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sexta-feira, 26 abril, 2024

Brasil: a pátria e o sentimento

O amor à pátria, o amor pelo Brasil, como todo sentimento traz à tona os aspectos emocionais que podem ser de apreço ou desprezo

Por Rodrigo Augusto Prando

Somos, provavelmente, todos nós – prezado leitor e prezada leitora – brasileiros. Compartilhamos uma mesma língua, vivemos num país continental e nossa cultura é riquíssima, em suas múltiplas dimensões: na música, na dança, no teatro, na literatura, nas artes plásticas. Nos esportes, também, nos colocamos, em muitas ocasiões, no topo do pódio ou, até, chamamos a Seleção Brasileira de Futebol, de “A pátria de chuteiras”.

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Pertencer a um país, manter com ele uma relação de patriotismo, é uma construção que, em grande parte, deriva de nossa socialização, no bojo da família, da escola e de outras instituições. Feriados em datas comemorativas como o Descobrimento, a Independência, a Abolição da Escravidão, a Proclamação da República, o Dia do Índio e o Dia da Consciência Negra, à guisa de exemplo, são responsáveis pela manutenção de nossa memória histórica e da importância da constituição de nossa nação e de nossa nacionalidade.

Não raro, feriados como estes podem prolongados e conjugados ao final ou início da semana e, desta forma, acabam por merecer a atenção do brasileiro por conta de um merecido descanso, do lazer com a família e amigos e bem pouco do real motivo da existência e importância da data comemorativa. O amor à pátria, o amor pelo Brasil, como todo sentimento traz à tona os aspectos emocionais que podem ser de apreço ou desprezo, de alegria ou tristeza, de pertencimento ou de exclusão, de proximidade ou de distância.

A maior parte dos brasileiros não pode, por questões econômicas, viajar para outros países e, por assim dizer, sofre um “choque cultural” ao travar contato com outra sociedade e seus costumes. Ausentar-se de nosso país por um período faz com que ressignifiquemos a importância de “ser” e de se “estar” no Brasil.

Queremos ouvir a sonoridade de nossa língua, gostaríamos de rir e acompanhar uma piada que não entendemos noutro idioma, ansiamos pelo nosso arroz com feijão e, mais do que tudo, queremos abraços e contatos afetuosos em nossas relações sociais. Como se diz por aí: só damos valor quando perdemos!

Há, contudo, que avaliar criticamente a condição de amor à pátria e de ser brasileiro. Parte considerável de nossos irmãos, concidadãos, vivem em condições precárias de vida, cujas desigualdades de renda, educacional e de oportunidades são barreiras intransponíveis. O patriotismo daquele que viaja para o exterior e tem acesso à educação e aos bens culturais é um; que patriotismo há naqueles que estão nas fímbrias da sociedade, abandonados, sem o mínimo que lhe garanta dignidade e um futuro?

Amar nossa pátria não deve ser imposição. Amor é sentimento nobre e espontâneo. Ser patriota não implica em xenofobia. Temos todas as condições objetivas de avançarmos na direção de uma sociedade mais próspera e com mais igualdade. O Brasil merece ser amado e isso reclama cuidado, consciência crítica e participação cívica e cidadã. Vamos amar mais este país?

Rodrigo Prando é professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.

*Artigo publicado originalmente em 4 de outubro de 2021

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