De caminhão autônomo a sistemas de gerenciamento, portos do ES usam a tecnologia em favor da eficiência
Por Larissa Avilez
Investir em tecnologia e saber o momento certo para isso são fatores decisivos para que os portos aumentem sua produtividade e reduzam custos operacionais, tornando-se mais competitivos nos mercados nacional e internacional. Nesse cenário, ganha força o conceito de “Porto 4.0”, que propõe a adoção intensiva de soluções informatizadas e tecnológicas — como drones, big data, inteligência artificial, blockchain, machine learning e Internet das Coisas (IoT) — com foco na eficiência. Especialistas apontam que alguns portos já colocam esse conceito em prática, reforçando a importância de buscar continuamente inovações.
Em janeiro deste ano, um importante exemplo de inovação nacional aconteceu em solo capixaba: um caminhão 100% autônomo começou a rodar dentro do terminal da Portocel, em Aracruz – um feito, até então, inédito no país. Após um ano em testes, atualmente o veículo é usado no transporte de celulose nas vias internas do porto.
Graças à inteligência artificial e à interligação a câmeras e sensores, o veículo é totalmente conduzido por um sistema computacional. Essa automação oferece mais eficiência e um tempo de reação menor em situações de emergência, se comparada à operação convencional (humana), segundo a empresa.
O caminhão é fruto de um projeto iniciado em 2019 pela Portocel, em parceria com a Vix Logística e a Lume Robotics, uma startup criada por profissionais do Laboratório de Computação de Alto Desempenho da Ufes. O projeto também teve o apoio da Fapes (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo).
Cooperações estratégicas desse tipo podem ajudar o estado a alcançar o objetivo de ser um hub logístico de referência nacional – algo que para o CIO Alexsandro Lima faz todo o sentido, visto a abrangência dos terminais, a proximidade entre eles e a posição geográfica estratégica, perto dos maiores mercados consumidores do país.
“O Espírito Santo fica bem no centro do Brasil e acaba sendo, naturalmente, um possível hub interessante para a cabotagem (comércio interno), por exemplo. É também um grande polo de exportação de minérios e tem importantes terminais de veículos, carga geral e granel. Há um ecossistema bem heterogêneo, complementar e próximo”, analisou.


Para ir ao encontro desse desejo, os dois especialistas entrevistados concordam que o caminho é a automação. “Produtos a granel e contêineres são 100% automatizáveis. Com isso, reduz-se a mão de obra e otimiza-se o tempo. Esse é o caminho, mas é preciso muito investimento”, disse o professor Rodrigo de Alvarenga Rosa.
Como exemplo de sucesso, ele cita o VTMIS (sigla em inglês para Vessel Traffic Management Information System) do Porto de Vitória, implementado em 2017 pela Codesa (Companhia Docas do Espírito Santo). O primeiro sistema de controle de tráfego marítimo do país, segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte).
Essa solução tecnológica é composta por equipamentos que fornecem informações meteorológicas e de segurança, permitindo o controle sobre a área de fundeio, o canal de acesso, a bacia de manobra e os próprios terminais portuários.
Ou seja, torna mais rápida e eficiente toda a operação de carga e descarga.
Nesse sentido, Alexsandro Lima indica outros dois pontos que podem ser facilmente aprimorados: o fluxo de caminhões e a conferência de cargas. “Historicamente, esta segunda questão sempre foi extremamente morosa, porque exigia a presença física de algum fiscal. Agora, cada vez mais, tem sido feita de forma remota”.
Essa maior celeridade na fiscalização, segundo ele, ajuda a diminuir o “custo Brasil” – termo que se refere às despesas causadas por ineficiências do país – e minimiza casos de corrupção. “É um exemplo de algo que podemos resolver com um sistema, melhorando a eficiência da infraestrutura existente”, disse o CIO da iPORT Solutions.
Já o fluxo de caminhões pode ser aperfeiçoado por meio de agendamentos, que permitem mais cadência e previsibilidade, evitando filas de mais de 20 km de extensão, como as registradas em 2013, na chegada à cidade de Santos (SP). “É uma questão de organização, que só é possível através do contexto tecnológico”, afirmou.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 226, especial de Portos, que circula em abril de 2025.