O Brasil ainda não dimensionou a extensão das mudanças necessárias às estruturas produtivas e relações de mercados. Tem muita retórica e pouca ação
Curiosamente, as duas primeiras décadas dos anos 2000 vêm seguindo rotina da geopolítica mundial similar à de suas equivalentes de 1820 e 1920. Disputa de Estados por poder de mercado através de discurso nacionalista e políticas comerciais protecionistas.
Lá, o núcleo do embate era a dificuldade dos Estados para lidarem com a maior interrelação entre os mercados. E isso os levou à estratégia beggar thy neighbor policies. Como resultado, no frigir dos ovos, a I Guerra e a Grande Depressão.
Na sequência, também entre guerra, veio a disputa por hegemonia de poder entre dois sistemas econômicos: capitalismo e socialismo. assim, ditando a economia política das relações internacionais da segunda metade do século XX.
Estados e mercados
Agora, o embate é intra sistema econômico. O explícito entre EUA e China; os implícitos, entre China-Russia e EUA-União Europeia. E correndo na raia de fora, EUA e Oriente Médio.
Dentro de uma perspectiva histórica, todos nada mais são do que mobilização de antigos Impérios para resgatar hegemonia pregressa.
Mas, independentemente dos antecedentes dos embates, e de que agora são intra sistema, a ameaça que trazem é equivalente à do passado. Há guerras, extermínios, segregação racial, e instabilidade econômica. A repetição dos erros do passado é um obstáculo para o presente da 4ª Revolução Industrial (4RI).
Se estamos sob a égide de um novo paradigma, é natural que os esforços se direcionem para se adaptar a ele. Mas é também necessário dimensionar a extensão das mudanças que virão – de capital físico, humano e das instituições.
O que preocupa é que, na prática, o processo ainda é errático e muito arraigado aos padrões equivocados do início do século XX.
Novos parâmetros
Se mudou o contexto, é preciso mudar os parâmetros. Mas, não é o que se sucede.
Com isso, desencadeiam disputas que subestimam a perspectiva global que mudanças dessa natureza exigem. O padrão de produção e comercialização que a 4RI instituiu está em outra dinâmica – que os Estados também precisam se adequar.
Na era da informação, a proteção de um mercado estará mais em sua capacidade de inserir-se na cadeia produtiva mundial do que proteger empregos domésticos. Os mercados que liderarão a economia do século XXI não serão os protegidos. E sim, os integrados na rede mundial.
Infelizmente, pelos fatos e retóricas testemunhados, muitos Estados ainda não dimensionaram a extensão das mudanças que deverão passar. Nem em suas estruturas produtivas, nem em suas relações de mercados.
O Brasil é um deles. Tem muita retórica e pouca ação. Sequer esboçou a política de Estado para enfrentar o novo paradigma. Igualmente para corrigir as distorções técnicas, sociais, e econômicas domésticas, que dificultam chegar a ele.
Ainda não entendeu que, nesta era, o poder político na esfera mundial ficará nas mãos daqueles que acharem o caminho das pedras para interagir com o padrão tecnológico instituído.
O nome deste caminho é Conhecimento. Que se adquire com um sistema de ensino eficiente. Que o Brasil não tem. E a permanecer nessa direção, está fadado a manter-se na rabeira da economia mundial como o eterno País do futuro.
Arilda Teixeira é doutora em Economia e professora da Fucape