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domingo, 26 DE janeiro DE 2025

Turismo é aposta de nova matriz econômica no Espírito Santo

Espírito Santo tem mais de 57 mil empresas ativas no segmento de turismo, sendo que mais de 97% são pequenos negócios

Por Ludmila Azevedo

A Reforma Tributária é inevitável e fará sentir seus efeitos nos próximos anos. O período de transição tem início em 2026 e vai até 2033, quando então a mudança passa a valer integralmente. Aprovada no Congresso Nacional, a nova legislação prevê a extinção dos cinco tributos sobre consumo: IPI, PIS, Cofins, ICMS (estadual) e ISS (municipal). De acordo com o superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES), Pedro Rigo, estados menores como o Espírito Santo podem ter a arrecadação afetada negativamente.

“A população é menor e, portanto, o volume de consumo é também menor que em estados maiores e mais populosos. Por isso, precisamos de novos negócios para arrecadar mais receita, e sabemos que o turismo é uma atividade de grande potencial, que ainda não é completamente explorada por aqui. O Sebrae/ES está apostando no turismo porque enxerga o potencial do setor para se transformar na grande matriz econômica pós-reforma tributária no Espírito Santo.”, afirmou o dirigente.

Hoje, de acordo com informações do DataSebrae, o estado tem 57.277 empresas ativas no segmento de turismo, sendo que 55.959 são pequenos negócios – micro e pequenas empresas, além de microempreendedores individuais. Esse número equivale a 97,7% das empresas que atuam no turismo capixaba.

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O Executivo estadual está otimista com o crescimento do setor. A última edição do Boletim Economia do Turismo, elaborado pela Secretaria do Turismo (Setur), pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), demonstra que a receita do turismo no Espírito Santo aumentou 2% no acumulado do ano, comparando o 2º trimestre de 2024 com o 2º trimestre de 2023.

A pesquisa aponta ainda que o turismo capixaba se desenvolveu três vezes mais que o turismo brasileiro como um todo no segundo trimestre deste ano. “Esse resultado é fruto das políticas públicas coordenadas pela Secretaria de Turismo, em parceria com outras secretarias. Registramos crescimento no número de postos de trabalho e no rendimento das pessoas empregadas na economia do turismo no estado”, comentou o diretor-geral do IJSN, Pablo Lira. O Instituto estima ainda que a atividade turística corresponde a cerca de 6,9% da receita gerada pelo Espírito Santo.

“Estamos preparados para investir R$ 50 milhões até 2026 para capacitar esses pequenos empreendedores, preparando-os para atender e receber bem o visitante. Além disso, 40% dos atendimentos presenciais nos nossos escritórios estão dedicados aos pequenos empreendimentos com atividades ligadas ao turismo”, acrescentou Pedro Rigo.

A Curva da Jurema, em Vitória, é visita obrigatória para quem está “turistando” na capital capixaba - Foto: Reprodução Instagram/Clericot Café
A Curva da Jurema, em Vitória, é visita obrigatória para quem está “turistando” na capital capixaba – Foto: Reprodução Instagram/Clericot Café

Com o trabalho de capacitação e consultoria, uma das expectativas é auxiliar os negócios a realizarem o registro no Cadastur, que é o Sistema de Cadastro de Pessoas Físicas e Jurídicas que atuam no setor do turismo, executado pelo próprio Ministério do Turismo (MTur). “Atualmente, 3.669 empresas com registro no Espírito Santo constam no Cadastur.

Nosso objetivo é aumentar o número de empreendimentos capixabas cadastrados em 50%”, estimou o superintendente do Sebrae.

Esse banco de dados representa a principal fonte de consulta para o mercado turístico brasileiro. É como se as empresas que não fizeram o cadastro – que é gratuito – ficassem invisíveis para importantes parceiros de negócios de fora do estado, como agências que gostariam de incluir o Espírito Santo em seus pacotes de viagens. O registro proporciona ainda oportunidades de qualificação e de negócios, acesso a novos mercados e a linhas de financiamento vantajosas.

Empresários relatam faltar mão de obra no segmento de alimentação

Mais de 70% das empresas ativas no setor de turismo no Espírito Santo atuam no ramo de alimentos. Essa também é a proporção aproximada de pessoas que trabalham nesse segmento específico: 70% dos empregados nas Atividades Características do Turismo no Espírito Santo estão no segmento de Alimentação. As informações são do Sebrae e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

De acordo com os empresários do ramo, o mercado de trabalho segue aquecido, com muitas oportunidades em bares, restaurantes e similares. Entretanto, tem sido difícil encontrar mão de obra qualificada.

“A gente tem dificuldade hoje em dia para achar pessoas com qualificação ou experiência. O setor turístico do Espírito Santo está numa tendência de alta e, por ainda ser incipiente, nós temos muita coisa para construir. Naturalmente, vamos demandar muita mão de obra, então sem dúvida é um momento de contratações, mas encontramos uma dificuldade na oferta de mão de obra”, afirmou o presidente do Sindicato dos Restaurantes, Bares e Similares no Espírito Santo (Sindbares), Rodrigo Vervloet.

