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sábado, 11 maio, 2024

Fraturas: Exposição revela vozes escondidas das mulheres

Primeira exposição solo da artista visual Geisa da Silva explora depoimentos de mulheres silenciadas, abre nesta terça (12)

“Quantas partes não foram tiradas, fraturadas das nossas histórias?”, questiona a artista visual Geisa da Silva em sua primeira exposição solo, intitulada ‘Fratura’, que convida os visitantes a refletir sobre as partes omitidas e fragmentadas nas histórias da vida das mulheres. A exposição será inaugurada nesta terça-feira (12), às 17h, e permanece em exibição até o dia 18 de novembro na Galeria Homero Massena, localizada no Centro de Vitória. A entrada é gratuita.

‘Fratura’ utiliza habilmente a interação entre luz e sombra para revelar o silenciamento das mulheres. A técnica da cartografia é empregada como elemento central, assim como a repetição de palavras que se entrelaçam, porém, muitas vezes, escapam à percepção superficial.

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Os depoimentos coletados por Geisa ao longo de três anos foram gravados nas paredes da galeria com tinta invisível, de modo que os visitantes se tornam testemunhas e têm o poder de escolher o que revelar ou ocultar à medida que projetam sua sombra sobre a luz branca, revelando a tinta por meio da luz negra.

No teto da galeria, uma sequência de cadernos em branco representa o que ainda está por ser dito. Geisa da Silva expressa a importância de trazer à tona o silenciamento das mulheres:

“É algo que toda mulher vive, então eu necessito de falar desse silenciamento. Quem silencia as mulheres e quanto a gente contribui para silenciar mulheres? Há um silenciamento das atitudes, um silenciamento do riso, em relação ao que a mulher sente também. As mulheres convivem com o silenciamento diário em nossa sociedade”, afirma a artista.

A montagem da exposição já posiciona a galeria como um espaço de acolhimento e confronto das injustiças de gênero. Durante o processo de criação, nove mulheres, incluindo a própria artista e as arte-educadoras Adriana Magro e Jordana Rosa, deixaram suas palavras nas paredes da galeria, compartilhando os relatos que Geisa reuniu desde seu projeto ‘Mapa da Violência Contra a Mulher’, realizado em 2019. Com a exposição o espaço se transforma em uma ferramenta de reflexão e empoderamento por meio da arte e da expressão. 

“As pessoas estavam escrevendo relatos na parede da galeria, relatos de assédios. Dez mulheres estavam ali escrevendo e montando uma exposição com esses relatos. Elas estavam se acolhendo, era um momento muito bonito e emocionante. Todas as mulheres ali, em alguma medida, já tinham sofrido assédio, e elas estavam se fortalecendo juntas. Foi incrível ver essa energia de acolhimento e formar uma rede de apoio caso alguém precise”, diz uma das participantes, que prefere não se identificar.

Silenciamento

A artista descreve que a exposição provoca a reflexão sobre o papel da sociedade para enfrentar as violências e silenciamentos. “Quantas vezes silenciamos mulheres? Quantas vezes contribuímos para o silenciamento? Todas as mulheres em algum momento da vida, se não toda semana, todos os dias, são silenciadas de alguma forma. A própria desinformação sobre as violências estruturais que sofremos é um silenciamento, muitas mulheres nem sabem que estão sofrendo violência, isso não seria um silenciamento? Os 2000 cadernos em brancos representam histórias não contadas, partes de nossas histórias fraturadas. Esses cadernos estão organizados, como o projeto de silenciamento: cômodo. As histórias das mulheres estão num caos, desestrutura essa estrutura que querem nos colocar, a de nós calar”, conclui Geisa.

Mapa da Violência Contra a Mulher

A pesquisa que resultou na exposição começou em 2019 com a construção do Mapa da Violência contra a Mulher, que deu origem a uma intervenção urbana pela capital e a um aplicativo disponível na loja do sistema Android, que mapeou 400 locais de assédio e violência e permite clicar nos pontos marcados e saber quais locais já foram cenário de violência e ler os registros feitos pelas próprias vítimas.

“Conheci muitas mulheres que sofreram e sofrem violência, pedia esses relatos e guardava.
Mas a exposição não se trata de pensar de quem são as histórias, mas sim, como todas nós mulheres nos vemos nas histórias umas das outras, a exposição pretende arrancar esse caráter da história de violência como algo pessoal, é um problema coletivo, por esse motivo eu trato do problema no coletivo. Não é a mulher em si contando, é um convite a se ver na história da outra mulher”, explica Geisa.

Serviço:

Fratura – de Geisa da Silva

Abertura: Terça-feira (12), às 17h
Visitação: até 18/11. Segunda, terça, quinta e sexta, das 9h às 18h; quarta, das 10h às 20h; sábado e feriados, das 10h às 16h
Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99, Cidade Alta, Centro de Vitória
Entrada gratuita

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