Nelson Rodrigues foi um escritor genial
Por Manoel Goes Neto
Vítima de insuficiência vascular cerebral, após sete paradas cardíacas, morre em 1980 Nelson Rodrigues. Teve uma vida tão espetacular e dramática quanto os personagens que criava para o teatro ou para folhetins como “Meu destino é pecar” e “Asfalto selvagem”. Vencendo uma infância humilde e a tuberculose que traria sequelas permanentes à sua saúde, o autor também levaria para sua obra várias tragédias familiares e seus casos amorosos.
Autor de frases famosas e conhecido pelas opiniões polêmicas, o dramaturgo nem sempre foi bem compreendido pela sociedade da época em que viveu. Nelson Rodrigues foi um escritor genial, não só introduziu o modernismo no teatro brasileiro, mas foi um intérprete do seu tempo, queria chocar, colocava o dedo na ferida falando da hipocrisia do mundo de forma bem-humorada sempre. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol, um torcedor do Fluminense apaixonado que sempre dizia: “Grandes são os outros, o Fluminense é enorme. …”
O dramaturgo nasceu da cidade do Recife no dia 23 de agosto de 1912, sendo o quinto dos 14 filhos de Maria Esther Falcão e Mário Rodrigues. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues completaria 108 anos, em 23 de agosto próximo. Escritor, romancista, contista, dramaturgo, jornalista, cronista de costumes e esportivo, autor de folhetins, foram muitas as denominações para o “anjo pornográfico”, que fez história ao lançar a peça Vestido de Noiva, em 1943. Ele é considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Seu pai era deputado e jornalista do “Jornal do Recife”, e mudou-se para o Rio de Janeiro por problemas políticos. Nelson iniciou sua carreia como jornalista, em 1925, especializando-se na página policial.
Aos 13 anos, começou a trabalhar no jornal do pai, o recém fundado A Manhã. Em 1929, trabalhou no segundo jornal do pai, chamado Crítica. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Nelson viveu uma tragédia familiar que marcou toda a sua trajetória: a morte do irmão Roberto Rodrigues, que levou um tiro, na redação do jornal, dado por uma mulher da alta sociedade inconformada com a publicação de uma matéria sobre seu divórcio.
A primeira peça de Nelson Rodrigues, A Mulher Sem Pecado, estreou em 1942 que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso veio com Vestido de Noiva, cuja primeira montagem ocorreu em 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sua consagração como dramaturgo. A peça trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. No teatro, foram 17 peças. Para o cinema, foram 23 adaptações.
Politicamente, gostava de se intitular como um reacionário. Chegou a apoiar o Regime Militar Brasileiro e elogiar o governo do presidente General Emilio Garrastazu Médici (1964/1974), o período de maior onda de repressão política no país, mas também tempos do “Milagre Econômico”, com a economia estabilizada e em crescimento. No final da vida, após ter seu filho Nelsinho Rodrigues preso e torturado, Nelson revisou seus posicionamentos e militou pela anistia “ampla, geral e irrestrita” aos presos políticos.
Até hoje os espetáculos de Nelson Rodrigues ganham dezenas de remontagens. Além de suas peças, seus romances, contos e crônicas também ganham versões teatrais. Vinte de suas histórias foram adaptadas para o cinema. Nelson Rodrigues morreu na manhã do dia 21 de dezembro de 1980. Neste mesmo dia, ele faria 13 pontos na Loteria Esportiva, num bolão que tinha feito com seu irmão e alguns amigos. “O dinheiro compra até o amor verdadeiro. A liberdade é mais importante que o pão!” – Nelson Rodrigues
Manoel Goes Neto é produtor cultural, presidente do IHGVV e diretor no IHGES