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sexta-feira, 26 abril, 2024

Crise hídrica: alternativas, inovações e tecnologias são fundamentais (II)

É imperativo serem buscadas alternativas, inovações e melhores tecnologias para se conviver com os efeitos das mudanças ambientais, que ajudem mitigar os impactos socioambientais e contribuam para garantir a biodiversidade os ciclos da vida e as condições produtivas

Por Luiz Fernando Schettino

O desenvolvimento sustentável pressupõe dois aspectos básicos: lidar com a fragilidade complexidade dos ecossistemas e finitude dos recursos naturais; e com alternativas tecnológicas aos seus usos e substituições, visando economizar recursos naturais e financeiros e ainda serem ambientalmente mais adequadas, viabilizando o funcionamento das atividades econômicas. E, isto feito com o devido respeito às leis, realizando educação ambiental e baseado no entendimento do limite dos recursos ambientais e tecnologias, passa-se então a ter condições de se estabelecer as ações socioeconômicas sobre estes aspectos e de forma orientada para respeitar os limites e capacidades suportes dos recursos ambientais, ao invés de continuar, com premissas irreais, como se pressupunha até recentemente, de que o crescimento econômico podia ocorrer por longo prazo, mesmo com a degradação ambiental. O que é sabido não ser possível, desde o início dos anos 1970, quando foi elaborado o relatório intitulado “Os Limites do Crescimento”. Estudo realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT (EUA), a pedido do “Clube de Roma”, um grupo de cerca de 20 personalidades da época, que se reuniam para avaliar questões de ordem política, econômica e social com relação ao meio ambiente¹.

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O referido estudo apontou que o crescimento econômico não se sustenta no longo prazo, sem preocupação para com a proteção ambiental e o uso racional dos recursos naturais. O que causou grande repercussão e muitas críticas à época, mas quase 50 anos depois “as principais conclusões do relatório ainda são válidas, de acordo com um grupo de pesquisadores independentes”, que atualizaram o trabalho realizado em 2018, usando as ferramentas científicas mais avançadas disponíveis².

O que reforça que as metas de proteção ambiental para estabilizar o clima, reduzir a poluição e manter a biodiversidade visando manter a qualidade de vida e tornar o modelo socioeconômico vigente sustentável, se ocorrerem somente “através de ações e instrumentos convencionais”¹, ², se dará “às custas de uma exploração insustentável de recursos naturais, como a água, solo e energia”¹ ². Ou seja, a reanálise recente diz que o “recado do relatório de 1972” continua atual e, se não houver mudanças reais e rápidas na relação do ser humano com a natureza, dificilmente se alcançará no tempo necessário, as soluções para os problemas socioambientais que afligem a humanidade, com o risco de que se tornem insolúveis.

Neste sentido, é imperativo serem buscadas urgentemente alternativas factíveis, inovações e melhores tecnologias para se conviver com os efeitos das mudanças ambientais, para que ajudem mitigar os impactos socioambientais e contribuam para garantir a manutenção da biodiversidade, dos ciclos da vida e das condições produtivas, tão necessárias para atendimento das demandas da sociedade em sua busca por qualidade de vida, especialmente após os impactos socioeconômicos além de sanitários da pandemia do coronavírus. Ou seja, diante dos efeitos das mudanças no funcionamento da natureza e da sociedade causadas pela degradação ambiental e pelas alterações climáticas, é preciso de ações e instrumentos fortes e muita cooperação para amenizar os efeitos das mudanças ambientais causadas pela degradação ambiental e pelas alterações climáticas.

Aspectos claros no caso do suprimento de água, tanto para abastecimento humano, quando para os setores rural, industrial e de serviços que estão sendo afetados em todo o mundo pela escassez hídrica ou pela redução da qualidade da água existente em face da poluição. Neste sentido, é fundamental promover ações visando mitigar ou não impactar ainda mais os “corpus de água”, especialmente rios, córregos, lagos e nascentes; assim como as águas subterrâneas, que devem ser priorizadas para o abastecimento humano, de animais e para produção agropecuária e de outros itens essenciais para a sociedade.

