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sábado, 27 abril, 2024

Piano: personagem indispensável da história da música

Desde sua criação em 1709 até os dias atuais, ele ajuda na formação de novos músicos e influencia diversos ritmos musicais

Por Willian Lizardo

Em 1709, um construtor italiano chamado Bartolomeu Cristofori apresentou ao mundo sua nova invenção: um instrumento de teclado, que a depender da intensidade de toque do instrumentista, era capaz de realizar sons fracos e fortes. O nome original do instrumento em italiano “Piano-Forte”, inclusive, é reflexo dessa peculiaridade que se dá através do uso de martelos que percutem as cordas colocadas dentro da caixa do instrumento. 

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Devemos ressaltar que a estética musical europeia nesse período estava em transformação, várias correntes buscavam trazer os sentimentos ao discurso musical através de inspirações da música cantada e dos dramas literários. O apogeu dessa metamorfose musical foi o movimento Romântico, que atravessou o século 19, e teve o piano como carro chefe. Foi nesse período que o instrumento ganhou maior notoriedade e também é dessa época um repertório muito ouvido até hoje, fruto de compositores como Beethoven, Chopin, Liszt e Brahms. Nesse momento o piano assumiu papeis essenciais, como no acompanhamento de cantores e de outros instrumentos e como instrumento musicalizador.

A popularidade do piano, especialmente entre a classe média, fez do instrumento objeto obrigatório na maioria dos lares abastados e nos salões e confeitarias onde essa sociedade se divertia. A aprendizagem do instrumento virou regra de etiqueta na educação feminina até meados do século 20. Para a escritora Joci Toffano, “tocar piano se tornou um caso amoroso e obrigatório ligado à mulher”.

Sendo um instrumento doméstico, por conta de suas dimensões, a prática musical feminina se manteria no interior do lar, bem conveniente para os pais e maridos que queriam manter suas filhas longe dos “perigos mundanos”. No Brasil, a experiência pianística também foi replicada.

O Rio de Janeiro foi durante muito tempo a cidade com mais pianos fora da Europa. A presença desse instrumento no nosso país foi fundamental para a elaboração do que hoje chamamos de música brasileira, a princípio com compositores como Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, que misturaram os ritmos africanos e europeus, dando origem ao Tango Brasileiro, ao Choro e ao Samba e com Alexandre Levy e Villa-Lobos que ajudaram na criação da música de concerto nacional com raízes no folclore, nos sons das florestas tropicais e das cidades em desenvolvimento.

Na música popular brasileira, essas misturas diversas passaram pelas teclas do piano, por exemplo na bossa nova: Tom Jobim, João Donato, Hércules Gomes e muitos outros pianistas que fundiram influências do samba, do jazz e dos clássicos. Há cerca de 50 anos os pianos elétricos também passaram a ser muito utilizados, facilitando o ensino, o uso em grandes shows e o transporte, mas o grande piano de cauda mantém a sua importância em salas capixabas como o Carlos Gomes (atualmente fechado para obras) e o SESC Gloria.

No Espírito Santo, o piano também teve um papel de destaque na construção do cenário musical. Segundo Osmar Silva em seu livro “Música Popular Capixaba”, os bailes nos clubes de Vitória aconteciam “animados pelas bandas que eram muitas vezes acompanhados por pianistas profissionais como J. Aimberê”.

No cenário erudito, a Escola Luciano Gallet, da pianista Áurea Adnet, e o Colégio Nacional ofereciam o curso de piano a quem pudesse pagar. Foi somente no ano de 1954, com a fundação da EMES, Escola de Música do Espírito Santo (atual FAMES), que o ensino do instrumento passou a ser oferecido pelo estado de maneira amplamente democrática e gratuita.

Desde então, tanto no curso superior como nos cursos de formação, o Núcleo de Piano da Fames possibilitou o estudo do instrumento a centenas de pianistas que hoje estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Esses profissionais se dividem entre o ensino do instrumento (da formação básica ao nível avançado), a prática solista, o acompanhamento de coros religiosos, profissionais, corporativos, companhias de ballet e ópera, integrando conjuntos de câmara, bandas, orquestras e jazz bands ou como pesquisadores em música em diversas universidades do país.

O ecletismo encontrado no repertório para piano também é visto nas oportunidades e postos de trabalho para músicos pianistas, desde que tenham desfrutado de uma formação sólida. Esse tem sido o principal papel da Faculdade de Música do Espírito Santo durante os 70 anos de sua existência: oferecer um ensino musical público, gratuito e de excelência à sociedade capixaba.
 
Willian Lizardo é professor adjunto de piano e coordenador do Núcleo de Piano da Fames.

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