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domingo, 28 abril, 2024

O maestro, o barítono e a cidade inteligente

Por André Gomyde

A música é uma das mais populares formas de expressão artística e tem o poder de emocionar e unir as pessoas. Quando ouvia minha mãe tocar com a orquestra do Teatro Nacional, admirava-me tantos instrumentos diferentes, tocando ao mesmo tempo, em perfeita harmonia. Na frente, o maestro conduzindo o tempo da música, para que tudo saísse na mais perfeita ordem.

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Recentemente voltei ao teatro e assisti na Casa da Música Sônia Cabral, em Vitória, obras do compositor português Fernando Lopes-Graça, na voz do internacional barítono Homero Velho, amigo de infância. Lá encontrei o maestro Helder Trefzger, que assistiu muitas vezes, em Brasília, concertos da pianista Ana Amélia Gomyde, minha mãe. O maestro, o barítono e a pianista sempre fizeram parte da minha vida.

Li que esses concertos musicais no Espírito Santo são itinerantes, voltados à integração de comunidades e setores sociais que, geralmente, não têm acesso às salas de espetáculos e demais espaços culturais. Estudos mostram que ouvir música reduz o estresse, melhora o humor, estimula a criatividade e aumenta a concentração. A presença na sociedade de orquestras e cantores, como o barítono, contribui para a disseminação desses benefícios, promovendo uma maior qualidade de vida para os indivíduos. Que fantástico seria se essa ideia de concertos itinerantes se reproduzisse por todo o Brasil!

Eu sempre faço minhas reflexões ouvindo música e foi nesse contexto, ao me lembrar do maestro e do barítono daquela noite no teatro, que cheguei à conclusão de que estávamos certos quando, no ano de 2010, começamos a desenvolver a história das cidades humanas, inteligentes, criativas e sustentáveis (CHICS), com a ideia de que a tecnologia por si só não nos levaria a lugar nenhum. As cidades são organismos vivos que se alimentam dos sonhos e desejos das pessoas que nelas vivem. Não tem como falar em cidade inteligente sem falar de moradia, saúde, segurança, qualidade de vida, cultura e, principalmente, educação. Como na orquestra, tudo precisa se integrar e se harmonizar para funcionar.

Esses temas sociais fazem parte da agenda do século XX e o Brasil até hoje não os resolveu. A cidade inteligente é agenda do século XXI e já está em nossas vidas.

Precisamos acelerar nossas ações, com o desafio de resolver as duas agendas ao mesmo tempo. Por isso, nossa proposta de CHICS leva em conta tudo isso de uma maneira multissetorial integrada. E é o caminho para desenvolver mais rapidamente as cidades brasileiras.

Um exemplo de desarmonia e falta de integração nas cidades são os fios das concessionárias, pendurados nos postes. A crescente demanda por energia elétrica e telecomunicações resultou em uma quantidade cada vez maior de fios sendo instalados nas ruas das cidades. Essa poluição visual causada pelos fios compromete a beleza das paisagens urbanas e impacta negativamente a qualidade de vida dos moradores. Destrói o que a música constrói.

Para enfrentar esse desafio, algumas cidades estão investindo em soluções inteligentes, como a implantação de redes subterrâneas para acomodar esses fios. Essa medida não apenas melhora a estética urbana, mas também reduz os riscos de acidentes causados pela queda de fios elétricos.

Percebe-se ser importante que o avanço da tecnologia seja acompanhado do avanço do planejamento e de soluções criativas. Muito mais que inteligência artificial, somos natural e deliciosamente humanos.

O ano de 2023 vai se acabando e vem aí 2024. Nossos governantes ainda não demonstram desejo e capacidade de planejar e pensar criativamente. Talvez seja bom que a gente chame o maestro, o barítono e a pianista, para aprender um pouco com eles sobre como criar integração e harmonia e, assim, começar a construir as cidades inteligentes com foco nas pessoas, muito mais que nas soluções tecnológicas.

André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e músico.

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