Investimento em momento oportuno é indispensável para o setor se manter competitivo
Por Larissa Avilez
Investir em tecnologia e saber quando fazer esse tipo de investimento são dois fatores igualmente decisivos para os portos aumentarem sua produtividade e diminuírem custos de operação, tornando-se mais atrativos aos mercados nacional e internacional. A busca por melhorias e inovações deve ser constante.
Diante desse desafio, ganha força o conceito de “Porto 4.0”, cuja ideia é implementar – de forma intensiva – estratégias informatizadas e tecnológicas para obter uma maior eficiência. Isso inclui soluções de software e hardware, como o uso de drones, big data, inteligência artificial, blockchain, machine learning e IoT (Internet das Coisas, na sigla em inglês).
Segundo especialistas, alguns portos exemplificam o termo na prática. É o caso do Porto de Roterdã, na Holanda, que implementou gêmeos digitais (digital twins) para simular e otimizar as operações, reduzindo gargalos logísticos. Uma tecnologia “caríssima”, segundo Rodrigo de Alvarenga Rosa, professor da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).

“Essa é uma tendência, mas eu ainda não sei de alguém que tenha feito isso, de fato, por aqui. Basicamente, essa tecnologia consiste em criar uma cópia virtual do porto real, 100% fidedigna. Com isso, eu entro nesse porto virtual e posso fazer diversas simulações e testes”, explicou o engenheiro de transportes.
Ele também citou como um bom exemplo o Porto de Chancay, inaugurado em novembro do ano passado, no Peru, com forte aporte chinês. “Ele é totalmente automatizado, com praticamente nenhuma pessoa operando o porto. Até os caminhões são automatizados, adequados para andar dentro do terminal”, disse.
A automação, aliás, é um dos “caminhos promissores” para o setor avançar no Brasil, de acordo com o Ministério de Portos e Aeroportos. Outras iniciativas com potencial são a digitalização e os sistemas de monitoramento e controle energético, que podem otimizar a demanda elétrica e integrar fontes renováveis.

Obstáculos
Antes de adotar as tecnologias mais modernas, porém, especialistas ressaltam que os portos brasileiros precisam superar alguns problemas antigos, principalmente de infraestrutura e regulatórios, como a contratação obrigatória de trabalhadores junto a uma organização específica denominada Ogmo (Órgão Gestor de Mão de Obra).
“Pela legislação brasileira, o porto público é obrigado a manter a mão de obra avulsa, que eram os antigos estivadores, para operar equipamentos. Então, um possível investimento em tecnologia não vai ter o mesmo retorno que teria em terminais privados, nos quais não há essa obrigação”, explicou o professor da Ufes.
Diretor de Tecnologia da Informação (CIO) da iPORT Solutions, empresa focada em sistemas portuários digitais, Alexsandro Lima acrescenta que algumas leis nacionais têm interpretações estaduais ligeiramente diferentes e muitas normas ainda não são totalmente informatizadas – dois fatores que encarecem os processos.
“Da mesma forma que focamos em tecnologias de fora para solucionar os nossos problemas, é muito importante que os órgãos regulatórios também avancem, tentando incorporar normas internacionais, a exemplo do programa Operador Econômico Autorizado (de facilitação dos procedimentos aduaneiros), da Receita Federal.”
No entanto, o principal obstáculo segue sendo a infraestrutura precária e insuficiente. Com tal carência, o foco, muitas vezes, precisa ser um conserto ou a realização de uma dragagem, por exemplo. Consequentemente, não sobra capital para fazer investimentos mais pesados em tecnologia e inovação.
“Quando falamos de hardware, de equipamentos novos, de automações… costumam ser tecnologias importadas e inviáveis para a grande maioria dos terminais. Apenas aqueles muito grandes e com uma margem maior conseguem bancar isso, mas temos muito o que fazer antes de chegar nesse nível”, analisou Alexsandro.
Na visão dele, a dependência da importação de máquinas e sistemas é outro problema que o Brasil precisa superar. “Muitas vezes, ela é desnecessária. Um dos nossos esforços, como empresa, é fomentar a economia local, para que atuemos em um ganha-ganha maior e para que o país aumente cada vez mais a sua relevância”, disse.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 226, especial de Portos, que circula em abril de 2025.