Cadastro positivo pode mudar essa estatística
No último mês de abril, 17% dos consumidores brasileiros tiveram crédito negado ao tentarem fazer uma compra a prazo. Dados do Indicador de Uso do Crédito, apurado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mostram que a principal razão para a negativa é o fato de estarem com o nome inserido em cadastros de inadimplentes (27%) ou por falta de comprovação de renda (20%). Há também 22% de entrevistados que não souberam o motivo da negativa, 17% que não tinham renda suficiente e 14% que estavam com o limite de crédito excedido.
O Indicador de Uso de Crédito, que busca medir o uso das principais modalidades pelo consumidor, marcou de 31,4 pontos ante 30,2 pontos registrados em março. Pela metodologia, o indicador varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior o uso das modalidades; quanto mais distante, menor o uso.
A dificuldade em obter crédito é reafirmada por outros números constatados pelo levantamento. Na avaliação dos entrevistados, o financiamento é a modalidade mais difícil de obter aprovação, com 60% de citações. Nesse caso, apenas 11% consideram o processo fácil. Contratar um empréstimo é considerado difícil para 54% dos consumidores, ao passo que 42% avaliam como complicado obter um cartão de crédito. Já no caso das compras no crediário, 39% classificam como difícil a sua contratação.
Na avaliação do presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, há uma limitação nos modelos atuais de análise e de concessão de crédito, que atribui um peso maior na existência ou não de apontamentos de inadimplência, o que torna o acesso ao crédito mais difícil para uma grande massa de consumidores.
“Hoje, as políticas de análise de crédito são baseadas apenas nas informações de negativação. Com a entrada do Cadastro Positivo neste ano, os credores poderão visualizar não apenas as contas que os consumidores têm em atraso, mas também aquelas que estão sendo pagas em dia. Isso significa que aquela parcela da população de renda mais baixa, que normalmente possui poucas garantias para fornecer em operações de crédito ou possuem registros pontuais de inadimplência, também poderá mostrar que é boa pagadora e ter mais acesso ao mercado de crédito”, explica Pellizzaro Junior.
De forma geral, a maioria (52%) dos brasileiros não utilizou nenhuma modalidade de crédito no mês de abril, como empréstimos, linhas de financiamento, crediários ou cartões de crédito. Outros 48%, porém, mencionaram ter recorrido, ao menos, a uma modalidade no período. O cartão de crédito (42%) e o crediário (13%) foram as modalidades mais usadas no último mês. Já o cheque especial foi citado por 9% da amostra. Há ainda 7% de consumidores que buscaram empréstimos e 3% entraram em financiamentos.
No caso do cartão de crédito, 21% dos seus usuários não conseguiram pagar integralmente a fatura em abril e entraram no chamado ‘rotativo’, que cobra um dos juros mais caros do mercado. Os que honraram os compromissos em dia somam 77% dos entrevistados. O valor médio da fatura em abril de 2019 foi de R$ 763,84, tendo a maioria dos consumidores mantido um valor aproximado que nos meses anteriores (39%).
O levantamento mostra ainda que as despesas correntes do dia a dia foram as mais realizadas via cartão de crédito: 72% dos entrevistados citaram as compras de supermercado e 47% a aquisição de remédios. Em terceiro lugar aparecem a compra de combustíveis (43%), seguida de roupas e calçados (36%) e de ida a bares e restaurantes (33%). Há ainda 25% de pessoas que usaram o cartão de crédito para contratar serviços de streaming de música, vídeos e assinatura de jornais e revistas.
Para o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, a popularização dos cartões faz com que compras simples e de baixo valor já sejam feitas com essa modalidade, mas ao mesmo isso exige cuidados para que o crédito não funcione como complemento da renda. “A falta de disciplina no controle do orçamento acaba provocando uma desorganização tamanha que, em muitos casos, o consumidor precisa recorrer a renegociações que levam muitos meses para quitar, comprometendo parte do orçamento por um bom tempo”, alerta Vignoli.
Quando se fala em acesso ao crédito, a questão dos juros é algo que também faz parte da discussão. O levantamento mostra que, mesmo com a Selic (taxa básica de juros da economia) em um patamar historiamente baixo, a maior parte (41%) dos brasileiros tem a impressão de que os juros finais ao consumidor na ponta estão mais altos nos últimos três meses. Para 27%, eles estão estáveis, ao passo que apenas 2% notaram alguma diminuição. Outros 30% não souberam responder.
Reflexo da situação econômica ainda difícil no país, apenas 18% estão em condições confortáveis, com sobra de dinheiro. A grande maioria (72%) dos consumidores brasileiros tem vivenciado uma situação de aperto com as finanças, ao ficar no limite de seu orçamento. Desses, 32% estão no ‘vermelho’ — não conseguem pagar todas as contas com os rendimentos — e 40% ficam no ‘zero a zero’, ou seja, até honram seus compromissos financeiros, mas terminam o mês sem sobras de dinheiro. Embora elevado, o número de consumidores sem sobras no orçamento já chegou a ser maior. Em maio do ano passado, esse percentual era de 80%.
Não por acaso, mais da metade (51%) dos entrevistados admitiram a intenção de cortar gastos no mês seguinte, principalmente em razão dos preços elevados (41%). Apenas 5% planejavam desembolsar mais, enquanto 37% falavam em manter os gastos no mesmo nível.
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