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quinta-feira, 5 DE dezembro DE 2024

Entrevista com Renato Casagrande, Governador do Espírito Santo

“O Espírito Santo hoje é um Estado respeitado no Brasil; com instituições fortes, bom ambiente de negócio e capacidade de dialogar com a sociedade capixaba”

Por Patrícia Battestin

Renato Casagrande acaba de completar 62 anos e se mostra preparado para exercer o terceiro mandato à frente do Palácio Anchieta. “Estou cheio de energia para começar em janeiro, como se estivesse no primeiro dia do primeiro Governo, que comecei lá em 2011.”

O governador, que na vida pública já atuou também como deputado estadual, deputado federal, senador e vice-governador, foi reeleito após vitória no segundo turno, em outubro. Casagrande e o vice-governador Ricardo Ferraço foram diplomados no dia 19 de dezembro, em solenidade no Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES).

Em sua fala, ele destacou a confiança no processo eleitoral. “As instituições foram valentes, fortes e resistentes. Conseguimos enfrentar, vencer e ultrapassar os maiores ataques que as instituições civis sofreram desde a redemocratização do Brasil. Esse trabalho da Justiça Eleitoral merece todo o nosso aplauso”, disse.

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Casagrande acrescentou: “Chego ao final deste processo eleitoral da mesma forma que comecei, olhando para a frente, com foco no futuro e no tanto que ainda temos que fazer para melhorar a vida de nossa gente. Consciente dos desafios que temos pela frente, mas também com a certeza de que, unidos, somos capazes de vencê-los e chegarmos sempre mais longe. O futuro do Espírito Santo está acima das nossas diferenças. Serei mais uma vez o governador de todos os capixabas. Não há mais espaço para divisões nem tempo a perder”.

Esta é a primeira vez, nos últimos 28 anos, que o governador do Espírito Santo é definido somente no segundo turno. “Eu nunca tinha passado uma eleição tão complexa e sofisticada como esta, porque o ambiente nacional foi muito presente na disputa local”, ressaltou. Confira a íntegra da entrevista exclusiva concedida à ES Brasil:

A que o senhor atribui a vitória nas urnas?

São muitas mãos, muitas variáveis. Nunca tinha passado por uma eleição tão complexa e sofisticada como esta, porque o ambiente nacional foi muito presente na disputa local. Então, foi uma eleição difícil que a gente enfrentou. Eu atribuo às pessoas, por me darem a oportunidade de governar o Estado pela terceira vez. Afinal, não são todos os capixabas que estão na política e têm essa oportunidade.

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“O ES tem instituições fortes, bom ambiente de negócio e capacidade de dialogar com a sociedade capixaba” – Foto: William Girelli

Atribuo, também, ao meu trabalho, à minha história, à coerência política, à dedicação ao trabalho. E à ampla aliança que fizemos nesta eleição, incluindo com o PSDB na vice-governadoria, com o Ricardo Ferraço, com partidos mais conservadores, menos conservadores e mais progressistas, com PT, PV, PCdoB; mas também com o PP, que é mais conservador, e outros que vieram no segundo turno, como União Brasil, Podemos e MDB, com a senadora Rose de Freitas.

Essa ampla aliança demonstrou que temos capacidade de dialogar com todas as forças políticas, independentemente do ambiente nacional, e que lutaríamos e lutaremos pela pacificação deste país para sairmos deste enfrentamento, desta disputa permanente nestes últimos quatro anos.

História, aliança ampla, proposta apresentada na campanha, isso tudo me fez, mais uma vez, conquistar a confiança da maioria da população capixaba. Quero aproveitar este momento, inclusive, para agradecer. Muito obrigado, vou honrar essa confiança trabalhando muito. Eu sou de uma comunidade rural do interior de Castelo, morei lá até os 10 anos de idade e nunca imaginei ser político. A população me deu agora três vezes o direito de governar este Estado. Tenho que ser grato, primeiro, a Deus, pela oportunidade, e à população, porque gosto da atividade política, gosto de realizar as coisas, de enfrentar desafios. Faço isso com leveza, sem sentir como um fardo que carrego no dia a dia.

