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quinta-feira, 25 abril, 2024

Covid longa afeta o sono e a saúde dos brasileiros 

70% tinham alteração no sono três ou mais vezes por semana e 80% relatam alguma queixa relacionada à saúde mental

Por Jessica Polese

Em pesquisa promovida pela Associação Brasileira do Sono e publicada em maio na Sleep Science, avaliaram-se aspectos de qualidade e duração do sono durante a pandemia em 6.360 pessoas em todo o país.

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Foram observadas dificuldades para iniciar ou manter o sono, bem como o despertar precoce. Também foi investigado quem tem pesadelos, ronco, apneia do sono, bruxismo, sonambulismo e síndrome das pernas inquietas, além de questões relacionadas à saúde mental como ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout.

Na pesquisa, verificou-se que 70% tinham alteração no sono três ou mais vezes por semana e as dificuldades enfrentadas eram para iniciar o sono, pegar no sono e o despertar precoce, antes do horário. Além disso, 80% dos entrevistados relataram alguma queixa relacionada à saúde mental, e 50% tinham sintomas relacionados à depressão, sendo que em 20% deles esse sintoma durou mais da metade do dia e 29% referiam-se a isso acontecer durante quase todo o dia. Ansiedade e preocupação excessiva foram encontrados em 58% dos participantes e 26% se sentiam assim mais da metade do dia, enquanto 32% afirmaram que isso ocorria por quase todo o dia.

O alarmante do estudo é que apenas um terço desses indivíduos que apresentavam sintomas relacionados à ansiedade e depressão procurou atendimento médico. Portanto, seguem sem tratamento ou intervenção.

Existe um subdiagnóstico de pessoas doentes que não procuraram orientação médica e prolongaram o problema que agora tende a ser visto nos consultórios como uma das sequelas da Covid e que nós denominamos como covid longa ou covid crônica.

É preciso estar atento aos problemas de saúde que os distúrbios de sono podem causar, como a vulnerabilidade a infecções virais, o desequilíbrio inflamatório oxidativo/antioxidante, as doenças metabólicas e cardiovasculares crônicas, como diabetes e obesidade, entre outras.

Pesquisas como essa tornam mais visíveis as necessidades da população que sobreviveu à pandemia e, com isso, direcionam o cuidado com a saúde para esse importante problema que atingiu a população.

Para ter mais saúde e desempenhar bem as atividades é necessário amparo psicológico e psiquiátrico para todos. Os problemas psiquiátricos e do sono afetam diretamente o bem-estar e a produtividade, sendo grandes os prejuízos individuais e coletivos.

Foram muitas as perdas de entes queridos, as perdas financeiras, além da situação de medo vivenciada durante a pandemia. Para o retorno às atividades no pós-pandemia, seja para o trabalho ou para a escola, estão retornando indivíduos emocionalmente e psicologicamente doentes, afetando diretamente o bem-estar individual e, coletivamente, reduzindo a produtividade, com necessidade de afastamentos e faltas ao trabalho, bem como maior risco de acidentes.

São necessárias, de um lado, uma conscientização da população sobre a necessidade de buscar atendimento profissional e, de outro, a criação de políticas públicas que facilitem a abordagem e o tratamento desses indivíduos, a fim de mitigar sofrimento e perdas financeiras decorrentes desse adoecimento da população.

Jessica Polese é pneumologista, especialista em Medicina do Sono e atual presidente da Associação Brasileira do Sono (Regional ES).

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