A Rua do Lazer é a mais conhecida e movimentada de Santa Teresa, município da Região das Montanhas Capixabas - Foto: Yuri Barichivich/Setur
A Rua do Lazer é a mais conhecida e movimentada de Santa Teresa, município da Região das Montanhas Capixabas – Foto: Yuri Barichivich/Setur

No interior do estado, o problema se agrava. O empreendedor Henrique Sloper é membro da Associação Turística de Pedra Azul (ATPA) e relata que, nesse momento de baixa temporada, os empresários se preparam para os eventos do ano que vem e já estão preocupados com a falta de pessoas para trabalhar.

“Nós vamos ter um calendário bem intenso de eventos gastronômicos em 2025, com mais atividade, mas faltam garçons, cozinheiros, baristas… Se trazemos alguém da Região Metropolitana, a pessoa tem dificuldade de achar moradia por preços acessíveis, sem falar no transporte. Aqui em Pedra Azul, por exemplo, não tem ônibus circular para poder transportar os funcionários. A maior parte dos empreendimentos é pequena e a gente se vira como pode. No meu caso, consigo instalar alguns funcionários na fazenda”, disse.

Para suprir a demanda de profissionais, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac/ES) tem cursos de capacitação para o setor, incluindo oportunidades gratuitas e parcerias com o Sindbares. O gerente de Educação Profissional do Senac/ES, Bruno Emílio, informou que as vagas são divulgadas no site es.senac.br/cursos. Há oferta de cursos pagos e oportunidades gratuitas por meio do Programa Senac de Gratuidade (PSG).

“Oferecemos ainda o Programa Jovem Chef, também em parceria com o Sindbares. Trata-se de uma formação completa em gastronomia para jovens de 17 a 29 anos, em situação de vulnerabilidade social, com interesse em seguir carreira. Os interessados podem preencher o Formulário de Declaração de Interesse disponível em nosso site. Assim que tivermos novas vagas, nossa equipe entra em contato informando sobre as inscrições e o período de matrículas”, esclareceu o gerente.

Outra iniciativa para o segmento de bares e restaurantes é o Projeto Bem Servir, que é uma parceria com a Secretária Municipal de Assistência Social da Serra. “Formamos pessoas atendidas pelos Centros de Referência das Juventudes (CRJ’s), ou em situação de rua, em garçons. Antes mesmo da conclusão dos cursos, alguns dos alunos já conseguem emprego e entrevistas com oportunidades na área”, concluiu Bruno Emílio.

O Governo do Estado oferece ainda o Qualificar ES Turismo, capacitação em ofícios como garçom e auxiliar de cozinha, com o objetivo de gerar emprego, renda e melhorar a qualidade dos serviços prestados aos turistas. Foram 420 vagas em 2023 e 240 em 2024. É preciso ficar atento ao site qualificar.es.gov.br para se informar sobre a abertura de novas oportunidades e as cidades que receberão os cursos.

Guilherme Oliveira se capacitou em turismo de experiência depois de perceber que seus clientes têm interesse em conhecer o processo de produção do café especial - Foto: Divulgação Maritacas/Coffee
Guilherme Oliveira se capacitou em turismo de experiência depois de perceber que seus clientes têm interesse em conhecer o processo de produção do café especial – Foto: Divulgação Maritacas/Coffee

Turismo de experiência e o novo perfil do visitante

O turismo de experiência tem evoluído no Espírito Santo e em todo o Brasil diante das novas demandas dos viajantes. De acordo com o Relatório de Dados do Segmento de Turismo do Sebrae/ES, o turista que viaja pelo estado deseja escapar da rotina e viver algo fora do cotidiano, fazendo uma verdadeira imersão na cultura local, experimentando a real essência do destino e estabelecendo conexões significativas com as comunidades locais. A prioridade é criar memórias.

“O turismo de experiência é a modalidade ideal para esse novo perfil de turista que está focado em criar memórias e vivenciar emoções únicas ao longo das viagens”, explicou a gestora do polo Sebrae de Turismo de Experiência, Renata Vescovi.

O produtor rural Guilherme Oliveira, de Nova Venécia, noroeste do estado, identificou uma demanda para que sua propriedade se tornasse um local de experiência turística voltada para os cafés especiais.

“Atualmente, a demanda predominante pelos nossos cafés especiais vem de fora do estado. Temos observado um interesse crescente dos nossos clientes, buscando visitar a nossa propriedade. Atualmente vendemos pelo Instagram (@maritacascoffee) e pelo nosso site (loja.maritacascoffee.com.br) mas, após as obras no nosso espaço, os turistas poderão explorar a origem do café, desde o pé até o processo de produção. Eles terão a oportunidade de escolher os grãos que serão torrados na hora e provar o café selecionado diretamente da propriedade”, prometeu.

Guilherme contratou ainda uma consultoria para aprender mais sobre essas novas preferências dos turistas. “Tivemos palestras, visitas técnicas e consultoria que me ajudaram muito a consolidar o aprendizado e a entender melhor o mercado. Essa diversificação do nosso negócio vai não só fortalecer nossa marca, mas também ampliar nosso alcance e impacto no mercado de cafés especiais”, completou.

Composição do segmento turístico capixaba por porte empresarial

Segundo levantamento do Sebrae/ES, o Espírito Santo possui 57.277 empresas ativas no segmento de turismo, assim distribuídas por porte:
– Meis (42.728)
– Microempresas (11.696)
– Empresas de pequeno porte (1.535)
– Médio e grande porte (1.318)

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