No Espírito Santo, a eleição vinha sendo decidida no primeiro turno havia 28 anos. O que aconteceu desta vez?

Foi essa polarização nacional. Tivemos a eleição mais disputada do Brasil após a redemocratização. A mais apertada que tivemos para a Presidência da República: dois milhões de votos de diferença. E isso interferiu aqui no Estado. Há duas questões que quero colocar como curiosidades. A primeira: o Espírito Santo foi o único Estado do Brasil onde o presidente Bolsonaro é forte – e a gente tem que reconhecer que ele é forte aqui – e que não elegeu o candidato vinculado diretamente ao 22. A outra curiosidade é que, desde que houve a redemocratização do país e começou a haver eleição para governador, com o pleito em dois turnos, tive a honra, o desafio, de participar dos dois segundos turnos que este Estado teve para governador. Eu fui vice-governador de Vítor Buaiz, na época em que disputamos com o saudoso Cabo Camata e, agora, disputei a reeleição.

Qual foi o momento de maior tensão nesta eleição?

Acho que foi do primeiro para o segundo turno. Não foi um momento de tensão, mas um momento que exigiu exercer a minha liderança, porque todas as pesquisas… pode ser que uma ou outra não, mas 95% das pesquisas me davam a vitória no primeiro turno. A onda do presidente Bolsonaro chegou no final do primeiro turno. Ele cresceu e fez crescer os candidatos ligados a ele. Não havia uma previsão de dois turnos, mas aconteceu. E isso exigiu exercer o papel de líder naquele momento para poder reanimar as lideranças, nossa militância, para enfrentar o “longo” segundo turno. Esse foi o momento mais desafiador.

Qual a expectativa para o próximo mandato tendo Lula na Presidência?

A expectativa é de diálogo mais próximo. Não que não tenhamos diálogo com a equipe do presidente Bolsonaro, que tem um estilo diferente de governar: ele delega tudo aos ministros. Então, tive boa receptividade com os ministros. Não estou aqui fazendo nenhuma reclamação, mas o estilo do presidente Lula é diferente: ele já vai reunir os governadores em janeiro; a gente tem uma relação mais histórica, mais antiga, com diversos ministros que vão ocupar funções.

Rui Costa, que vai assumir a Casa Civil, eu sou governador com ele, hoje; Flávio Dino, futuro ministro da Justiça, eu fui governador com ele, que hoje é senador; Zé Múcio (José Múcio Monteiro), fui deputado federal com ele. A gente tem um conhecimento de mais tempo com essas pessoas, de convivência, que me permitirá conversar mais de perto sobre os interesses do Espírito Santo.

E o secretariado aqui no Estado, o senhor já definiu?

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“O Espírito Santo hoje é um Estado respeitado no Brasil” – Foto: William Girelli

Ainda não estão todos colocados, mas já estão todos na minha cabeça. Lógico que tem ainda conversas com partidos, com lideranças, mas já anunciamos alguns. O futuro Governo será um Governo renovado. Isso significa que a gente vai manter uma boa base atual, mas vai trocar algumas peças por necessidade de novas lideranças que chegam, novos aliados. A gente quer que as pessoas compreendam que é um novo Governo que vai aproveitar tudo de bom que a gente tem na gestão atual do Governo mais bem avaliado do Brasil.

É bom que a gente diga sempre isso. É preciso ter energia nova para enfrentar os próximos quatro anos como se fossem o primeiro ano do primeiro Governo. Estou cheio de energia para começar em janeiro como se estivesse no primeiro dia do primeiro Governo, que eu comecei lá em 2011. Quero que toda a minha equipe, os que continuam e os que vão entrar, tenha essa compreensão clara da necessidade de a gente ter muita energia para trabalhar para a população capixaba.

Em meio a essa polarização, como fica o relacionamento com as bancadas federal e estadual?

