Não foram raros os casos em que a ordem natural da vida foi contrariada e, assim, foram obrigados a se despedir de filhos, netos e irmãos mais novos
Por Gustavo Genelhu
Passaram-se dois anos desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a pandemia de Covid-19, em março de 2020. Enfretamentos difíceis e um estresse coletivo ocasionados pelo isolamento social, pelo medo de contrair a doença e problemas financeiros predominaram nesse período turbulento.
Em meio a esse cenário, a vulnerabilidade das pessoas mais idosas se manteve de forma constante, frente à doença que dizimou milhares de vidas, subtraindo tantos entes queridos do convívio dos nossos vovôs e vovós. Não foram raros os casos em que a ordem natural da vida foi contrariada e, assim, foram obrigados a se despedir de filhos, netos e irmãos mais novos.
Segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a depressão atinge 13% da população com idades entre 60 e 64 anos.
Vários motivos explicam esse índice de depressão na terceira idade, que já era uma tendência antes da crise sanitária. O sentimento de solidão, sem dúvida foi intensificado pela pandemia, mas também pelas relações sociais que se tornam menos intensas com o passar dos anos.
Precisamos estar atentos a algumas particularidades que rondam esse problema tão sério. Os idosos não manifestam suas queixas ou, quando fazem, o problema às vezes não recebe a atenção devida no sentido de se buscar o tratamento adequado.
A depressão ocorre, em boa parte dos casos, num processo lento, quase imperceptível: aquele vazio na alma revestido de profunda tristeza, que aos poucos toma conta dos dias e das noites. E, por fim, vai se transformando numa doença silenciosa e altamente destrutiva.
O aumento da expectativa de vida, por si só, é uma conquista para a humanidade. Sobreviver a dois anos de uma pandemia destruidora de vidas também é uma dádiva de Deus.
Contudo, não basta adicionar anos à vida. É fundamental viver com uma qualidade que assegure uma terceira idade tranquila, autônoma e feliz. E isso passa pelo enfrentamento das doenças da alma, sendo a depressão uma das piores.
A depressão é uma realidade entre idosos e exige tratamento, mas a terapia precisa ir além dos remédios. A família é um pilar essencial nesse processo de diagnóstico e cura, a começar por não ignorar sinais de alerta, como insônia, falta de apetite, murmurações exageradas e outros.
Além de cuidar e preservar a saúde física, é muito importante avaliar como está a saúde emocional dos nossos idosos. Doses de amor e cuidado fazem um efeito inimaginável na cura de muitas doenças, inclusive a depressão.
Gustavo Genelhu é formado em Medicina pela Universidade Gama Filho. Residência em Clínica Médica pela UFRJ. Médico Geriatra titulado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Médico Intensivista titulado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Diretor Técnico do Grupo Royal Care. Médico Rotina da UTI geral do Hospital Unimed Vitória.