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domingo, 28 abril, 2024

Transição energética e reforma tributária são pautas da CNT em 2024

Mobilidade urbana e intermodalidade também estão no foco da confederação. Presidente da CNT, Vander Costa fala com a ES Brasil dos desafios para o transporte

Por Gustavo Costa

Para o país possuir um setor de transporte eficiente não há solução mágica, mas a soma de investimentos, estratégia e vontade. É o que pensa o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Vander Costa esteve em Vitória na última terça (27), participando do Fórum CNT Debates

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ES Brasil – Quais são os gargalos do transporte atualmente no Brasil?

Vander Costa – O gargalo no transporte brasileiro está na falta de investimentos nos últimos 20 anos, de forma geral. No governo atual, estamos recuperando. Conseguimos sair do orçamento da ordem de R$ 4 a R$ 5 bilhões para R$ 18 bilhões no ano passado. Para esse ano, a previsão é de R$ 16 bilhões. Então, com esse recurso, a gente está vendo a possibilidade de melhorar a infraestrutura. Se falava que o Brasil não investe em rodovias, não investe em ferrovias, não investe em novos portos. Agora é que isso está mudando. Temos o aquaviário no Arco Norte, que tem um grande desenvolvimento e movimentando milhões em cargas. Agora que se fala em licitar hidrovias no Brasil. Até brinco: “você vai licitar rio navegável, já que hidrovias nós não temos, né?”. Espero que nos próximos anos o cenário seja bem diferente.

ES Brasil – É o primeiro Fórum CNT do ano, aqui em Vitória. Qual o foco deste encontro?

Vander Costa – A gente quer discutir a multimodalidade. O pessoal fala que o Brasil é um país rodoviário. Não, o Brasil é um país que nos últimos 20 anos, com exceção do ano passado, não investiu em infraestrutura do setor de transportes. Só que o caminhão vai em qualquer lugar. A gente está puxando safra no Centro-Oeste brasileiro, onde não temos estradas. O caminhão entra na lagoa. Os cavalos mecânicos que traçam são verdadeiros tratores. Antigamente, o caminhão tinha a posição de duas rodas tracionando para duas direcionais. Hoje já tem quatro rodas tracionando para duas direcionais. Então, não é verdade que o Brasil preferiu o modal rodoviário. O modal rodoviário é que se virou e foi buscar a safra onde ela estava.

ES Brasil – Como o Espírito Santo pode aproveitar sua posição geográfica?

Vander Costa – O Espírito Santo tem uma oportunidade pela sua localização logística, privatizaram o porto tem pouco tempo. Mas para viabilizar um porto é necessário que o contêiner chegue aqui, que a carga chegue aqui. O objetivo da CNT é mostrar que o transporte tem que ser discutido de forma geral: intermodalidade requer atenção com ferrovias, portos e rodovias. Não adianta eu ter um excelente porto se eu não consigo colocar e tirar carga. Então, um dos objetivos de hoje aqui é discutir a importância da intermodalidade para desenvolvermos as ferrovias, as rodovias e dar atratividade para o porto. 

Nos preocupamos em trazer rodovias cada vez melhores e mais eficientes para o Espírito Santo. Temos que resolver o problema da BR 101 que foi licitada, mas tem processos de devolução. Tem a BR 262, que precisamos discutir alternativas para poder ligar o Espírito Santo ao centro do Brasil. E temos que falar em ferrovias também. O Espírito Santo tem uma grande ferrovia que é a Vitória-Minas, mas ela se dedica só ao minério. Precisamos pegar esses trilhos e trabalhar o potencial de transporte e abrir para outros tipos de cargas.

ES Brasil – Como fazer toda a esteira do transporte funcionar bem, da colheita ao embarque?

Vander Costa – O pessoal da agricultura fala que o Brasil é muito desenvolvido da porteira para dentro e a gente está trabalhando para sermos também competitivos da porteira para fora. Na hora que a gente conseguir um transporte intermodal eficiente, faremos com que fique mais dinheiro na mão do produtor. E não só na agricultura, mas também na indústria. Você vai ver, a indústria só é estabelecida onde tem estrutura de transporte, seja ferroviário ou rodoviário. Então, investir em estrutura é fundamental para poder promover o crescimento econômico e social.

ES Brasil – Durante a abertura do evento, você comentou sobre a questão da CNT defender o biocombustível e não do biodiesel. Qual a razão disso?

Vander Costa – A CNT está preocupada em fazer a transição energética no transporte de cargas e passageiros de forma eficiente. Uma pesquisa mostra que aumentar o percentual de biodiesel de 8% para 12%, ao invés de reduzir a emissão de poluentes, aumenta a emissão principalmente do CO² que provoca efeito estufa. Outra coisa, aumentar a mistura do biodiesel base ester, que é produzido no Brasil, faz o veículo perder eficiência e consumir mais. Então, o que nós estamos propondo ao governo é fazer uma transição energética. Eficiente e tecnicamente correta. O biodiesel que é utilizado no Brasil só é usado aqui mesmo.

Na Europa se usa o biocombustível, que é conhecido como HVO. A base é a mesma, tudo é feito de soja, de origem vegetal, mas tem uma forma de ser processado diferente. Ele é mais caro do que o biodiesel. Mas entre escolher o mais caro que traz efeito para reduzir emissão de poluentes e o barato que polui mais, eu prefiro ficar com o mais caro. E outra discussão que faz, na hora que você fala emissão de poluentes pelo transporte, coloca todos os veículos que transportam no Brasil e isso significa que moto e automóvel também estão poluindo e não está sendo focado em cima deles. Para mobilidade urbana, dos 10% de emissão de poluentes que é feito pelo modal, 1% é ônibus, o resto é caminhão, moto e automóvel. Então, o debate que a CNT propõe é trabalhar para um mundo melhor, mas de forma técnica, sem experimentar aquilo que cientificamente está comprovado que não gera resultado.

ES Brasil – Quais as pautas da CNT até o final do ano?

Vander Costa – A gente vai ter uma pauta grande na transição energética, estamos procurando a melhor solução para o transporte. Eu não acredito que tenha uma solução única. Queremos uma transição energética eficiente e que beneficie o povo. A pauta tributária também é uma pauta extremamente importante. Aprovamos a reforma tributária no ano passado, mas ela traz diretrizes. Agora, com a Lei Complementar, que vamos ver efetivamente a parte prática. E estamos preocupados em resolver a questão da mobilidade urbana. Temos que acabar com o viés de que no Brasil reina de privilegiar o individual. Temos automóvel e motocicleta em detrimento do coletivo, que seria ônibus, metrô e trem. Esses três assuntos já são suficientes para se discutir muita coisa. Tem ainda a pauta do Judiciário, que a gente está sempre atento. No Brasil, você faz uma lei, aprova no congresso, corre para não vetar, e se vetaram algo nela, alguém derruba o veto. Depois temos a judicialização, como aconteceu na Lei do Seguro de Carga e pode acontecer no tanque de combustível. Então, a gente vai estar atento às novidades, mas o foco deve ficar mesmo na transição energética, na reforma tributária e na mobilidade urbana.

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