Produtores cooperados colhem resultados positivos do associativismo com seus cafés sendo exportados e ganhando premiações internacionais
Por Daniel Hirschmann
Sabemos que o cooperativismo é uma filosofia que visa promover um mundo mais justo, equilibrado e feliz, oferecendo melhores oportunidades para todos os envolvidos. Entre os sete princípios do cooperativismo estão a adesão voluntária e livre, controle democrático pelos membros, participação econômica, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação e interesse pela comunidade.
Esses valores, além de destacar a busca por um modelo em que os colaboradores também são donos do negócio, reforçam o papel social e econômico do cooperativismo na criação de oportunidades e no desenvolvimento sustentável. No fim, todos saem ganhando.
O produtor de café especial Sivanius Kutz é cooperado há dez anos da Nater Coop e colhe os resultados do associativismo. Foi apenas de depois de se associar à cooperativa, em Itarana, que ele descobriu que podia produzir cafés especiais.
Na primeira prova de degustação do café, já bateu mais de 92 pontos, o que mudou todo o cenário, pois passou a ser reconhecido e mais bem remunerado. “Hoje o mercado já exige um produto melhor, aí a cooperativa já paga uma diferença no café especial. Quanto mais alta a pontuação, maior é o valor”, conta o produtor.
Com um perfil simples, enraizado na cultura pomerana, no final de julho Sivanius recebeu a visita de importadores australianos, “apaixonados” pelo café dele. “Até arrepia a gente. Os cabelos levantam. É muito gratificante que o serviço que a gente faz é reconhecido lá no outro lado do mundo”, conta Sivanius, que admite até certa dificuldade de falar português, pois no dia a dia a língua usada com a família é a pomerana.
Sivanius produz em torno de 30 sacas de cafés especiais por ano na propriedade de dez hectares, com dois dedicados ao café. Além da esposa, Lautivânia, ele conta com a ajuda da filha, Angélica, e do genro, Alexandro Hammer. Para ele, a cooperativa foi essencial no sucesso do negócio. “Ajuda muito. A orientação técnica, análise de solo. Sem cooperativa, é difícil pra nós aqui na roça”, relata Sivanius.
Café premiado e viagem à Itália
O agricultor Valdeir José Penna Cezati e sua esposa, Luciana Lobo, voltaram recentemente de uma viagem à Itália, onde estiveram com outros associados da Nater Coop. A viagem foi um prêmio pela conquista do 1º lugar na categoria Arábica Lavado do Prêmio Pio Corteletti de qualidade de cafés da Nater Coop, em 2023. Moradores do interior de Castelo, os dois viram a vida mudar depois que se tornaram cooperados.
“Tudo era muito desorientado”, lembra Valdeir, referindo-se sobre o tempo em que não era cooperado. Depois que se associou à Nater Coop, o apoio técnico para diversas questões da produção, como análise de solo e combate a pragas, além da facilidade para comprar insumos, fez a diferença. “Isso valorizou muito nossos cafés. Nós conseguimos um preço muito melhor através da cooperativa, que incentiva a gente”, comenta ele.
Luciana também percebeu que a cooperativa fortaleceu o trabalho. “Primeiro a gente trabalhava à moda ‘vamo simbora’ e não tinha instrução, não vinha técnico passar orientação. Era tudo desregrado. Depois que a gente se associou, começou a ter a visita dos técnicos e toda a assessoria, desde o manejo, lá na roça, até a venda do café”, compara.
A produtora destaca a abertura de mercado externo, além do conhecimento adquirido na viagem à Itália, quando o grupo visitou o armazém de café de um comprador. “Além de ser um grande comprador lá da Itália, que compra o nosso café daqui do Brasil, ele também compra de outros países. E ele interagiu a cooperativa brasileira com a dele lá nas negociações”, explica a produtora.
Segundo ela, os ganhos com o cooperativismo foram maiores do que o esperado. “A cooperativa nos abraça e nos transforma. Foi uma coisa que a gente não esperava”, afirma Luciana.
Mulheres mostram que podem
Eliane Rodrigues Lívio de Almeida é cooperada da Cafesul e integra o grupo feminino de produtoras da cooperativa, o Póde Mulheres, hoje com 30 integrantes. Ela foi uma das pioneiras, integrando o grupo desde o seu início e é sua a foto estampada no pacote do café Póde Mulheres, a primeira marca de café especial feminino 100% conilon no Brasil.
A cooperada levou para sua família um conceito de produção de cafés especiais como uma nova oportunidade de renda. Ela também está em um projeto de café orgânico, já certificado para mercado nacional e internacional. “Com o orgânico, além da qualidade, a gente trabalha com o bem-estar da natureza, por não usar nada químico, e a renda acredito que vai melhorar também, por ser um café diferenciado”, prevê.
No ano passado, Eliane e outras cooperadas do grupo receberam, por meio da Cafesul, uma estrutura completa de equipamentos para produção de cafés especiais, como terreiro coberto, descascador, medidor de umidade. Ela também participa de um projeto chamado “Compra Cooperada”, que prioriza atender as mulheres. A cooperativa compra delas produtos agrícolas, através da Nota Fiscal de Produtor, e doa para entidades do município.
Eliane conta que se associou à Cafesul em 2016, depois de muitos anos apenas acompanhando o marido, Pedro Petini, cooperado desde 1993, em assembleias. O casal mora no interior de Muqui e tem três filhos, Alan, Alessandro e Alerson, que ajudam nos finais de semana, quando também estão em casa.
Segundo ela, algumas mulheres não se associam a cooperativas porque, às vezes, o marido nem chama para as reuniões – ou, se chama, elas pensam que isso é só negócio de homem. “Algumas pensam como eu pensava e talvez não se tocam da importância que é trabalhar o cooperativismo. Porque, em cooperativa, a gente não trabalha pelo bem de um, a gente trabalha pelo bem de todos. Todo mundo quer e precisa ganhar, e com igualdade”, incentiva Eliane.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 223, de setembro de 2024. Leia a edição completa sobre Agronegócio Capixaba aqui.