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quarta-feira, 22 DE janeiro DE 2025

Setor hoteleiro capixaba demanda investimentos e divulgação

Hospedagens no ES enfrentam desafios como baixa ocupação e visibilidade, mas promoção de eventos pode ajudar

Por Ludmila Azevedo

O Espírito Santo é um destino turístico mais conhecido pelo litoral, especialmente de municípios da Região Metropolitana, como Vila Velha, Vitória e Guarapari, e no sul, como Marataízes. Entretanto, especialistas apontam que o potencial do estado ainda não é plenamente aproveitado, já que há uma diversidade de modalidades de turismo, como o gastronômico e o agroturismo, que são fortes na região das Montanhas Capixabas, por exemplo.

A variedade de destinos que o estado oferece ainda é pouco conhecida fora do Espírito Santo.bUma das grandes questões é que o estado não parece ser “anunciado” como destino corretamente. E se todas as belezas fossem, de fato, divulgadas, teríamos estrutura para os interessados?

A indústria hoteleira acredita que não e, inclusive, tem interesse em investir e criar soluções para essa equação.“Nossos associados têm mais de R$ 1,5 bilhão em investimentos em hotéis e precisamos faturar muito para justificá-los. Precisamos de investimentos em melhorias dos estabelecimentos existentes, pois menos de 30% estão no Cadastur, sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas vinculado ao Ministério do Turismo. Não estar no Cadastur significa, por exemplo, que o negócio não pode conseguir o licenciamento do Corpo de Bombeiros para a hospedagem funcionar”, explicou Fernando Otávio Campos Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Espírito Santo (ABIH-ES).

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De acordo com o DataSebrae, há 675 hotéis ativos no Espírito Santo. Esse cálculo não inclui albergues ou apartamentos de aluguel por temporada. Já o Cadastur, do Ministério do Turismo, conta com 448 meios de hospedagens inscritos e regulares em território capixaba.

Hotel Senac Ilha do Boi: localizado na Praia do Canto, área mais movimentada de Vitória, oferece muitas opções de lazer no seu entorno, diferentemente de muitos outros hotéis do ES - Foto: Acervo Next Editorial
Hotel Senac Ilha do Boi: localizado na Praia do Canto, área mais movimentada de Vitória, oferece muitas opções de lazer no seu entorno, diferentemente de muitos outros hotéis do ES – Foto: Acervo Next Editorial

Campos Silva acrescentou que o Espírito Santo não tem tanta procura como destino turístico quanto poderia ter. Isso faz com que os donos de hotéis tenham que reduzir alguns preços, por exemplo.

O dirigente da ABIH-ES ressaltou que “estamos vivendo com grandes gargalos, que são a falta da demanda permanente o ano inteiro e um valor de diária média baixa. A diária média do nosso estado está, inclusive, entre as mais baixas do Brasil”. Em sua avaliação, falta um plano robusto de captação de demanda.

“As pesquisas do governo apontam que um turista gasta cerca de R$ 250 por dia no estado com hospedagem, alimentação e serviços. Considerando que a reforma tributária deve ter uma taxa de 28%, e 14% serão do estado e municípios, o Espírito Santo precisaria atrair mais de 2 milhões de turistas de fora do estado, sem reduzir os números atuais e o turismo interno”, afirmou Fernando Otávio Campos.

Considerando os custos da construção de novas unidades, equipamentos e capacitação de mão de obra, o empresário estima que o estado precisa atrair mais de R$ 10 bilhões em investimentos somente na hotelaria.

Attila Barbosa, do SindiHotéis-ES, defende a continuidade de grandes eventos para gerar receita para o estado - Foto: Divulgação
Attila Barbosa, do SindiHotéis-ES, defende a continuidade de grandes eventos para gerar receita para o estado – Foto: Divulgação

Solidez e continuidade

De acordo com o presidente do Sindicato de Hotéis e Meios de Hospedagem do Estado do Espírito Santo (Sindihotéis-ES), Attila Miranda Barbosa, o que um investidor busca e precisa em um destino para investir é que ele proporcione solidez e continuidade de receitas.

