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quinta-feira, 18 abril, 2024

Bandes quer investir em títulos verdes e criar independência econômica

“O Bandes quer andar com as próprias pernas e não ter sempre que solicitar recursos para o Tesouro Estadual”.

Por Amanda Amaral

A participação de bancos de desenvolvimento no mercado internacional de títulos sustentáveis e sociais é uma novidade no país. Até o momento, o Brasil conta com experiências do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

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Contudo, no Espírito Santo, visando ampliar as fontes de recursos e criar uma independência econômica, o Banco de Desenvolvimento do Espirito Santo (Bandes) também quer abraçar a iniciativa.

A ES Brasil conversou com o diretor de Administração e Finanças do Bandes, Sávio Bertochi Caçador, sobre a parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na qual o objetivo é ganhar expertise para a emissão de títulos verdes, os green bonds.

A crescente demanda do mercado, segundo Caçador, justifica o interesse específico sobre este tipo de investimento, cujo recursos devem financiar projetos que têm impactos socioambientais que contribuam para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Como o Bandes se apresenta hoje no mercado financeiro?

Não participamos do mercado de ações. O Bandes é uma Sociedade Anônima, S.A., de capital fechado e não temos ações em negociação na bolsa, além disso, não participamos em razão do ponto de vista político. Participamos do mercado de capitais, que é diferente. Há uns quatro ou cinco anos, o Bandes compra cotas de fundos de investimentos de outras instituições de investimentos. Entre elas a Criatec e a Primatec. E como entramos nessa vertente? Compramos cotas desses fundos e fazemos uma amarra nessa compra. Colocamos tantos milhões, mas queremos que os gestores dessas instituições busquem empresas inovadoras, assim como startups aqui do Espírito Santo. A novidade mesmo e o Fundo de Investimentos e Participações, o FIP, que estamos constituindo em 2022 com recursos do Fundo Soberano, que possui aporte inicial de R$ 250 milhões e a gestora é a empresa Trivèlla M3 Investimentos. Essa gestora vai buscar empresas aqui do Estado ou que tenham interesse de se instalarem aqui. O Fundo coloca capital no empreendimento para ele tracionar, amadurecer, depois retira após algum ganho que essa empresa venha a ter.

O que são títulos verdes e o que o Bandes busca com esta inovação?

Agora já estamos falando sobre o mercado de títulos. Instituições financeiras, empresas não financeiras, investidores, entre outros, compram e vendem todo dia diversos tipos de papéis, ou seja, de títulos. Mas, os títulos podem ter uma finalidade específica. Fazer head, criar capital de giro, as vezes para o mercado imobiliário, entre outros. No caso dos títulos, são títulos cujo objetivo é financiar projetos ligados a economia verde, energia renovável, infraestrutura social, construção de creches, escolas, hospitais. Os títulos verdes são voltados para sustentabilidade e títulos sociais para a saúde, infraestrutura, educação. Existe ainda os títulos de gênero, que é um terceiro perfil, porque a ideia é financiar empresas lideras por mulheres. As empresas lideradas por mulheres têm dificuldade de acesso ao mercado de crédito, mulher empreende tanto quanto homem, mas tem dificuldade de acesso ao recurso. Porém, existem pesquisas que evidenciam que negócios liderados por mulheres tem menor inadimplência. Contudo, o Bandes, está estudando nesse momento a questão dos títulos verdes. Estamos conversamos com empresas que querem mudar sua matriz energética, empresas de transporte que querem mudar por frota de baixo carbono, etc. Este é um mercado que existe demanda crescente.

E qual a importância da parceria com o BID?

A gente já criou a parceira com o BID por meio de uma cooperação que já está firmada e oficializada. Assinamos no final de 2021 o contrato de empréstimo para atender com capital de giro empresas afetadas pela pandemia. Desde então, estamos construindo novas cooperações para que o Bandes possa avançar em outros temas relevantes. Temos essa pegada de ajudar o parceiro a se desenvolver também. O Bid contratou uma consultoria para melhorar os critérios de sustentabilidade e outra consultoria para construir uma esteira de crédito digital para micro e pequenas empresas, principalmente. E agora, temos a questão dos títulos temáticos. Vamos começar com uma estruturação. Para fazer esse trabalho de emissão vamos trabalhar com o BID para entender como estruturar isso. O que precisamos fazer em termos de processos e carteira de crédito para emitir estes papeis? O BID já fez uma parceria parecida com outros bancos de desenvolvimento, um deles é o de Minas Gerais.

Em que pé está o acordo de cooperação com o BID para a expertise da emissão de títulos verdes?

No momento, o Bandes está conversando com o BID para definir como essa consultoria dos títulos verdes vai acontecer.

Bandes quer investir em títulos verdes e criar independência econômica
A expectativa é começar as vendas em 2023, segundo Sávio Caçador. Foto: Divulgação/Bandes

O que o Bandes espera desse modelo de trabalho?

É preparar o Bandes para emitir títulos temáticos no mercado. O Bandes já vem trabalhando o corte do cordão umbilical com o Governo do Estado. O Bandes quer andar com as próprias pernas e não ter sempre que solicitar recursos para o Tesouro Estadual, geralmente, é por meio de um fundo de fomento, mas não queremos mais que seja assim. Por isso, buscamos outras soluções existentes no mercado. Nós temos feito o dever de casa para buscar independência.

Qual a previsão do Bandes para começar a emitir títulos verdes?

Nossa expectativa é começar as vendas em 2023. Esse ano de 2022 não faremos, é certo. A expectativa é 2023, mas desde que as condições de mercado sejam favoráveis. Não adianta emitir se o custo for elevado para a gente. Essas condições dependem de vários fatores como a conjuntura econômica, cotação do dólar, o percentual da Taxa Selic e de como serão as políticas públicas no momento. Realmente, é complicado essa instabilidade institucional no país.

Que mercado o Bandes vislumbra a partir da emissão desses títulos?

O mercado internacional. O BID tem uma empresa chamada BID Invest. Então, a ideia é que o BID nos ajudem a fazer a estruturação e que a BID Invest compre os títulos. Essa seria a engenharia financeira. O Bandes emite os títulos verdes, capta os recursos no mercado e com esses recursos faz operações de empréstimos de linha verde. Com o retorno dos empréstimos, o banco paga os recursos que adquiriu no mercado.

Existe a possibilidade de emitir títulos também para projetos sociais ou de outra espécie?

Existe este interesse sim, mas vamos por etapas e aos poucos.

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