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sábado, 11 maio, 2024

O meu olhar e o Carnaval

Por Manoel Goes

Eu sempre adorei a folia e as fantasias de Carnaval. Um jeito diferente e mais descontraído de encarnar um personagem e contar uma história cheia de liberdade e purpurina. Era como esperar o ano inteiro a festa da liberdade, como faz a turma da escola de samba, se preparando, ensaiando, economizando e esperando pelo maior espetáculo da terra. O mundo inteiro assiste e a festa popular contagia.

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Lembro das minhas primeiras fantasias e trajes, com muito carinho (anos 1960), mas hoje falarei só das fantasias. A  tradicional de marinheiro estreando nas memoráveis matinês do tradicional Clube Saldanha da Gama (hoje centro de turismo do Governo de Estado e bistrô com cervejaria), guiado pelas mãos pretas da minha Vó Moça (Adelina Araújo), mãe de papai, também com DNA forte de Carnaval e com mamãe, foram  grandes foliões, e eu quando atingi idade pude constatar nos concorridos bailes noturnos. Voltando às matinês, minhas fantasias foram crescendo comigo: índios, cowboys, e personagens de histórias em quadrinhos, o Batman meu preferido, fantasias agora produzidas pela tia Maria, do RJ, irmã de mamãe. Estamos ainda nas matinês do Saldanha da Gama.

Corre o tempo, estamos nos anos 1970, e lá me vejo eu, mamãe, papai e alguns tios e tias nos grandes bailes no Salão Nobre do Clube Saldanha da Gama (fundado em 1902). O “Grande Baile” era o ápice do carnaval da sociedade capixaba, como também muito concorridas as suas três matinês. Tenho a cada carnaval a certeza de ser a minha manifestação cultural mais importante e significativa, carregada de forte memória afetiva. Final dos anos 1970 lá estou, em Vila Velha, participando da bateria do Bloco Unidos da Vila, compondo o naipe de tamborins, meu instrumento predileto. Também fiz minha estreia em escola de samba, na Amigos de Gurigica, como desfilante por dois anos. Realmente, o samba e o Carnaval (além do Blues, Jazz e Rock and Roll) fazem parte do mau DNA musical.

Me levou o destino profissional ir viver no Rio de Janeiro (1986 – 2006), onde fui apresentado à Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, amor à primeira vista pela sua história, e também pelo povo querido e acolhedor de Nilópolis.  Participei, junto com a minha esposa Chris Goes, quatro anos como desfilante e quando me dou conta estou diretor de harmonia, memoráveis lembranças dos 5 títulos conquistados. De volta a Vila Velha, a convite do presidente Robertinho, faço parte da Velha Guarda da Mocidade Unida da Glória, minha escola de coração, do bairro da Glória, onde vivi dos anos 1960 a 1980.

Então é por isso que, na minha opinião foliã de admirador apaixonado, o Carnaval vai muito além do trio “samba, suor e cerveja”, nos revisitando todos os anos com liberdade, emoções e experiências únicas — atrevido, vibrante e espontâneo! Não é preciso colocar o abadá, a fantasia e correr para a bagunça para se divertir ou admirar o Carnaval. Se você não tem a menor paciência nem para bloquinho, avenida, trio elétrico, Sambão do Povo ou inventar fantasias, também não tem nenhum problema! Liberdade de escolha e até de espírito é lindo, transformador e tem a ver com todo o discurso livre e natural dessa época do ano.

Então, querido (a) leitor(a), esteja ou seja você, animado ou não neste Carnaval, não deixe que aquilo que não tem a mínima importância o impressione, choque, tire seu alto astral ou o deixe perplexo e irritado. A folia, a alegria, as purpurinas, a bunda, a diversidade,  o peito, o brilho, o beijo, a celulite, a beleza, a feiura, o remelexo e a liberdade alheia não têm o poder de ofendê-lo. Não é pouca vergonha e nada tem a ver com política. Até porque, aí, o problema não está na imagem forte, agressiva, faceira, colorida ou abusada. Feio é sambar em cima do sofrimento alheio, não respeitar o “não” das meninas, afinal não é não! E assédio é crime! O resto, meu caro leitor, é só Carnaval.

Manoel Goes é escritor e produtor cultural

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