Nesse esforço, além de tecnologias que reduzam o uso de água é fundamental que seja adotado em larga escala o reuso das águas de uso doméstico e de setores produtivos, a utilização de águas oriundas de tratamentos de esgotos domésticos e industriais, a captação de águas de chuvas, a dessalinização de águas do mar, onde for possível e competitivo.

Ressalta-se que o processo de dessalinização da água do mar, que já ocorre em dezenas de países do mundo, entre os quais se inclui o Brasil, com destaque para a Região Nordeste. No Espírito Santo é alternativa nova de atendimento da demanda industrial de água, visto que só passou recentemente a ter essa alternativa. Mas que a mesma, porém, já chega com destaque por ser a maior planta de dessalinização da água do mar com fins industriais do território nacional, com capacidade inicial para dessalinizar 500 m³ de água por hora, ou 140 litros por segundo de água do mar, o que daria para atender cerca de 80 mil pessoas por dia e com possibilidade de ampliar, no futuro, para 1.500 m³ por hora conforme informações da própria Cia. Siderúrgica ArcelorMittal, segundo publicações de Notícias Uol, em 10/09/2021 e do Jornal Valor Econômico, em 06/10/2021. ³,4.

Destaca-se que o Espírito Santo tem enfrentado problemas históricos com estiagens, o que se tornou ainda mais sério nos últimos tempos com as mudanças climáticas. O que se tem tornado cada vez mais crítico, em anos de menor pluviosidade o atendimento das demandas de água tanto para uso doméstico quanto para os setores produtivos, com destaque para o meio rural.

O que vem sendo buscado ser superado com adoção de políticas mais efetivas de proteção ambiental, principalmente nas ações de manutenção e ampliação da cobertura florestal, investimentos em novas tecnologias, incentivo à construção de barragens no meio rural e ao reuso de águas, assim como, o aproveitamento de águas de tratamento de esgotos domésticos, como já dito, entre outros. E agora contando com mais essa alternativa de dessalinização da água do mar, o que se acredita poderá ajudar em muito reduzir a dependência, principalmente industrial, das águas dos nossos mananciais e, além disso, ser um exemplo importante para outros empreendedores.

Dentro desse contexto, é fundamental que haja a compreensão da necessidade do respeito às leis, de ações baseadas no conhecimento científico e do papel, cada vez mais importante, que a busca por alternativas viáveis e a busca por inovações, o uso das melhores tecnologias e de uma boa gestão ambiental para que o desenvolvimento possa se tornar de fato sustentável. E assim, ocorra a construção de um caminho lógico e racional que possa proteger os recursos ambientais e criar ações permanentes de construção de um futuro em que o equilíbrio e os cuidados com a natureza estejam sempre presentes em cada ação humana.

Luiz Fernando Schettino é Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Ciência Florestal Ex-Secretário de Meio ambiente e dos Recursos Hídricos do Espírito Santo/SEAMA

 

Referência Bibliográficas que fazem parte deste artigo:

  1. Fonte: Clube de Roma e o relatório “Os limites do crescimento” (1972). Pensamento Verde. Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/clube-romarelatorio-limites-crescimento-1972/
  2. Fonte: Gloomy 1970s predictions about Earth’s fate still hold true. Nature Journal Information – NEWS ,18 October 2018. https://www.nature.com/articles/d41586-018-07117- 2?utm_source=briefing- wk&utm_medium=email&utm_campaign=briefing&utm_content=2018101 9
  3. Fonte: Maior planta de dessalinização do país entra em operação no Espírito Santo. Conteúdo de autoria de ArcelorMittal. Publicado por Notícias Uol em 10/09/2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/conteudo-de-marca/2021/09/10/arcelormittalmaior-planta-de-dessalinizacao-do-pais-entra-emoperacao.htm?utm_source=uol&utm_medium=nativedeconteudo
  4. Fonte: Brasil ganha maior planta de dessalinização de água do mar. Conteúdo de autoria de ArcelorMittal. Publicado pelo Jornal Valor

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