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sábado, 27 abril, 2024

Cafés: Pequenos no tamanho, gigantes na qualidade

Os cafés produzidos no Espírito Santo florescem em culturas cujas raízes estão fincadas em um solo adubado por muito suor, amor e tradição

Por Robson Maia

É quase um DNA composto por café. São histórias que se originam, permeiam e se encontram em um aroma inconfundível, naquela que é a principal atividade agrícola do rico estado do Espírito Santo. Atualmente, são aproximadamente 131 mil famílias capixabas que têm no café a sua principal fonte de renda, mas também um vínculo com a história, tradições e raízes do solo espírito-santense.

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Duas delas merecem destaques não só pelas conquistas e premiações já obtidas, mas também por carregarem uma herança cultural e sintetizarem a grande força que é o café capixaba como produto consolidado no mercado brasileiro e internacional.

Em Muqui, tradição e evolução caminham juntas

O Sítio Grão de Ouro, em Muqui, guarda a história de um dos mais renomados produtores rurais do café capixaba. Há mais de 50 anos, Luiz Cláudio de Souza e sua família se dedicam ao plantio, colheita e distribuição do café Conilon. Assim como boa parte das famílias cafeicultoras, o café guiou a história desse clã.

“A minha família sempre trabalhou com café. Tudo começou com os meus avós, e eu, como eles, sempre fui apaixonado também. Meu pai também tinha lavoura, a gente trabalhava junto com ele. Hoje trabalhamos para continuar contando essa história”, destacou o produtor rural.

Ao longo dos anos, alguns aspectos do legado da família Souza sofreram adaptações. Nem sempre o Conilon foi o tipo de café que imperou nas lavouras do sítio. Até 2010, o principal cultivo era o do tipo Arábica, mas a análise de fatores externos e internos à produção (clima, rentabilidade, colheita e etc), fez a família optar pela modificação do plantio.

“Foi uma escolha direcionada para a variedade e facilitação da colheita. Fica melhor, nas nossas condições, para fazer uma colheita mais seletiva. O custo de produção [Conilon] é mais baixo, mas aumentamos em qualidade”, disse o cafeicultor muquiense.

Um ponto fundamental para o crescimento produtivo da família foi se apoiar no tripé tradição x tecnologia x cooperação. O equilíbrio entre os três pilares foi fundamental para que a família de Luiz se consagrasse em premiações nos últimos anos.

Cafés: Pequenos no tamanho, gigantes na qualidade
Luiz Cláudio venceu por três anos o Melhor Café do Ano / Foto: Arquivo Pessoal

O cafeicultor venceu por três anos (2018, 2019 e 2021) o “Coffee of the Year” (Melhor Café do Ano), na Semana Internacional do Café (SIC), além de fechar 2020 com cinco títulos, sendo dois estaduais e três nacionais. Premiações que tornaram Luiz Claudio o “Cafeicultor do Ano”.

Os resultados estão diretamente ligados a pesquisas e à adesão a novas tecnologias. O filho Talles (gerente Operacional e degustador da Cafesul), que atua ao lado do irmão Tássio no sítio, pontua que o pai nunca se opôs a evoluções tecnológicas no processo produtivo.

“Nós conseguimos colocar em prática nosso conhecimento. Nosso pai sempre permitiu e acreditou nas práticas de produção e pós-colheita que levamos para o sítio. O segredo da vitória é acreditar na pesquisa, colocá-la em prática e fazer tudo com amor e carinho”, afirmou Talles.

No último ano, a produção do Sítio Grão de Ouro deu mais um passo em direção aos “novos tempos”. O trio de produtores converteu em orgânica boa parte da produção de Conilon. Os processos começaram em 2018 e, em 2023, a família conquistou o selo orgânico do IBD (Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural), órgão na América Latina responsável pela avaliação dos processos produtivos e classificação de qualidade.

“A gente está trabalhando focado nos chamados ‘cafés especiais’ já há um bom tempo, especialmente agora, que temos o selo de café orgânico. Precisamos focar no orgânico, que trabalha melhor a questão da sustentabilidade”, finalizou o cafeicultor muquiense.

Em Domingos Martins, uma experiência multissensorial

A pouco mais de 130 quilômetros dali está outra lavoura que chama a atenção. Em Domingos Martins, a família Uliana, chefiada por Vagner, de 41 anos, é mais uma a manter o vínculo firme com as tradições familiares do café. A história começou com os avós e os pais, mas o cultivo era restrito ao consumo próprio.

Já no sítio Contos do Ninho, administrado por Vagner, a história tem crescido e conquistado espaço. No entanto, as tradições artesanais se mantêm. Nos quase dezoito hectares da propriedade familiar, aproximadamente dois são de plantação do café Arábica. Na visão do cafeicultor, antes de ampliar a produção, é preciso priorizar a qualidade.

“É uma produção bem artesanal, pequenininha, né? Antes de tudo, testamos variedades, para ver com qual café alcançaríamos uma qualidade maior. Agora, a ideia é estender [a produção] e plantar mais quatro hectares de café”, disse o produtor rural.

CAFÉS
Na última edição do Coffee of The Year, o café produzido no Contos do Ninho obteve a 3ª colocação / Foto: Arquivo Pessoal

A motivação e segurança para a continuidade do projeto estão vinculadas ao resultado obtido pelo capixaba na última edição do Coffee of The Year. Na primeira participação em premiações, o café produzido no Contos do Ninho obteve a 3ª colocação entre mais de 500 amostras enviadas de todo Brasil. “Ficar em terceiro lugar dentre tantos concorrentes em nível Brasil foi incrível, uma emoção muito grande. Para a gente, foi quase como ficar em primeiro, né?”, comentou Vagner com bom humor.

Hoje, ele e a esposa, Patrícia Uliana, viram o negócio se expandir muito além da produção cafeeira. O sítio se transformou em uma experiência gastronômica, turística e cultural. A família recebe curiosos de todo o Brasil que visitam as lavouras, aprendem desde o processo de plantio até o momento da torra do café e degustam diversos preparos com os grãos do Contos do Ninho.

“Acabou que tudo se encaixou. Estamos numa região turística. O prêmio naturalmente chama a atenção das pessoas. Hoje, elas não procuram mais a fazenda somente para se hospedar ou comprar o nosso produto. Os clientes buscam toda uma experiência com o nosso café”, concluiu Uliana.

 

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