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sábado, 4 maio, 2024

Expectativa x realidade: a dança da economia

Por Orlando Caliman

É comum em finais de ano fazer-se uma retrospectiva do que ocorreu no transcorrer do ano que se finda. Um procedimento que normalmente antecede as análises e incursões prospectivas. Uma lógica que nos parece tomar como suposto o potencial de influência que o ano precedente pode carregar para o ano seguinte. Lógica de conexões de aconte-cimentos que nem sempre tem se mostrado eficiente. Basta confrontarmos os “insigths” prospectivos de consenso do mercado produzidos no final de 2022 com o que efetiva-mente aconteceu em 2023.

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O ano corrente surpreendeu em muitos aspectos. Mesmo na política, que é por onde pas-sam as grandes definições e decisões que tocam no dia a dia das pessoas, mas mais acentuadamente no mundo da economia, o cenário que se desenhava no final de 2022, obviamente sob a influência de um ambiente conturbado pela forte polarização, não se confirmou. Fato que explica em grande medida a frustração das expectativas no campo da economia, que trabalhavam com a perspectiva de um crescimento de apenas 0,8%.

O Boletim Focus do Banco Central é uma excelente fonte de informação a nos auxiliar numa análise da dinâmica do humor da instituição chamada mercado. Isso porque nos mostra em números o “estado” das expectativas e percepções médias de agentes econô-micos em sucessivos cortes temporais. Especificamente em 25/11/2022, por exemplo, ha-via um certo consenso de que a economia cresceria 0,8% em 2023; que a Selic, taxa bá-sica de juros, chegaria no final de 2023 a 13,75%; o câmbio a R$ 5,27 e o IPCA a 5,9%. Hoje, um ano após, o PIB chega a 2,84%, o câmbio a R$5,00, o IPCA a 4,53 – com pers-pectiva de queda -, e a Selic a 11,75, em queda.

O que explicaria, então essa mudança de humor? É inegável que temos aí uma parcela de contribuição do que poderíamos chamar de “carry over” – carregamento do passado -, principalmente proveniente da política monetária, que embora restritiva do ponto de vista do crescimento, possibilitou a queda da inflação. Isso ajudou no retorno do consumidor ao mercado, acionando o PIB do lado do gasto. Basta observarmos o desempenho do comércio em geral e dos serviços.

Mas, o grande fator deflagrador do processo de reação da economia vem do lado das ex-pectativas. E estas dizem respeito principalmente ao que acontece na política e nos seus desdobramentos em leis, medidas, reformas e ajustes. E nesse aspecto, mesmo que não totalmente a contento ou atendendo ao desejado, avanços ocorreram. O novo arcabouço fiscal, por exemplo, fez reduzir as tensões em relação à questão da estabilidade, condição fundamental para o crescimento. Assim como também a sinalização do déficit primário zero para o próximo ano, mesmo admitindo-se como de difícil execução. A reforma tributá-ria, que permaneceu no prelo por mais de 30 anos, também é um bom sinalizador.

Se para o Brasil o ano de 2023 pode ser considerado de bons resultados, o mesmo po-demos afirmar em relação ao Espírito Santo. No caso específico do estado capixaba, pri-meiramente pelo fato de ser bem resolvido: um estado que está pronto para crescer e de forma crescentemente acelerada.

O ano, como um todo, tem sido bom para o Espírito Santo, mesmo com o PIB talvez apre-sentando um desempenho inferior ao nacional. Mas, eu pessoalmente tenho o hábito de não dar atenção ao PIB enquanto uma cifra agregada, em razão de certas especificidades que não vale aqui expor. Prefiro o olhar sobre o emprego – e este tem tido um bom de-sempenho.

O Espírito Santo deverá chegar ao final do ano com mais de 850 mil em esto-que de empregos, algo em torno de 50 mil acrescidos em 2023. Ou seja, um crescimento de 6,5% em relação ao ano anterior – fato que reforça a minha tese de que o emprego é inelástico em relação ao PIB. No Espírito Santo, é importante esclarecer.

Esse olhar retrospectivo parece-nos ainda não se refletir totalmente nas expectativas para o próximo ano, principalmente sobre o PIB, cuja projeção do mercado aponta para apenas 1,5%. O que se espera é que essa expectativa seja frustrada pelos acontecimentos, como ocorrido em 2023.

Orlando Caliman é economista, empresário e membro do conselho deliberativo do Espírito Santo em Ação.

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