Tenho todo um esforço para que a gente possa garantir uma relação muito boa com a Assembleia Legislativa. Há diálogo com quase todos os deputados, menos com aqueles que não querem ter relação comigo e com aqueles que me desrespeitam. Da mesma forma, me relacionarei com deputados e senadores. Tenho plena convicção de que vamos conseguir construir uma boa convivência, de interesse dos capixabas.

Nunca ninguém me viu desrespeitando qualquer liderança e não desrespeitarei, mas o respeito tem que ser uma via de mão dupla. O respeito deve fazer parte das manifestações. Elas podem ser manifestações divergentes ou coincidentes, mas precisam ser, especialmente quando são divergentes, respeitosas. E é assim que vou lidar, como sempre lidei, com a bancada estadual e com a bancada federal.

Sai Jacqueline Moraes, entra Ricardo Ferraço. Na prática, o que muda?

Bem, estou levando prejuízo: vai a Jacqueline e vem o Ricardo (risos). Brincadeira com eles. São dois vices de extrema qualidade. A Jacqueline é uma pessoa extraordinária, me ajuda muito, vai continuar me ajudando no próximo Governo, especialmente na política das mulheres. E o Ricardo, que já chega com toda a sua experiência, já foi deputado estadual, deputado federal, vice-governador, senador. Conhece o ambiente político capixaba, conhece o ambiente político brasileiro. Ele me ajudou na campanha, está me ajudando na transição e vai me ajudar muito no Governo. Será o secretário de Desenvolvimento, vai me ajudar a coordenar o Governo todo, em especial essa área.

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“Tenho que ser grato, a Deus, pela oportunidade, e à população, porque gosto de realizar as coisas, de enfrentar desafios” – Foto: William Girelli

Neste ano, de repente, deparamo-nos com uma nova onda da Covid. Como foi isso?

Foi um ano diferente dos outros três, porque teve a eleição, que acaba polarizando e tensionando o ambiente político. Polarizou nacionalmente, repercutiu na Assembleia Legislativa, na bancada federal, na sociedade. A gente teve que cuidar disso, exigiu muita paciência, muita tolerância. E, apesar de a gente ter tido (e estar tendo), de novo, uma onda de Covid-19, graças ao bom Deus, às medidas adotadas em nosso Governo e às vacinas, os efeitos e as consequências da pandemia são menores.

Mas a gente está tendo que cuidar desse assunto. O gratificante é que foi um ano em que as coisas boas que fizemos durante toda a pandemia vieram à tona no debate eleitoral. Porém, foi um ano também em que quem discordou das minhas medidas adotadas para enfrentar esta crise sanitária sem precedentes foi muito aguerrido nesse enfrentamento.

E qual o balanço deste ano?

Estamos chegando ao final de 2022 com saúde e com um Governo de muitos resultados. Isso é o que importa. Mesmo com dois anos intensos de pandemia, que ainda não acabou, a gente chega ao final deste mandato, na área de segurança pública, por exemplo, com os melhores quatro anos, em termos de número de homicídios. Comparando os quatro anos do meu Governo com os outros anos dos Governos anteriores, inclusive os meus, de 2011 e 2014, foi o melhor mandato com relação ao número de homicídios no Estado do Espírito Santo. Não é nada para comemorar, é um registro que fazemos, porque estamos no caminho de redução de violência.

Conseguimos terminar o ano de 2022 como o terceiro melhor em educação do Brasil; éramos o segundo, estamos em terceiro hoje, porque não fizemos aprovação automática, como outros estados fizeram.

Terminamos o ano com a segunda maior longevidade deste país e com a menor mortalidade infantil do Brasil; com a maior segurança alimentar nacional; com a gestão fiscal, de nota máxima, há 10 anos. E ainda com o maior volume de investimento da história do Espírito Santo: chegamos a R$ 7,6 bilhões de investimento em infraestrutura. Demos saltos gigantescos em relação a diversas áreas.

A sensação é de dever cumprido?

