O presidente do Banco Central só assume se aprovado pelos senadores, após sabatina em comissão e votação em plenário
Por André Pereira César
A esperada indicação do atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, para a presidência da instituição tem importantes elementos políticos. Antes de mais nada, o movimento reforça o estilo de atuação do governo Lula (PT). Para onde tudo isso vai? Teremos de fato uma gestão pós-Roberto Campos Neto, com menos atritos entre o BC e o Planalto?
De saída, há problemas na pressa da indicação de Galipolo, que incomodou o Senado Federal, que já havia alertado para o fato. Afinal, existe uma liturgia da qual não se abre mão jamais. Antes da sabatina, Galípolo terá que fazer o tradicional beija-mão, indo humildemente de gabinete em gabinete. Por exemplo, recentemente Flávio Dino, prestes a ir ao Supremo Tribunal Federal, vestiu a camisa da humildade previamente à inquirição pelos senadores em busca de apoio. Conseguiu.
Sem esse pedido de bênção, a situação pode complicar bastante. No caso, Galípolo tem traquejo para essas conversas (homem político que sempre foi, Dino tinha, diga-se)?
Essa é uma questão que será esclarecida em breve. Caso encaminhado de maneira equivocada, o processo pode ser negativo para o governo federal. A conferir.
Aos fatos. Somente pouco antes de anunciar oficialmente Galípolo para a presidência do Banco Central foi que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entrou em contato com o presidente da poderosa Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD), para informar que faria a indicação. O evento, conforme o imaginado, foi encarado como uma descortesia.
O presidente do Banco Central só assume se aprovado pelos senadores, após sabatina em comissão e votação em plenário. Em meio a uma crise entre os Poderes, que envolve inclusive o Judiciário e o Supremo Tribunal Federal, temos mais gasolina na fogueira.
Não acaba aí. Outros três novos diretores serão indicados em breve pelo governo para o BC. A depender da articulação política do governo – capenga, vamos lembrar – tudo pode desaguar em mais problemas. Nada de novo e surpreendente no front do governo Lula 3.0.
Enfim, como será a eventual gestão Galípolo no Banco Central? Manterá a autonomia ou será mais alinhada ao governo federal? As questões estão abertas.
André Pereira César é Bacharel em Sociologia e Ciências Políticas pela Unicamp, com especialização em controle orçamentário.