Janot aponta o suposto aval de Temer para a compra de silêncio do doleiro Lucio Funaro, operador de políticos do PMDB, e atuação no “quadrilhão” da Câmara dos Deputados
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o presidente da República, Michel Temer, pela segunda vez nesta quinta-feira (14). A denúncia dessa vez é pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça.
À véspera de deixar o cargo, o procurador-geral decidiu oferecer uma única denúncia, envolvendo fatos relacionados aos dois crimes, e não duas, como se cogitou anteriormente.
O presidente já foi denunciado uma vez por corrupção passiva, mas a maioria da Câmara votou por barrar o prosseguimento da acusação no Supremo Tribunal Federal (STF). A nova denúncia também deve ser encaminhada à Câmara para que os deputados deliberem pelo prosseguimento ou pela interrupção da acusação.
Fatos contra Temer
Janot utilizou a investigação da Polícia Federal (PF) que detalha uma suposta organização criminosa integrada por líderes do PMDB na Câmara. Além de Temer, integram o grupo os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência). O ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência Geddel Vieira Lima e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN).
Moreira Franco. Geddel, Cunha e Alves estão presos preventivamente. Temer, Padilha e Moreira, no Palácio do Planalto. A obstrução de justiça diz respeito a suposta atuação de Temer para obter o silêncio de Cunha e do doleiro Lúcio Funaro, operador de esquemas do PMDB da Câmara. Neste caso, segundo Janot, o presidente teria dado aval para Joesley Batista comprar esse silêncio, a partir de gravação feita pelo executivo dentro do Palácio do Jaburu.
Início
A investigação sobre os atos de Temer no exercício do mandato de presidente teve como ponto de partida as delações dos executivos da J&F, proprietária da JBS. O presidente foi gravado por Joesley Batista no dia 7 de março em encontro tarde da noite no Palácio do Jaburu. Joesley contou a Temer que fazia pagamentos a Cunha e Funaro e ouviu do presidente o conselho de “manter isso”. O empresário disse ainda que estava tentando segurar procuradores e juízes que o investigavam.
Em conversa com o então deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB/PR), Joesley pediu ajuda em favor de uma usina termelétrica sua que estava em litígio no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A briga era contra a Petrobras para tentar garantir fornecimento de gás importado da Bolívia. Semanas depois foi feito um acordo entre a Petrobras e a térmica até o final de 2017, que acabou rompido após a delação vir à tona.
O pagamento a Loures, gravado pela PF correndo com uma mala de dinheiro, faria parte deste acordo e, de acordo com a PGR, Temer seria beneficiário final dos recursos. Rocha Loures devolveu a mala com R$ 465 mil e, em seguida, depositou os R$ 35 mil restantes. Esse caso embasou a primeira denúncia contra Temer.
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