“Fazer mais com menos”: Ter maior produtividade é bom, mas o ganho gerado vai para quem? Para o Estado, a receita continua a mesma
Por Robson Melo
Há algumas semanas, o Estadão publicou artigo “Semana de trabalho de quatro dias ganha espaço na Europa” e um dos seus trechos questiona: “Mas agora, depois de décadas de maior automação e inovações que nos permitem trabalhar de forma cada vez mais eficiente, por que ainda estamos tentando enfiar mais produtividade no tempo que supostamente economizamos?”.
Ao ler o artigo, o que me vem à cabeça não é ganho de produtividade, o tal “fazer mais com menos” ou fazer muito mais com o mesmo. É claro que ter maior produtividade é bom, mas daí outra questão é: mas este ganho vai para quem?
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Considerando o ponto de vista econômico, há quem defenda que é preciso fazer crescer o bolo para depois reparti-lo. E quem fica na gestão da formação desse bolo: o Estado, o Empreendedor ou o Empregado?
Em termos de tributos, se fica com o Estado, o valor é o mesmo; se com o Empreendedor, as margens de lucro com antecipação de receitas, pode crescer. E com o Empregado, “na sua moringa não vai água?”. E se, ao contrário do que defendem, já repartirmos o bolo enquanto esse cresce? Nada mais justo que embalar, logo, a fatia do Empregado para entrega, não?
Mas minha reflexão é para chegar mesmo a outra pergunta: por que não dividir mais as horas possíveis de trabalho — aquelas que decorrem das horas de jornada de trabalho multiplicadas pelo número de pessoas — com mais (e novos) empregados? Se há mais pessoas empregadas, juntas podem fazer o mesmo bolo com menos esforço individual, correto?
Nesse processo há vantagens e desvantagens, e claro a necessária ação reguladora.
Dentre as vantagens, a gritante é que mais gente entra para a economia, consumindo, produzindo e gerando renda. Para o Estado, a receita da tributação continua a mesma. Já para o Empreendedor mantém-se o ganho, desde que, óbvio, esse tenha estímulos fiscais e não se aumente sua carga tributária.
Esse cenário também geraria mais gastos públicos previdenciários a cargo do Estado. Mas também essa é uma vantagem, ao se inserir mais famílias na segurança econômica, consumindo e pagando impostos.
Enfim, fica o questionamento: por que não promovermos mais inclusão econômica e já irmos repartindo o bolo, distribuindo riqueza e consequentemente melhorando o bem-estar social? Não seria essa a razão de existir do Estado? No espectro trabalhador, há muita gente capaz, experiente e disponível no mercado. E refiro-me, aqui, aos idosos, cada vez mais numerosos por conta da longevidade que vêm adquirindo. Em 2019, éramos 29 milhões, sendo cerca de 7,5 milhões ativos.
Mas, infelizmente, existe um preconceito em relação aos “velhos”, ainda que carreguem diversidade de talentos e abordagens, e isso exatamente por já serem maduros, tanto com a vida, quanto com os relacionamentos humanos.
Essa relação “Empresa X Empregado X Estado” tende a ser benéfica para todos, pois reúne gerações complementares — uma que detém a tecnologia e outra de baby boomers (representada pelos nascidos entre 1945 e 1960), que querem estabilidade e oferecem vivência. Incluir, produzir e gerar bem-estar. É isso que todos querem!
Robson Melo é Presidente da Fundaes (Federação das Fundações e Associações do Espírito Santo).