degustar um café encorpado e saboroso. “Percebo que os clientes buscam qualidade no produto e estão consumindo cada vez mais. Também estão criando o hábito de levar o café em grão ou moído para casa para bebê-lo em ocasiões especiais”, observa o gastrônomo, barista e proprietário da Tulha Cafeteria, João Vitor Vasconcellos.

Ele pontua que costuma usar grãos de produtores do Espírito Santo justamente para fortalecer a agricultura capixaba. “Os clientes, às vezes, reclamam um pouco do preço do café que oferecemos, mas explicamos que há uma cadeia de pessoas envolvidas, que vai desde o produtor até as pessoas que o embalam. E assim eles passam a valorizar ainda mais o produto, a partir de então”, frisa.

A cultura de apreciar um bom café está sendo cada vez mais incorporada pela sociedade. “Observo que as pessoas que vão à cafeteria são clientes que se encontram com amigos para um happy hour ou simplesmente para se desligar da rotina diária que, na maioria das vezes, se torna cansativa”, revela o barista da Coffetown – The American Coffee and Cake, Eduardo Faustini.

Desde pequena, a estudante Luana Sant’Anna tem o hábito de consumir café, o que faz ao menos três vezes ao dia, para garantir bem-estar. “Ao acordar, é a primeira coisa que procuro. Para estudar, também faz toda a diferença, pois me sinto mais focada e bem mais atenta”, conta ela.

O jornalista Rogério Sardenberg também integra a lista dos fãs da bebida. “Costumo ir às cafeterias justamente para conhecer novos sabores, apreciar drinques feitos com o produto e também relaxar, depois de um dia bem cansativo de trabalho”, finaliza.

Cápsulas

Há alguns anos que o consumo de café em cápsulas não para de crescer. Cerca de 20% das famílias canadenses e norte-americanas já possuem uma cafeteira de expresso. E, impulsionadas pelo movimento de “gourmertização”, conquistam cada vez mais os lares brasileiros.

 

“Percebo que os clientes buscam qualidade no produto e estão consumindo cada vez mais. Eles também estão criando o hábito de levar o café em grão ou moído para casa para bebê-lo em ocasiões especiais”
João Vitor Vasconcellos, gastrônomo, barista e proprietário da Tulha Cafeteria

 

Pioneira no segmento nacional de cápsulas, a Nespresso desenvolveu a Edição Limitada Cafezinho do Brasil: uma mistura de grãos arábicas do cerrado mineiro e do Espírito Santo, realçada pelo adocicado Bourbon de Carmo de Minas e de Poços de Caldas.
Para chegar ao sabor ideal que o brasileiro aprecia, moradores de diversas cidades do país foram consultados pela equipe da marca. Os grãos são 100% nacionais e caracterizados por sua intensidade e textura aveludada, com notas herbais e um toque torrado.

“É uma briga muito forte por preço, e as pessoas acabam deixando de lado o principal fator, que é a qualidade do café. Nós, do Café Praça 8, prezamos pela qualidade do blend e temos certificação de pureza da Associação Brasileira de Indústrias de Café (Abic)”, garante o gerente de Marketing e Produto da empresa, André Gilles.

 

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