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sexta-feira, 26 abril, 2024

Nelson Rodrigues, quarenta anos de ausência

Nelson Rodrigues, quarenta anos de ausência

 

Nelson Rodrigues foi um escritor genial

Por Manoel Goes Neto

Vítima de insuficiência vascular cerebral, após sete paradas cardíacas, morre em 1980 Nelson Rodrigues. Teve uma vida tão espetacular e dramática quanto os personagens que criava para o teatro ou para folhetins como “Meu destino é pecar” e “Asfalto selvagem”. Vencendo uma infância humilde e a tuberculose que traria sequelas permanentes à sua saúde, o autor também levaria para sua obra várias tragédias familiares e seus casos amorosos.

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Autor de frases famosas e conhecido pelas opiniões polêmicas, o dramaturgo nem sempre foi bem compreendido pela sociedade da época em que viveu. Nelson Rodrigues foi um escritor genial, não só introduziu o modernismo no teatro brasileiro, mas foi um intérprete do seu tempo, queria chocar, colocava o dedo na ferida falando da hipocrisia do mundo de forma bem-humorada sempre. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol, um torcedor do Fluminense apaixonado que sempre dizia: “Grandes são os outros, o Fluminense é enorme. …”

O dramaturgo nasceu da cidade do Recife no dia 23 de agosto de 1912, sendo o quinto dos 14 filhos de Maria Esther Falcão e Mário Rodrigues. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues completaria 108 anos, em 23 de agosto próximo. Escritor, romancista, contista, dramaturgo, jornalista, cronista de costumes e esportivo, autor de folhetins, foram muitas as denominações para o “anjo pornográfico”, que fez história ao lançar a peça Vestido de Noiva, em 1943. Ele é considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Seu pai era deputado e jornalista do “Jornal do Recife”, e mudou-se para o Rio de Janeiro por problemas políticos. Nelson iniciou sua carreia como jornalista, em 1925, especializando-se na página policial.

Aos 13 anos, começou a trabalhar no jornal do pai, o recém fundado A Manhã. Em 1929, trabalhou no segundo jornal do pai, chamado Crítica. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Nelson viveu uma tragédia familiar que marcou toda a sua trajetória: a morte do irmão Roberto Rodrigues, que levou um tiro, na redação do jornal, dado por uma mulher da alta sociedade inconformada com a publicação de uma matéria sobre seu divórcio.

A primeira peça de Nelson Rodrigues, A Mulher Sem Pecado, estreou em 1942 que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso veio com Vestido de Noiva, cuja primeira montagem ocorreu em 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sua consagração como dramaturgo. A peça trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. No teatro, foram 17 peças. Para o cinema, foram 23 adaptações.

Politicamente, gostava de se intitular como um reacionário. Chegou a apoiar o Regime Militar Brasileiro e elogiar o governo do presidente General Emilio Garrastazu Médici (1964/1974), o período de maior onda de repressão política no país, mas também tempos do “Milagre Econômico”, com a economia estabilizada e em crescimento. No final da vida, após ter seu filho Nelsinho Rodrigues preso e torturado, Nelson revisou seus posicionamentos e militou pela anistia “ampla, geral e irrestrita” aos presos políticos.

Até hoje os espetáculos de Nelson Rodrigues ganham dezenas de remontagens. Além de suas peças, seus romances, contos e crônicas também ganham versões teatrais. Vinte de suas histórias foram adaptadas para o cinema. Nelson Rodrigues morreu na manhã do dia 21 de dezembro de 1980. Neste mesmo dia, ele faria 13 pontos na Loteria Esportiva, num bolão que tinha feito com seu irmão e alguns amigos. “O dinheiro compra até o amor verdadeiro. A liberdade é mais importante que o pão!” – Nelson Rodrigues

Manoel Goes Neto é produtor cultural, presidente do IHGVV e diretor no IHGES

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