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sábado, 18 DE janeiro DE 2025

La vem ela, Sua Majestade, a Inflação

Estamos, novamente, enredados na famigerada inflação

Por Arilda Teixeira

Aquela senhora que se aproveitou do desdém com que o Governo Brasileiro sempre tratou o papel da política monetária para se esparramar de forma incontrolável, desde os anos 1930 subordinando a atividade econômica às suas recorrentes subidas, consolidou a concentração de renda (e a injustiça social), e acolheu tão bem os cofres públicos, o sistema financeiro, e os amigos do sistema financeiro, que eles se tornaram seus sócios.

Esse estrago foi ampliado por um equívoco de interpretação do Ministro do Planejamento do Governo Castelo Branco, Roberto Campos, que convenceu o País de que a inflação brasileira não tinha solução. Então, o que teria que ser feito era adotar um mecanismo para conviver pacificamente com ela.

Esse mecanismo foi a institucionalização da correção monetária em contratos de longo prazo. Parcialmente, o raciocínio estava correto. Sendo a inflação brasileira cronicamente alta, contratos para serem pagos a posteriori prejudicariam o credor. A correção monetária, restituiria a perda.

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O parâmetro da correção foram as ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional).

Perfeito, se não tivesse esquecido de um pequeno, mas fundamental, detalhe: correção monetária não impede a ocorrência de choques inflacionários. E, o que é pior, estando a economia inflacionada, esses choques ampliam seus efeitos negativos sobre ela.

Isso foi executado pelo segundo choque do petróleo em 1978. Que selou sua sina de economia cronicamente inflacionada até o Plano Real em 1993, que eliminou a inércia inflacionária e instituiu estabilidade à moeda brasileira. Até aí foram mais de 20 anos de baixo crescimento, dependência externa, e nenhum avanço tecnológico.

Resumindo, um erro, reconhecido pelo próprio Roberto Campos, em entrevista ao Jornal do Brasil, um pouco antes de falecer, cerceou 20 anos de economia, e tudo o mais de negativo que a uma inflação crônica e elevada pode propiciar para seus cidadãos contribuintes.

Seus males não param por aí. O Estado Brasileiro e o sistema financeiro, capitaneados pelas instituições bancárias, tornaram-se sócios da inflação – enquanto o mercado de trabalho informal disseminava subemprego e baixos salários; e o formal, baixos pisos salariais.

Atraso tecnológico, insuficiência institucional, e desigualdade social era o tripé que descrevia a economia brasileira. No final dos anos 1980 o economista Rogério Werneck a chamou de a década perdida.

Neste momento, Brasil e grande parte das economias mundiais, estão sob um choque inflacionário de custo que está elevando os níveis gerais de preços desses países.

Essa realidade confirma o que Roberto Campos compreendeu, embora tardiamente, que nenhuma economia está imune aos choques inflacionários.

A ameaça, agora, é que, novamente, a insensatez tome o País de refém, sob um discurso populista-oportunista, que coloque sob risco o compromisso com o equilíbrio fiscal e a estabilidade da moeda. Choques inflacionários vão e voltam. Mas o País precisa sobreviver a eles. Para isso não podem ser reféns do casuísmo de mentes pernósticas que assombram a gestão pública.

Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape Business School.

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