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sábado, 27 abril, 2024

Respeito é dever de todos

O diálogo, que permite a transmissão de valores de certo e errado, saiu de dentro dos lares, os filhos estão sendo criados pelas mídias

Por Myrinha Vasconcellos

A notícia mais badalada nos últimos dias trata do vídeo preconceituoso feito por três estudantes de biomedicina, na faculdade privada UNISAGRADO, em Bauru (SP), e viralizado nas redes sociais. No vídeo, as estudantes debocham afrontosamente de uma colega pelo fato de ter 44 anos e de estar cursando faculdade. O assunto causou grande revolta não só entre os estudantes da UNISAGRADO, mas em todo o País também.

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A prática do violento ato discriminatório acontece no mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. E então me advém uma indagação e espanto: Como mulheres assediam outras mulheres, quando deveriam se apoiarem?! A conduta reprovável, além de discriminatória e abjeta, se constitui na falta de respeito a um ser humano.

“O homem é produto do meio”, e nessa esteira me permito imaginar que a educação dessas três estudantes esteve muito longe da praticada antigamente, quando apenas um olhar dos pais era mais do que suficiente para que o filho entendesse que não estava agindo de forma correta. Num passado não muito longínquo, ao nos dirigirmos para a mesa de jantar, sabíamos que os assuntos deveriam girar sempre em torno da alegria, boas notícias e novidades.

Notícias ruins não faziam parte do cardápio! E muito menos a TV poderia ser ligada. As refeições sempre iniciavam com uma oração. Por mais simples que fosse, o cardápio tinha o aroma do amor, tempero principal de tudo que minha mãe fazia. Conversávamos sobre nossas experiências diárias, era um momento de troca e transmissão de aprendizados morais, ocasião para uma formação e educação a mais, transmitida de forma divertida, por meio de histórias e acontecimentos. A família é a célula mater da sociedade, é ali que se dá a transmissão de valores.

É preocupante imaginar que as crianças de hoje fiquem abandonadas diante de uma tela de TV ou do celular, na maioria das vezes, por opção dos pais, que entendem ser o aparelho uma forma de fazer seus filhos permanecerem quietos, enquanto eles próprios ficam presos à tela da TV ou do computador. Ou seja, o diálogo, que permite a transmissão de valores de certo e errado, saiu de dentro dos lares, os filhos estão sendo criados pelas mídias.

Em muitos lares, atualmente, a mesa de jantar não passa de um objeto de decoração na sala. Cada um se senta diante da TV ou se recolhe no quarto enquanto “engole a comida”, sim, engolem, porque muitos não devem sequer sentir prazer no alimento que saboreiam e, talvez, nem saibam o que é uma família reunida em torno da mesa. Não! Não sabem mesmo. Vegetam, engolem a comida, enquanto fazem um malabarismo digitando compulsivamente, com as duas mãos, rápidas, demonstrando notória ansiedade. Tem-se a impressão de que a qualquer momento o teclado do celular pode ser destruído, de tanto pressioná-lo com força.

Fico a pensar no sofrimento de Patrícia Linares, a aluna de 44 anos, que no meu entendimento ainda é jovem, que foi hostilizada, devido a sua idade, por três colegas agressoras, apenas por passar no vestibular e frequentar a universidade. Imagino que deva ter sentido um misto de tristeza, medo e desapontamento diante do momento que está vivendo. Por outro lado, não me aventuraria a questionar o que pensavam as três estudantes que não conseguiram ter a empatia de compreender que a Patrícia estava a concretizar um sonho: o de poder sentar em um banco na universidade!!!

Todavia, o irrestrito apoio dispensado pelos demais colegas da Universidade, pode ter lhe permitido crer que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Pequena sim é a alma dessas três estudantes, as quais no vídeo tiveram a petulância de afirmar coisas como: “a colega deveria estar aposentada”, “não sabe o que é o Google”, “gente, quiz do dia: como desmatricular uma colega de sala?”. Confesso que a repulsa tomou conta de mim ao assistir o vídeo que demonstra um verdadeiro massacre moral em desfavor de Patrícia Linares, uma mulher, que tem procurado se manter silenciosa…quem sabe envergonhada (quem não ficaria?) diante do constrangimento ao qual foi submetida.

Aqui faço um parêntese para dizer (enquanto mulher e idosa, trabalhando ativamente há 56 anos, imagino que para as três estudantes agressoras eu já deveria ter morrido e estar em franco processo de reencarnação nos próximos dias, vez que para elas uma pessoa com 44 anos já deveria estar aposentada). Afastando o humor, em momento algum da minha vida sofri qualquer tipo de discriminação. E se tivesse sido alvo de tamanha agressão, não hesitaria em buscar o “agasalho” da justiça, para reparar possíveis danos causados, inclusive, morais e emocionais, e não mediria esforços para postular na justiça uma reparação.

As assediadoras deveriam cumprir como pena, a prestação de serviços de ajuda a pessoas com problemas de ordem emocional em igrejas e comunidades para aprenderem a pensar no outro. Só vivenciando o problema na pele atingirão a maturidade necessária à construção de um mundo melhor, ancorado no amor ao próximo.

A indicação de prestarem um trabalho em igrejas e comunidades, se deve ao fato de ter observado que o comportamento dessas três estudantes, notoriamente, demonstra que lhes faltou na base familiar sólida, sobretudo, a presença de Deus, necessária em todos os lares.

Myrinha Vasconcellos é Especialista em Relacionamento Interpessoal, palestrante motivacional e escritora. É também artista plástica, consultora de harmonização de ambientes, fotógrafa e terapeuta floral.

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