“Para o Espírito Santo realmente despontar, apesar de ser uma potência imensa do turismo de negócios, de lazer, do agroturismo e do turismo de aventura, por exemplo, é ter uma continuidade de grandes eventos culturais, esportivos, voltar a ter grandes eventos coorporativos como a Feira do Mármore e Granito. Todos esses eventos criam movimentação turística, gerando ainda mais robustez e segurança no investimento.”

Soluções incluem planejamento e centro de eventos

Os especialistas indicam que o devido planejamento de captação de demanda turística, com investimentos fortes na divulgação dos destinos, pode trazer turistas de fora para cá.

“Um plano de marketing estadual pode solucionar o problema de falta de demanda para o ano inteiro no nosso estado, trazendo mais estabilidade”, analisou Fernando Otávio Campos.

O vice-presidente do SindiHotéis-ES, Gustavo Guimarães, afirma que o Espírito Santo precisa “estar na moda” para ser vendido de forma turística. “Precisamos de promoção.

Captação de novos investimentos em hotelaria, em equipamentos turísticos, em parques, escunas de passeio, toda uma cadeia produtiva do turismo precisa ser valorizada com promoção. Promoção e divulgação, para melhorar essa comercialização dos nossos equipamentos”.

Área de eventos deve começar a ser construída no ano que vem onde hoje é o Pavilhão de Carapina, na Serra - Foto: Divulgação
Área de eventos deve começar a ser construída no ano que vem onde hoje é o Pavilhão de Carapina, na Serra – Foto: Divulgação

Uma estratégia que já está em andamento é a construção de centros de eventos para trazer eventos corporativos e de entretenimento para cá. Um desses centros vai ficar no local onde hoje está o Pavilhão de Carapina, na Serra. De acordo com a Secretaria de Estado de Turismo (Setur), o anteprojeto logo será entregue pela Prefeitura Municipal da Serra ao Departamento de Edificações e Rodovias do Estado (DER-ES). O órgão vai aprovar o anteprojeto e fará a contratação integrada para a execução da obra em até dois anos. A expectativa é de que a licitação saia em março de 2025.

O Aeroporto de Vitória também vai receber um grande centro de eventos, segundo os empresários. “Com a construção de novos centros de eventos, incluindo o que terá no aeroporto, teremos uma oportunidade no mercado de hotelaria”, espera Campos.

Attila Barbosa, do SindiHotéis-ES, relata que os eventos têm sido grandes responsáveis pela lotação de hotéis na Região Metropolitana do estado. “Quando acontece mais de um evento no mesmo período, ou um evento de maior porte, todos os nossos hotéis, principalmente os mais conceituados e com localizações estratégicas, perto da praia ou do local do evento, registram alto número de ocupações. Muitas das vezes, visitantes que buscam esse destino no mesmo período têm dificuldades de conseguir realizar sua reserva”.

Reserva Ambiental Aguia Branca - Empresários afirmam que as belezas do estado precisam ser melhor divulgadas para atrair mais visitantes - Foto: Tuane Oliveira
Reserva Ambiental Aguia Branca – Empresários afirmam que as belezas do estado precisam ser melhor divulgadas para atrair mais visitantes – Foto: Tuane Oliveira

Infraestrutura aérea e recursos humanos qualificados

Outro fator crítico que limita o crescimento do turismo capixaba é a infraestrutura de transporte. “A malha viária em algumas regiões do Espírito Santo, especialmente em áreas turísticas mais afastadas, ainda é precária. Além disso, o Aeroporto de Vitória, apesar de melhorias, ainda precisa de mais voos nacionais e internacionais para facilitar o acesso ao estado”, defendeu Attila Barbosa.