Dever cumprido, sim. Sabendo que teve resultado e que vamos continuar tendo, nos próximos quatro anos. O Espírito Santo hoje é um Estado respeitado no Brasil; um Estado com instituições fortes, com bom ambiente de negócio, com capacidade de dialogar com a sociedade capixaba. E isso é muito importante.

O que será prioridade no próximo Governo?

Naturalmente, as prioridades vão se acentuar. Vamos fazer um esforço muito grande para continuar o caminho da melhoria da qualidade em educação. A educação é o centro, o pilar do nosso projeto. Tem sido e será cada vez mais, nos próximos quatro anos. Compreendemos que a educação é o caminho para termos um Estado mais justo, o caminho mais curto, na verdade, o único caminho que temos.

Quais serão os focos para atingir o alto padrão de qualidade?

Vamos avançar muito na educação profissional. Temos que ampliar a formação profissional, seja com relação a cursos técnicos concomitantes ao ensino médio, posterior ao ensino médio; seja com formação profissional mais rápida, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Formação Profissional. Teremos capacidade para avançar muito na educação, com muito investimento também nos municípios. Vamos fazer muito investimento em inovação, a fim de produzirmos tecnologia e não sermos apenas consumidores de tecnologias desenvolvidas fora do Espírito Santo. Queremos ser um grande fornecedor de soluções tecnológicas para o país e para o mundo.

E quanto à sustentabilidade e ao turismo?

Vamos avançar muito na sustentabilidade, precisamos preservar os recursos naturais, reduzir as emissões de carbono. Vamos concluir o Plano de Neutralidade de Carbono, o Programa Estadual de Mudanças Climáticas. Teremos investimentos fortes em educação, inovação e sustentabilidade.

Vamos divulgar muito o nosso Estado, que precisa estar preparado para receber turistas.

Faremos divulgações em campanhas nacionais para mostrar o potencial e as rotas turísticas, como nós temos hoje, das montanhas, do mar. Enfim, vamos dar sequência ao Estado com capacidade de investir em infraestrutura. Vamos continuar investindo em segurança pública, mas ressalto essas áreas da educação, inovação, sustentabilidade e turismo como importantes para, de fato, darmos ainda mais destaque nos próximos quatro anos.

Encerrando o ano, há boas notícias para a saúde?

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“Vamos avançar muito na sustentabilidade, precisamos preservar os recursos naturais, reduzir as emissões de carbono.” – Foto: William Girelli

Nós avançamos em mais uma nova fase do Plano Decenal de Atenção Primária à Saúde, com a entrega do Projeto Executivo para a construção de unidades básicas de saúde em todas as regiões de saúde do Estado. Uma iniciativa para promover a ampliação, modernização e humanização das unidades. Garantimos R$ 177,3 milhões para o custeio integral do projeto, contemplando 52 municípios que solicitaram habilitação para construção de 111 novas unidades. Desse total, 66 seguirão o projeto arquitetônico desenvolvido pela Secretaria Estadual de Saúde; 14, o projeto desenvolvido pelo Ministério da Saúde; e 31, o projeto desenvolvido pelo próprio município.

No início do nosso Governo, o Espírito Santo figurava como um dos piores estados em relação à cobertura da Atenção Primária à Saúde. Agora, estamos entre os mais bem colocados. Queremos dar mais esse passo no fortalecimento da rede primária. No meu primeiro Governo (2011-2014), construímos 67 unidades de saúde e agora vamos construir 111 novas unidades. Nós fomos eleitos para melhorar a vida das pessoas que mais precisam. É muito importante manter o Estado organizado para que possamos continuar essa parceria com os municípios em todas as áreas.

Enumere três pontos principais do seu Governo em 2022.

O que vou enumerar, em 2022, não significa que vai perder energia em 2023. Hoje, temos muitos investimentos em segurança pública, infraestrutura e saúde, e que vão continuar. Agora, como disse, vamos dar muito destaque à educação, à inovação e à sustentabilidade.

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