Horas após anunciar saída do Podemos e entrada no PSDB, senador Marcos Do Val teve o nome indeferido pelo diretório nacional da sigla
Por Robson Maia
Momentos após o senador capixaba Marcos do Val anunciar a saída do Podemos e informar a entrada no PSDB, o diretório nacional do partido tucano anunciou o veto da filiação do parlamentar na sigla. Após as movimentações de Do Val nos últimos dias, com direito a comunicado da mudança no Senado, o parlamentar anunciou que permanece no Podemos.
Do Val chegou a divulgar uma foto ao lado do líder dos tucanos no Senado, Izalci Lucas (DF), na última quinta-feira (22). Na mensagem, o capixaba informava sobre a troca de partido e comunicou a decisão ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Senador Marcos do Val será o líder do maior bloco da oposição no Senado”, diz mensagem escrita pelo próprio capixaba, que acompanha a foto.
O site do Senado chegou a registrar a mudança. A notícia da chegada de Do Val ao PSDB foi criticada entre filiados do partido no Espírito Santo, que solicitaram o indeferimento. O ex-prefeito de Vitória e atual presidente da sigla na capital capixaba, Luiz Paulo Vellozo Lucas, disse que Do Val não tem identidade com o partido.
Após a repercussão, o diretório nacional do PSBD, por meio do presidente da sigla, Eduardo Leite, informou que, caso o pedido ocorresse, “encaminharia o seu indeferimento”.
“A Direção Nacional do PSDB foi surpreendida com notícia referente a pedido de filiação do senador Marcos do Val e comunica que, caso venha a ocorrer, encaminhará o seu indeferimento”, informou o partido por meio de nota.
Com a decisão do PSDB, Do Val informou que permaneceria no Podemos e criticou a sigla.
“O PSDB que era o mesmo do ministro Alexandre de Moraes e do Alckimin. Mostraram o medo que estão. Permaneço no Podemos”, disse o senador.
Eleito em 2018 pelo Cidadania, Do Val já protagonizou uma troca de sigla ao se filiar ao Podemos. Antes do PSDB, o senador manteve conversas com o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e hoje presidido pelo também senador Magno Malta.
Senador vive crise política
O senador capixaba tem sido alvo de investigação pelos órgãos de inteligência desde fevereiro, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou a abertura de um inquérito para apurar a afirmação de Do Val de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) arquitetou um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Após as acusações, Do Val recuou e chegou a afirmar que a iniciativa teria partido de Daniel Silveira.
Diante de um cenário de pressão interna e externa, Do Val sofreu uma “nova derrota” quando a Polícia Federal realizou buscas em diversos endereços relacionados ao senador, incluindo o seu gabinete no Congresso Nacional, em Brasília. Os mandados foram cumpridos na capital federal e no Espírito Santo.
As redes sociais do senador Marcos do Val também foram temporariamente bloqueadas por determinação de Moraes. O perfil no Twitter, por onde o senador costuma se comunicar com seus eleitores, aparece como indisponível. No Instagram e Facebook, as páginas do senador encontram-se indisponíveis.
Em julho, a PF apresentou um relatório com as mensagens encontradas no celular apreendido do senador. O documento constatou que o parlamentar compartilhou informações sobre a trama de golpe de Estado por meio de dois grupos de WhatsApp: o “Chefias” e o “Amigas para a eternidade”.
As conversas com o grupo “Chefias”, composto por 2 assessores de seu gabinete, foram curtas. Nos diálogos, Do Val antecipou os diálogos com Daniel Silveira e descreveu o plano como uma “missão que entrará para a história do Brasil/mundo”.
No entanto, foi no grupo “Amigas para eternidade” (nome fictício, conforme apurou a investigação) que o senador se expressou de maneira mais aberta. Em textos e áudios cheios, outros participantes chegaram a comemorar a possibilidade do golpe: “Eu tô vibrando, vibrando, mas já vou apagar a mensagem!”, disse uma das “amigas”.
Em depoimento prestado à PF sobre o caso, Bolsonaro demonstrou mais um distanciamento de Do Val ao exibir para a imprensa presente no local uma captura de tela em que mostra a resposta dada às proposições do senador. Após a sugestão de manobra antidemocrática, Bolsonaro respondeu a Do Val com a mensagem “coisa de louco”, insinuando discordância das propostas do capixaba.
“Trabalhando para prender Moraes”
No início de setembro, mensagens encontradas no celular do senador capixaba Marcos do Val (Podemos-ES) apontaram um suposto plano do parlamentar para a prisão do ministro Alexandre de Moraes. No texto, ele diz que tem “trabalhado há dois anos para prender” o magistrado.
Em uma das mensagens, datada de 2 de fevereiro, uma pessoa identificada como “Elmo” oferece apoio a Do Val, que responde: “estou há dois anos trabalhando para prender Alexandre de Moraes”. Os relatórios apontam que o “Elmo” seria irmão de Do Val.
Outro diálogo entre o senador e seu pai, Humberto, menciona Bolsonaro e fala sobre a influência da imprensa e da sociedade na abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) relacionada aos atos do dia 8 de janeiro. Do Val menciona no texto que a CPMI poderia resultar no impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no desgaste de imagem de Alexandre de Moraes.
“Olha os relatórios do que provocamos na imprensa brasileira em um único dia! Superou as expectativas, e a primeira fase foi concluída. Essa missão foi provocar a imprensa e a sociedade para pedir aos seus representantes no Congresso as assinaturas para a abertura da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) sobre o dia 08 de janeiro!”, destaca Do Val na mensagem enviada no dia 25 de fevereiro.
No celular apreendido, a PF destacou que Do Val enviou mensagens ao senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e ao deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), explicando como pretendia afastar Moraes do inquérito relacionado aos atos antidemocráticos.
Na ocasião, o senador se manifestou sobre o caso no plenário do Senado e criticou os vazamentos à imprensa. Do Val afirmou estar sofrendo uma “censura velada” e tendo sua vida pessoal “devassada” após ter sido “injustamente” incluído no inquérito que investiga os atos de vandalismo contra as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro.
Durante o pronunciamento, o parlamentar criticou a inserção de seus arquivos, imagens e conversas pessoais no inquérito. Ele alertou para a “gravidade” do caso e pontuou que teve sua intimidade violada e “trechos antagônicos” de sua vida pessoal vazados na imprensa.
“A quem interessa a divulgação desse conteúdo? Haja vista que não tem absolutamente nada a ver com o inquérito. Acredito que já que não encontraram nada de relevante que me incriminasse juridicamente, passaram a usar o diálogo íntimo para expor a minha vida privada e denegrir a minha imagem e a imagem da minha família”, condenou Do Val na época.
Analista vê erro de cálculo político
Para o analista político Darlan Campos, Do Val traçou de maneira equivocada sua estratégia política em oposição ao governo Lula. Campos ainda cita os possíveis impactos para a sequência do mandato do senador.
“O senador Marcos Do Val, especialmente após a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula, impetrou com uma estratégia de mandato de construir uma imagem de enfrentamento, tanto com o Governo Federal e também com a Suprema Corte. E essa estratégia tem se mostrado politicamente onerosa para ele “, apontou o analista político.
“É importante a gente avaliar que o “enfrentamento” com o poder constituído é feito por meio de denúncias, que às vezes chegam até no campo da calúnia e da difamação. Até o presente momento, (o senador) não sustentou, em grande parte, as denúncias feitas. Acho que houve um erro de cálculo político, até quando e onde ele conseguiria ir”, complementou Darlan.