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quinta-feira, 28 março, 2024

O economista e sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade

A visão ampliada do funcionamento da sociedade concede ao economista uma análise para além do sobe e desce dos indicadores socioeconômicos

Por Claudeci Pereira Neto

“No longo prazo todos estaremos mortos”. Essa frase do mais proeminente economista do século XX, John Maynard Keynes, parece simples e óbvia para o senso comum. Não para os economistas. Somente esses profissionais sabem duas coisas: a categoria “prazo” na ciência econômica não tem relação exclusiva com o tempo e que na frase está embutida uma crítica de Keynes ao pensamento econômico dominante de sua época.

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Em especial na microeconomia, o longo prazo não se trata de um período de tempo determinado, de 3 ou 5 anos, por exemplo. Antes, sim, é um intervalo temporal em que a quantidade de todos os fatores utilizados na produção (quantidade de terras/insumos, recursos/máquinas/tecnologia e número de trabalhadores qualificados) podem ser variados, ou seja, não há restrições que impeçam o aumento da produção de bens ou da oferta de serviços, ante uma elevação da demanda.

Além disso, mesmo diante da realidade de desemprego e desequilíbrio continuado da economia, a maioria dos economistas insistia na flexibilidade de preços e salários como forma de conduzir, no longo prazo, ao pleno emprego dos fatores de produção e ao equilíbrio dos mercados. Essa forma automática de ajuste dos mercados seria alvo principal das críticas de Keynes e o ponto de partida para as novas proposições para enfrentar as recorrentes crises.

Keynes demonstrou que os motivos que levam à recessão têm origem nas expectativas dos capitalistas e na redução da demanda agregada. Uma variação negativa nas expectativas dos investidores em relação ao mercado de bens e serviços acarreta a redução dos investimentos e, no período seguinte, a queda da demanda global, principalmente pelo desemprego ou pela não abertura de novos postos de trabalho. Isso desestimularia os novos investimentos, realimentando o ciclo recessivo.

Assim, nas crises econômicas, o Estado deveria pôr em prática uma política fiscal arrojada que elevasse seus gastos, a fim de aumentar e estimular a demanda agregada. Não poderia ser qualquer tipo de gasto, mas aquele que possuísse um efeito multiplicador sobre a renda e o emprego igual a uma expansão no investimento privado, fazendo a economia se dirigir a um outro estado de equilíbrio.

Desde então, Keynes deixou muitos adeptos interessados nos estudos, análises e proposições para a resolução de desequilíbrios econômicos, especialmente no âmbito regional. Surgia uma nova escola do pensamento econômico (o Keynesianismo), que iria influenciar estudiosos e os planejadores de políticas públicas em todo o mundo, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.

Portanto, uma frase óbvia para o senso comum pode significar muito para os economistas. Esses profissionais possuem rigorosa formação, que une arcabouço teórico, aplicação matemática e estatística, e conhecimento de história econômica. Essa visão ampliada do funcionamento da sociedade concede ao economista uma análise para além do sobe e desce dos indicadores socioeconômicos. 

Claudeci Pereira Neto é bacharel em Ciências Econômicas e Mestre em Economia pela UFES. É doutor em Geografia pela UFES, economista do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (BANDES) e presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES).

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