O presidente da ABIH-ES, Fernando Otávio Campos, ressalta que o aeroporto opera aquém de sua capacidade. “Nosso aeroporto, considerado um dos melhores do Brasil, opera com menos de 50% de sua capacidade. A distância entre o aeroporto e as praias capixabas é muito menor do que entre Porto Alegre e Gramado, mas a cidade gaúcha recebe quatro a cinco vezes mais turistas que o Espírito Santo”, relata Fernando. Essa comparação revela ainda mais a necessidade de estabelecer parcerias para ampliar as rotas do Aeroporto de Vitória.

A qualificação da mão de obra também se apresenta como um desafio significativo para a hotelaria capixaba. A escassez de profissionais qualificados e a concorrência com outros setores, como a construção civil e a agricultura, tornam a situação ainda mais complicada.

Apesar de o Espírito Santo possuir um dos menores índices de desemprego do Brasil, a hotelaria sofre com a migração de trabalhadores para áreas que oferecem melhores salários e condições de trabalho.

“Para tornar o setor de hospedagem mais atrativo, é essencial que as partes envolvidas compreendam a importância de contar com profissionais qualificados. O turista que visita o Espírito Santo busca uma experiência de hospedagem de qualidade, desde sua chegada até o retorno para casa. Por isso, investir na formação e retenção de mão de obra é crucial”, arremata o gerente de Educação Profissional do Senac-ES, Bruno Emilio.

Golden Tulip Porto Vitória: Investimento em eventos corporativos alavanca procura por hotéis, segundo especialistas - Foto: Renato Cabrini
Golden Tulip Porto Vitória: Investimento em eventos corporativos alavanca procura por hotéis, segundo especialistas – Foto: Renato Cabrini

Os principais gargalos

– Falta de divulgação
As belezas capixabas ainda são desconhecidas por pessoas de fora do estado – quer do país, quer do exterior.

– Taxa de ocupação instável ao longo do ano
Há grande ocupação na alta temporada, indo além da capacidade, mas no resto do ano a ocupação é tímida.

– Falta de mão de obra
Profissionais qualificados com experiência em hotelaria estão em falta e mercado demanda capacitações.

– Infraestrutura turística complementar
É preciso investir em bares, restaurantes e opções de lazer nas proximidades dos hotéis.

– Transporte aéreo limitado
O Aeroporto de Vitória não tem grande oferta de voos, especialmente diretos. Apesar da vantagem de proximidade dos atrativos turísticos, o acesso precisa ser melhorado.

– Insegurança para investir
O empresário quer investir, mas não sabe se terá retorno, já que o índice de ocupação é instável.

Afonso Cláudio - Vista da Pedra da Lajinha: o acesso viário aos pontos de interesse do turista, em especial fora da Região Metropolitana, ainda precisa de muitas melhorias - Foto: Marcos Geraldo A. Oliveira
Afonso Cláudio – Vista da Pedra da Lajinha: o acesso viário aos pontos de interesse do turista, em especial fora da Região Metropolitana, ainda precisa de muitas melhorias – Foto: Marcos Geraldo A. Oliveira

Orçamento 2025 deve ter mais espaço para o Turismo

O Orçamento de 2024 aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado teve cortes na verba destinada ao turismo, o que foi alvo de críticas. “Tirar o investimento é prejudicar o setor, pois a cada real que se tira do turismo, perde-se 10% de receita. O investimento no turismo tem retorno imediato e o Estado arrecada impostos sobre os serviços”, disse o presidente do SindiHotéis-ES, Attila Barbosa.

O empresário já recebeu a informação de que, para 2025, a proposta é de aumento de recursos. “O corte do investimento para o Turismo está em prática no exercício de 2024, mas para 2025 existe a proposta ade aumento de recursos para a pasta de Turismo, que poderá dobrar, saltando de R$ 16,8 milhões para R$ 36,3 milhões no próximo ano”, completou. A proposta ainda será votada pelos deputados estaduais na Assembleia.

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