A IA não pode substituir o amor. Num mundo em que a tecnologia avança a passos largos, é o amor que nos une como espécie
Por André Gomyde
O avanço da inteligência artificial (IA) tem sido comparado a uma maratona em que cada passo dado supera o anterior em velocidade e impacto. Essa evolução, pautada por inovações tecnológicas cada vez mais aceleradas, nos obriga a refletir: estamos prontos para um mundo em que a IA possa ser tão rápida e inteligente quanto nós?
A Lei de Moore, proposta por Gordon Moore, fundador da Intel, previu que o número de transistores em um chip dobraria aproximadamente a cada dois anos, aumentando exponencialmente a capacidade de processamento e reduzindo os custos. Essa previsão se mostrou incrivelmente precisa por décadas, permitindo que dispositivos antes enormes e caros se tornassem pequenos, acessíveis e incrivelmente poderosos. Hoje, carregamos no bolso mais poder de computação do que o utilizado para levar o homem à Lua em 1969.
No entanto, com esse crescimento exponencial, surge o conceito de singularidade tecnológica. Trata-se do momento em que a IA se tornará tão avançada que começará a melhorar a si mesma, ultrapassando a capacidade humana de compreensão ou controle. Muitos veem isso como um ponto de inflexão: uma oportunidade para resolver problemas globais ou um risco de desequilíbrio irreversível.
Diante dessa perspectiva, a pergunta não é apenas se a IA será mais inteligente do que nós, mas se estaremos prontos para lidar com as consequências. Devemos nos preparar, não apenas tecnicamente, mas também ética e socialmente, para um futuro onde a IA desempenhará papéis centrais em nossas vidas.
A preparação começa com educação e letramento digital. Assim como aprendemos a ler e escrever para navegar no mundo das palavras, precisamos de alfabetização tecnológica para compreender e interagir com a IA. Esse conhecimento deve ser acessível a todos, ou corremos o risco de criar uma sociedade ainda mais desigual, onde poucos dominam as ferramentas tecnológicas e muitos ficam à margem.


Além disso, a singularidade exige que nos concentremos em habilidades que nos diferenciam das máquinas: criatividade, empatia e pensamento crítico. Não podemos competir em termos de velocidade ou precisão, mas podemos complementar a IA com o que há de mais humano em nós.
No entanto, há algo que a IA não pode substituir: o amor. Num mundo em que a tecnologia avança a passos largos, é o amor — traduzido em cooperação, empatia e solidariedade — que nos une como espécie. O progresso só terá sentido se usado para construir pontes, não muros; para unir pessoas, não dividi-las.
A Lei de Moore pode explicar o crescimento exponencial da tecnologia, mas cabe a nós garantir que esse crescimento seja guiado por valores humanos. A singularidade não será um problema técnico, mas uma questão moral. Se não aprendermos a usar o poder da IA com sabedoria, podemos nos perder em meio às redes que construímos.
Concluímos, então, que a verdadeira salvação não virá apenas de chips mais rápidos ou máquinas mais inteligentes, mas da capacidade de usar essas ferramentas para promover inclusão, igualdade e amor entre as pessoas. Somente com letramento digital, acessibilidade e a difusão de valores humanos é que a humanidade poderá transformar a singularidade em oportunidade, e não em ameaça. Afinal, a tecnologia pode nos levar longe, mas é o amor que nos manterá juntos..
André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em Administração pela FCU, nos Estados Unidos. Instagram: @andre.gomyde