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sábado, 27 abril, 2024

Famílias Flintstones e Jetsons

Por André Gomyde

No ano de 1960, Hanna e Barbera lançavam os desenhos da Família Flintstones, uma típica família de classe média com suas aventuras ambientadas na Idade da Pedra. Em 1962, os mesmos autores criavam a Família Jetsons, também uma família de classe média, porém que vivia em um futuro automatizado.

Meu amigo Diógenes Casagrande, gaúcho enfronhado no tema das tecnologias voltadas para a cidade inteligente, me traz ao conhecimento uma fala de um especialista norte-americano que em uma palestra proferiu: Estamos trabalhando as cidades inteligentes para as famílias Jetsons e nos esquecendo das famílias Flintstones.

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É para refletirmos! O movimento intenso de construção de cidades inteligentes tem levado às cidades diversas soluções tecnológicas, para os mais diversos problemas cotidianos. Mas será que essas tecnologias têm ajudado a todas as pessoas, desde aquelas que vivem nos grandes centros até aquelas que vivem em áreas mais remotas; desde os mais ricos até os mais pobres?

Durante a pandemia nós observamos que aqueles mais pobres tiveram muito mais dificuldade de marcar suas vacinações do que os demais. O analfabetismo digital é grande ainda na nossa população. Houve mutirão para ajudar as pessoas e até mesmo os postos de saúde precisaram ajudar na marcação, que foi feita online, utilizando tecnologia.

Relatou-me uma amiga da Defensoria Pública da União os incontáveis problemas sofridos por pessoas carentes, quando a justiça marca audiências remotas, online. O Juiz, o Promotor e o Advogado conseguem fazer tais audiências de suas casas, com bom computador e boa conexão. O réu ou a testemunha, se é pobre, não tem a mesma condição. Infelizmente, nem sempre o bom senso prevalece e essas pessoas acabam prejudicadas.

Poderíamos relatar aqui diversas situações nas quais o uso da tecnologia aumenta a desigualdade social, mas é mais importante que a gente proponha ao menos uma solução.

A solução que eu gosto e acredito é a que já estamos utilizando no Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis – IBRACHICS, qual seja a de organizar a governança da cidade e trazer a sociedade para debater e priorizar como e quais tecnologias devam ser adotadas e com quais finalidades.

Temos uma metodologia premiada que acaba com a gestão por silos, ou ilhas de poder, e a transforma em uma gestão multissetorial integrada. Essa metodologia envolve toda a cidade, por meio de seus representantes comunitários, empresariais, acadêmicos e agentes públicos que juntos constróem uma cidade tecnológica, verdadeiramente transformadora, inclusiva e duradoura, compreendendo as particularidades e os elos que conectam cada pedaço da cidade e de seus moradores. Tem sido gratificante ver os resultados sendo construídos, especialmente a transformação que vai acontecendo na vida das pessoas.

É fundamental que os Prefeitos entendam que apenas implementar tecnologias pode dar um pouco mais de votos, mas não leva a lugar concreto nenhum. É preciso se organizar, planejar e implementar da forma correta, garantindo que todo esse processo seja sustentável no longo prazo, trabalhando-se também para as famílias Flintstones e não somente para as famílias Jetsons.

 

André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis; Mestre em administração pela FCU, nos Estados Unidos; foi membro do Juri do World e-Government Award na Coreia do Sul e é autor e coautor de cinco livros sobre o tema das cidades inteligentes.

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